Enfim, o fim! Sim, 2015 já é passado para boa parte das pessoas e empresas do setor automotivo. Muitas iniciaram esta semana em férias coletivas e com as linhas paralisadas. E, ainda que em menor número, algumas admitem que aproveitarão a primeira semana do ano novo para um esticada na folga.
E com nenhum peso na consciência, é bom enfatizar. Afinal, se mercado interno e produção capotaram ao longo de onze meses e meio, qualquer esforço daqui até o último dia de dezembro, por maior que seja, não mudaria o saldo negativo.
O ano – apenas para utilizar termo utilizado às mãos cheias no setor – não teve boa relação custo-benefício. Foi, sim, de mais custo, e em qualquer acepção da palavra. Teve mais muito custos para quem nutre interesse, depende ou está na indústria automotiva e até mesmo para quem não vê nenhum atrativo nele e simplesmente, por obra do acaso, habita este pequeno da Via Láctea.
Sim, para quem vive e sobrevive do setor, de forma pragmática, é difícil enumerar o que aconteceu de pior no Brasil ao longo dos últimos doze meses. Mas no mundo, creio, não há páreo para o episódio deflagrado em setembro nos Estados Unidos e que varreu o mundo Volkswagen em dias, culminando com a queda dos principais executivos do conglomerado alemão, admissões públicas de culpas e pedidos formais de desculpas.
A fraude mundial dos motores Volkswagen é um triste marco para a mais que centenária história do automóvel, produto que moldou a vida, economia, comportamentos e cidades no século 20 e que ingressou neste sob a desconfiança mundial de que poderá seguir evoluindo a ponto de ser mais uma solução do que um problema para a humanidade.
Resta acreditar que, em última instância e depois das devidas penalizações, o escândalo daquela que nos últimos anos buscou ser a maior fabricante de veículos do mundo – como se isso fosse um fim em si mesmo – sirva para que os discursos se aproximem, de fato, das práticas.
Quem já não está careca de ler em relatórios e ouvir sobre o papel transformador das empresas, dos compromissos e relações transparentes, respeito ao consumidor, de suas responsabilidades sociais e ambientais? Pois então.
A Volkswagen, creio, hoje sabe o quanto isso é necessário. Mesmo! Ainda que a conta final está por ser apresentada, e talvez nem saibamos qual será ela, o resultado todo mundo já sabe: o benefício de negociar centenas de milhares de veículos poluentes será um quase nada diante do preço pago pelos bônus imediatos aos executivos.
Há uma excelente notícia sobre 2015 – e não, não é a de que ele chegou ao fim. O lado bom de um ano tão restritivo em vendas como este que vivemos é o de que um enorme estoque de demanda reprimida foi formado, agora acumulado com aquele já gerado em 2014.
No inicio deste mês o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Jr., projetou que, mesmo depois da grande redução neste ano, as vendas de veículos registrarão queda de pelo menos mais 5% no próximo ano.
Nada mais batido este ano do que a frase “a crise traz oportunidades”. Mas é exatamente em cima deste tema que gostaria de me ater neste momento, pois em meio a tantas adversidades e sérios problemas é indiscutível que muitos se saíram bem, mesmo aqueles que quase quebraram e, sem outra saída, usaram capital próprio, da pessoa física, para seguir em frente.
Muitos de nós provavelmente desejam expurgar, muito depressa, a maior parte de suas vivências e experiências de 2015. Mas talvez se deva tirar lição do episódio de prisão de antiquíssimo vice-presidente da Anfavea, episódio recente e fresco na mente de todos. Não vem ao caso entrar no mérito da questão, pois ele, esposa e advogados saberão defender-se se, afinal, vierem a ser processados. A lição, acredito, vem de outra frente de batalha, a interna: os responsáveis pela entidade agiram corretamente ao anunciar, daquela maneira, o afastamento de um seu igual?
Eram meados de março quando um executivo de uma grande montadora me disse a seguinte frase, que sintetizava seu pensamento sobre o que estaria por vir nos nove meses seguintes: “Queria dormir e só acordar em 2016”.
Se o desempenho do mercado de automóveis e comerciais leves em 2015 levou para cama muitas noites de sonos intranquilos, o que dizer então dos sonhos do pessoal de caminhões? Enquanto as vendas dos veículos leves alcançava queda de 25% no acumulado do ano até novembro, os negócios de pesados beiravam os 47% na comparação com mesmo período do ano passado. Sem dúvida é uma situação para gente forte e um ano para esquecer.
No final do segundo semestre de 2014 tive a honra de assistir a uma palestra do renovado economista, professor e ex-ministro da fazenda, Antônio Delfim Neto. Naquela ocasião, o professor Delfim, confortavelmente sentado numa poltrona previu que o Brasil, qualquer que fosse o resultado da eleição presidencial que se avizinhava iria entrar em um período muito difícil. Foi a primeira que ouvi vez a frase “Tempestade Perfeita” para explicar a situação que estaria por vir.