Flávio Padovan, diretor geral da Subaru, marca aqui representada pelo Grupo Caoa, não deixou o otimismo de lado mesmo com a retração do mercado brasileiro de veículos. E isso não tem a ver com o desempenho da Subaru em 2015, quando pretende dobrar as vendas para 2,2 mil unidades, ante 1,1 mil veículos comercializados no ano passado: Padovan sabe que o mercado automotivo em geral sofre com a crise.
Crise esta que, em sua avaliação, é mais política do que econômica, embora atinja em cheio o desempenho da economia brasileira. “Mas vamos sair dela. A velocidade dependerá da capacidade do governo de arrumar a casa. E também da oposição, que não pode ter esse papel destrutivo e deveria ter uma posição mais construtiva”.
Segundo o executivo, que fez carreira no setor automotivo – passou pela Ford, Autolatina, Ford Caminhões, Volkswagen, Jaguar Land Rover e foi presidente da Abeiva antes de se transferir para o Grupo Caoa, no ano passado – o mercado brasileiro ainda é grande. “Com as 2,6 milhões de unidades vendidas seremos o sétimo maior mercado do mundo este ano. Ainda somos muito fortes”.
Durante o lançamento do Subaru WRX e WRX STI, dois sedãs esportivos, o executivo conversou com a reportagem da Agência AutoData. Confira:
Como você analisa o mercado brasileiro de veículos neste ano e qual sua expectativa para o fechamento de vendas em 2015?
O mercado e o País passam por um momento difícil. Na minha opinião essa crise que passamos é mais política do que econômica, mas mesmo assim atingiu alguns setores, como o automotivo. Agora, não podemos esquecer também que o Brasil chegou a vender 3,5 milhões de veículos há pouco tempo e, se hoje caiu – e caiu bastante – serão 2,6 milhões. Ainda é muito carro! Esse volume nos coloca como sétimo maior mercado do mundo. Ainda somos muito fortes, apesar da crise.
Você acredita que o mercado vai retomar? Quando?
Nós já passamos por outras crises no passado e agora vamos enfrentar essa, que é diferente. Eu sou um otimista: o mercado pode se recuperar no segundo semestre de 2016. Mas vai depender da capacidade do governo de se reorganizar politicamente, da velocidade que eles vão conseguir organizar e coordenar tudo para dar uma acalmada e para a economia voltar a crescer.
O segmento premium não está sofrendo tanto com a crise. Por quê?
O mercado de veículos premium também está sofrendo. Talvez não no mesmo nível do mercado em geral, porque o consumidor do carro popular tem menor poder aquisitivo e não tem tanto acesso a financiamentos. Mas o consumidor de premium também está evitando ir às compras por questão de confiança. Ele pensa: “Vou comprar agora ou espero seis meses até as coisas melhorarem?”. Aí ele adia a compra e o mercado também sofre. Mas concordo que não está sofrendo tanto quanto as marcas que têm carros populares, embora também sofra.
Mas a Subaru vai dobrar as vendas…
Nós crescemos porque viemos de uma base baixa e fizemos ações efetivas de exposição da marca, de lançamento de produtos, de atualização de produtos e de foco no negócio. Mas isso não quer dizer que o segmento está crescendo. Ele não está crescendo! O que ocorre é um movimento entre marcas, existem umas com maior capacidade de tirar mercado das outras.
Esse movimento de migração de marcas também ocorre no mercado de carros mais baratos?
Sim, é um movimento natural. Recentemente ocorreram movimentos de chegadas de novas marcas no mercado brasileiro: primeiro vieram os japoneses, depois os franceses, agora chegaram os coreanos. Não tem como as mais antigas manterem a participação de mercado – e todas elas sabiam disso.
Voltando à Subaru. Esse ano vocês projetam dobrar as vendas. Mas como será o ano que vem? A expectativa é dobrar novamente as vendas?
Dobrar novamente será um pouco difícil. Não posso te dar um número agora porque a Subaru opera no limite da capacidade nas duas fábricas que possui no mundo, tanto nos Estados Unidos quanto no Japão, e a locação lá é difícil. Mas estou negociando volumes para o ano que vem e dependerá também da nossa habilidade de aumentar as vendas ainda mais, de abrir novas lojas. Mas vamos continuar crescendo.
Vocês importam unidades acima da cota que possuem no Inovar-Auto?
Veja bem: a cota é do Grupo Caoa. A Subaru não tem CNPJ ainda, é uma marca representada pelo Grupo. Como ele possui duas cotas, uma de importação e uma de manufatura, pela fábrica de Anápolis [em Goiás, onde produz os modelos Hyundai Tucson, Ix35 e o caminhão HR], a capacidade [de importar com desconto no IPI] é grande. A de importação chega a 4,8 mil unidades por ano.
Você mencionou que a capacidade de produção da fábrica do Japão e dos Estados Unidos está no teto. Existe algum plano de produzir modelos Subaru por aqui, em Anápolis ou em alguma outra nova fábrica?
Por enquanto não existe. A Subaru está aumentando a capacidade de produção das fábricas dos Estados Unidos e do Japão. Aqui ainda precisamos solidificar muita coisa. Para fazer uma fábrica é preciso vender 15 mil carros por ano, aí o investimento tem um retorno equilibrado.
Nem para algum país vizinho, como base de exportação para a América do Sul?
Não. Não há planos.
Você ainda confia no Brasil?
Com certeza. O Brasil passa por dificuldades, mas ninguém em sã consciência pode duvidar do futuro do Brasil. É um país com muitos recursos naturais, uma potência no agronegócio. Tem uma capacidade enorme e potencial muito grande. Passamos por uma dificuldade que envolve também aspectos morais, culturais, mas acho que todo país que cresceu e superou problemas de certa forma enfrentou isso também. Falta também bom senso, falta pensar mais no País do que em si próprio. Isso de maneira geral, sem generalizar ou partidarizar. Mas vamos sair dessa, sou otimista. Agora, a velocidade depende da capacidade do governo de arrumar a casa. E a oposição não pode ter esse papel destrutivo, deveria ter uma posição mais construtiva.