Elétrico, híbrido, a gás natural, diesel ou etanol. Piso baixo, o low entry, ou piso convencional, com degraus. De 5 m a 28 m de comprimento. Convencional, articulado, biarticulado, midi e minibus. Rodoviário, urbano ou all-rounder, não importa. O que importa é atender às necessidades e desejos dos passageiros para atrai-los para o ônibus, e ter preço e serviço para garantir o retorno sobre o investimento dos operadores. É isso o que as grandes montadores e fabricantes de ônibus começaram a mostrar na sexta-feira, 16, dia da abertura da vigésima-terceira edição da Busworld Kortrijk, realizada na cidade belga de mesmo nome até a quarta-feira, 21.
Ninguém mais diz que o modelo elétrico é o futuro. O futuro é a pluralidade de combustíveis, do diesel convencional à eletricidade, passando pelo biogás e por sistemas híbridos, dentre outros. O objetivo é alcançar padrão zero de emissões, mas isto dependerá das legislações de cada mercado, da exigência cada vez maior do usuário e também da capacidade de investimento dos operadores.
São 411 expositores, sendo 67 fabricantes de ônibus, de 36 países, espalhados por dez pavilhões que totalizam 40 mil m2 de área construída. A meta dos organizadores é superar os 33 mil visitantes e, para isso, os fabricantes de ônibus colocaram à disposição dos participantes 76 veículos para teste no espaço externo do Kortrijk Expo.
Para convencer os clientes os principais fabricantes, da Alemanha à Suécia e da China à Turquia, oferecem muito mais do que apenas o ônibus. Pelo menos na Europa somente o veículo não atende mais à necessidade das cidades e de seus operadores. Além do produto o fabricante está fornecendo o que – quase todos – chamaram de “uma solução completa”, que inclui suporte quase que total, como instituições que facilitam o financiamento para a aquisição, monitoramento e manutenção da frota do cliente, imediata reposição de peças até auxílio para revender o ônibus usado.
Outra característica cada vez mais forte no mercado, bem diferente do Brasil, é que não existe mais a diferenciação do fabricante de chassi para o fabricante de carrocerias, o encarroçador. Quase todos são definidos, agora, como fabricantes de ônibus. As tradicionais montadoras, como Iveco, MAN, Mercedes-Benz, Scania e Volvo produzem seus veículos completos. Já as grandes encarroçadoras fecharam parcerias com fornecedores de powertrain, como Allison, Cummins, DAF, ZF para comercializar o ônibus completo e são responsáveis pelo pós-vendas. Existem ainda as tradicionais encarroçadoras, de médio e pequeno portes, mas são poucas e estão perdendo espaço para as mais fortes.
Outra grande novidade é que, para atrair mais usuários, principalmente proprietários de automóveis, foram adotadas para os ônibus urbanos configurações internas muito próximas às dos rodoviários – não como no Brasil, com um interior espartano para não dizer totalmente desconfortável e nada convidativo. Os urbanos da Europa parecem automóveis de alto luxo, tanto por dentro como por fora, inclusive com poltronas que giram.
Os destaques da Volvo na Busworld 2015 são os lançamentos do novo ônibus 7900, de 12 m, 100% elétrico e o sistema de condução dinâmica da Volvo, o VDS. Pela primeira vez a Volvo lança um ônibus elétrico na configuração de 12 m para produção em série. As vendas começam em 2016 e ampliam a gama de ônibus movidos a energia elétrica. O novo Volvo 7900 elétrico é executado silenciosamente, não emite gases de escape e é cerca de 80% mais eficiente em termos energéticos do que um ônibus diesel correspondente.
Os Volvo 7900 elétricos possuem baterias de lítio-íon carregadas tanto pela energia gerada sempre que os freios são acionados e também por meio da rede de corrente eléctrica quando para no fim do trajeto. Cada carga via rede demora de 3 a 6 minutos. Cada minuto de carga permite a 5 a 10 minutos de condução. O ônibus é projetado para rotas de 10 a 20 quilômetros.
Esses modelos serão vendidos principalmente como uma solução completa turnkey, que engloba financiamento e manutenção do veículo e da bateria. A infraestrutura de recarga também será incluída no pacote por meio de cooperação da Volvo com Siemens e ABB. Juntamente com parceiros locais a Volvo Buses fornece serviços de oficina, e a configuração de velocidade e outras características de gestão da zona, serviços de depósitos e de gestão do tráfego são oferecidas opcionalmente.
O sistema de condução dinâmica da Volvo tem sido um equipamento em seus caminhões desde 2013. Agora, passa a ser oferecido também nos ônibus para ampliar as características de segurança. Na Europa o sistema de direção assistida Volvo Dinâmico, o VDS, está sendo integrada aos modelos Volvo 9500, 9700 e 9900, bem como aos chassis com motores Euro 6 de 8 ou 11 litros.
O sistema compensa automaticamente o piso irregular e elimina vibrações e trancos no volante, tornando a condução muito mais fácil e confortável. Ao dirigir em baixas velocidades volante de inércia é reduzido em cerca de 75%, o que também torna muito mais fácil as manobras. O sistema também facilita a direção, e retorna o volante para sua posição central automaticamente quando o condutor o solta. Em altas velocidades o ônibus mantém direção consistente, mesmo em estradas com superfícies ruins.
A Scania apresenta gama de motorização que vai do etanol ao 100% elétrico, passando pelo diesel, pelo biogás e pelo híbrido. A empresa também aposta na solução total, com o seu fleet care. Para ela o importante é promover a utilização do ônibus com produtos específicos para cada mercado.
Dentre os produtos a novidade é o lançamento da nova família Scania Interlink, considerada um all-rounder, ou seja, um único modelo que atende desde as necessidades do transporte urbano às do intermunicipal e do rodoviário.
O modelo é oferecido em comprimentos de 11 m a 15 m, com dois ou três eixos, movido a gás, diesel e híbrido.
Já no caso da fabricante belga Van Hool seu grande diferencial é oferecer modelos de ônibus para nichos de mercado e para sistemas de transporte em diversas partes do mundo. Sobretudo na Europa e na América do Norte, onde possui fábrica de rodoviários e detém 8% de participação do mercado. A empresa é um dos bons exemplos de parceria, no caso com a DAF, para motores e eixos, e com a ZF para transmissões.
Seus modelos de maior sucesso são o TDX27 Astromega, um double decker, e o Exqui, veículo com desenho vanguardista e inusitado, produzido em tamanhos de 18 m e 24 m com motorização diesel híbrido, fuel cell e trolley, que é o elétrico em linhas eletrificadas.
Esses ônibus rodam em diversos programas e sistemas na Alemanha, Escócia, Estados Unidos, França e, recentemente, foram fornecidos para Martinica, um departamento ultramarino insular francês no Caribe.
O modelo double decker, TDX27 Astromega é sucesso de vendas nos Estados Unidos, com mais de 1,1 mil unidades comercializadas.
A novidade da VDL, também sediada na Bélgica, é um novo double decker, o Futura FDD2. O veículo tem acabamento primoroso e inova em sua configuração, na qual a altura do piso inferior é maior do que a do piso superior, 1 m 855 e 1 m 724, respectivamente.
Para garantir maior conforto e segurança o modelo conta com diversos equipamentos eletrônicos para condução e tem capacidade para transportar 96 passageiros, além de 9,3 m3 de espaço para bagagem.
A Solaris, da Polônia, comemora seus primeiros 20 anos de fundação e apresenta dois novos modelos: o novo Urbino 12 elétrico, com sistema de carregamento pantográfico no teto, e o novo Urbino 12 LE, low entry. Livre de emissões e limpo, o zero emissão Urbino 12 elétrico tem um novo processo de construção com leve e rígido bodyframe que garante menor peso total e interior espaçoso.
O veículo apresentado é equipado com baterias de alta energia da Solaris que geram 240 kWh. O conjunto foi dividido em seis blocos separados de 40 kWh cada. Quatro blocos estão localizados na parte traseira do veículo e o resto é montado no teto, ao longo do primeiro eixo. Esta solução garante distribuição adequada da carga nos eixos e, além disso, oferece espaço adicional no compartimento de passageiros.
O novo 12 m Urbino elétrico é equipado com o eixo de acionamento elétrico com motores montado no eixo, 125 kW de potência máxima cada. Este conceito libera espaço para os passageiros e reduz significativamente o peso do veículo.
O modelo foi equipado com sistema de carregamento pantográfico inovador. Com 450 kW de potência permite uma recarga rápida das baterias na rota. Um plug-in de conexão tradicional também é fornecido e pode ser usado para carregar durante a noite na garagem.
Já o novo ônibus Urbino 12 LE é significativamente mais leve do que o seu antecessor, devido ao novo processo de construção, e teve sua capacidade de passageiros aumentada para 44 sentados e 94 no total. Para isso, os engenheiros da Solaris aliviaram o peso no eixo de tração, melhorando as cargas por eixo, graças à movimentação de todos os tanques de ar para a parte da frente do veículo e colocando tanques de combustível sobre os arcos das rodas dianteiras.
Também relevante é que a versão 12 LE foi preparada para acomodar motores Euro 6 de várias capacidades. O modelo apresentado na Busworld está equipado com motor Cummins ISB6.7, mas há a opção pelo Paccar/DAF MX-11.
As novidades na Iveco estão na nova motorização Euro 6 e na oferta de veículos com diversos combustíveis, como o diesel convencional, o biogás, híbrido e 100% elétrico. O novo Crealis, desenvolvido exclusivamente para o conceito de Bus Rapid Transit, é produzido movido a diesel, gás natural ou híbrido elétrico, com motorizações fornecidas pela FPT.
O Iveco Magelys foi eleito o Ônibus Rodoviário do Ano 2016. Conta com design elegante e dinâmico e é disponível em três versões, cada uma oferecida em dois comprimentos, 12,20 m e 12,80 m: Line, para viagens de média distância em condições de conforto excepcional, Pro, para serviços sofisticados em linhas intermunicipais, nacionais e internacionais.
E Lounge, uma nova versão completa que é baseada na Pro com diferenciais como transmissão automatizada ZF AS-Tronic, lateral sol cego, assento do motorista com apoio de braço, degelo elétrico na janela do motorista, GPS, câmara de marcha à ré, câmara para a porta do centro, microfone, máquina de café, câmara filmando a estrada para os passageiros e teto central de vidros duplos.
Como equipamentos opcionais estão disponíveis assentos com encosto de cabeça ajustável, entradas USB, display touchscreen de rádio e duas mesas de jogos na parte traseira com capacidade para oito passageiros.
Já o Urbanway é o modelo urbano de maior sucesso da Iveco, disponível em versões curta, 10,60 m, padrão, 12 m, e articulados, 18 m, com motorizações Euro 6 HI-SCR, a gás natural, CNGs, e elétrica híbrida. Com 12 metros de comprimento o ônibus apresentado na Busworld é alimentado por motor Iveco Cursor 9 Euro 6 HI-SCR de 360 cv. Tem capacidade para acomodar 21 passageiros com espaço para um cadeirante, e oferece iluminação ambiente com LEDs embutidos no teto, que é projetado para ser compatível com a decoração personalizada selecionada pelo cliente.
O fluxo de ar a partir do sistema de ar-condicionado torna-se ainda melhor pelo uso da cortina de ar nas portas.
A Mercedes-Benz lança o novo urbano Citaro NGT, de Tecnologia de Gás Natural, que se destaca pelo silêncio e pela redução de emissões de CO2 – ambas são vantagens cruciais no tráfego pesado nos centros das grandes cidades. O modelo é comercializado nas versões convencional e articulado.
O Citaro NGT também está aprovado para utilização com fontes de energia renováveis nos termos de gás natural com a norma DIN 51 624, sem restrições.
O novo motor M 936 G, a gás natural, tem níveis ainda mais baixos de ruído do que o OM 936 diesel. Dependendo da forma de condução as emissões de ruído são até 4 dB inferiores, o que corresponde a nível de ruído percebido quase 50% menor.
O novo Mercedes-Benz M 936 G tem deslocamento de 7,7 l e é, atualmente, o motor a gás natural mais compacto de sua categoria, e oferece o desempenho de um motor diesel ao definir normas para as emissões de escape e sonoras. O motor é especialmente leve e compacto. Pesa 747 kg com catalisador primário e é cerca de 230 kg, ou quase 25%, mais leve do que o motor antecessor com deslocamento de 12,0 l.
O M 936 G é baseado no motor OM 936 turbodiesel, que já está em uso no Citaro e Citaro G e Euro 6. O motor monocombustível de seis cilindros instalado na vertical funciona a gás natural comprimido, GNC, com potência de 222 kW, 302 cv, a 2 mil rpm e torque máximo de 1,2 mil Nm de 1, 2 mil a 1,6 mil rpm.