Uma nova fabricante de chassis de ônibus ingressou no mercado brasileiro. Não é desconhecida – ao contrário, tem enorme experiência no segmento de carroçarias: a gaúcha Volare agora monta um microônibus completo em sua fábrica capixaba de São Mateus, o Cinco.
A necessidade de desenvolver e produzir o chassi surgiu do objetivo traçado pela Volare com o novo modelo. A companhia mirava um segmento ainda inexplorado do mercado, um misto de van com microônibus. “Queríamos criar um novo segmento de mercado, o dos veículos compactos”, explicou Gelson Zardo, diretor-geral da Volare. “É integral. Não consideramos o Cinco um ônibus nem um microônibus, tampouco uma van. Trata-se de um conceito inédito para transportar pessoas.”
Não havia na indústria nacional um chassi que atendia a esse desejo. A solução, portanto, foi começar do zero. Para auxiliar neste desenvolvimento de um novo chassi, a Volare contratou Renato Mastrobuono, engenheiro com grande experiência na indústria – já passou por Volkswagen Caminhões e Ônibus, atual MAN, Iveco e outras montadoras.
Após algumas reuniões onde foram apresentados os objetivos do produto, o executivo chegou a uma conclusão: “Precisamos ‘enchassizar’ essa carroçaria”.
Duas equipes passaram, então, a trabalhar em paralelo: Caxias do Sul, RS, debruçou-se sobre a carroçaria e São Paulo, com a liderança de Mastrobuono, desenvolvia o chassi. A iniciativa é incomum no mercado brasileiro, acostumado a montar carroçarias que se encaixem no chassi fornecido – a própria Volare usa produtos Agrale e Mercedes-Benz em seus outros modelos.
Pouco mais de um ano depois a solução foi apresentada: uma carroceria tubular com 6,7 metros de comprimento, 2,7 m de altura e pouco mais de 2m de largura, sobre um chassi Volare, o primeiro da história, equipado com motor Cummins ISF 2,8 litros e transmissão mecânica Eaton FSO 4505 C, de cinco marchas.
Em três configurações internas, capaz de transportar treze ou dezesseis passageiros nas versões executivas ou até vinte na escolar, o Cinco passou por diversos testes em São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Chile antes de chegar ao mercado, com vistas à certificação de segurança, robustez e qualidade.
A Volare procurou também garantir o conforto do motorista, colocando o motor na parte dianteira, sem invadir o espaço dele. Oferece também diversos opcionais, como GPS, rádio com USB e sensor de estacionamento. Mastrobuono garantiu que a próxima etapa será oferecer também transmissão automatizada, ausente nesse primeiro momento.
Difícil mesmo é projetar quantas unidades serão vendidas nesse primeiro ano. Por enquanto a fábrica trabalha no ritmo de uma unidade por dia, volume que poderá ser duplicado a partir de junho. Quem ditará o ritmo, porém, será o mercado: “Fazer um prognóstico é complicado”, admite Francisco Gomes Neto, presidente da Marcopolo, a controladora da Volare. “Revisamos a previsão três vezes esse ano. E todas as vezes para baixo.”
A Cinco competirá diretamente com algumas configurações da Mercedes-Benz Sprinter, mas também briga com Citroën Jumper, Fiat Ducato, Iveco Daily e Peugeot Boxer. O preço parte de R$ 169 mil, na escolar, até R$ 218 mil, na Executiva Plus. Suas configurações, porém, garantem uma vantagem sobre a concorrência: ela se enquadra na categoria M3, podendo ser financiada por meio do BNDES Finame.
Outros mercados também são alvo da Cinco: de início 25 países onde existe representação da Marcopolo ou Volare estão na mira. Descartada, porém, está a possibilidade de fornecer o chassi para outros encarroçadores. Gomes Neto garantiu: “O Cinco é e será exclusivo Volare”.