Houve um tempo, não muito distante, em que a Argentina era vista pelas montadoras como natural base de exportação para a América Latina. Investimentos foram feitos com base nessa estratégia – a Volkswagen Amarok chegou a ser mandada para a Europa, a Toyota investiu na recém-lançada nova Hilux para atender toda a região e a General Motors colocou a nova geração do Cruze na fábrica argentina para abastecer os mercados próximos, para ficar em alguns exemplos.
O cenário agora mudou. Faltam dólares na Argentina, que sofre ainda com um câmbio oficial diferente do adotado na prática, e o Brasil ganhou competitividade com a desvalorização da sua moeda. Some isso a um mercado interno retraído, com crescente ociosidade nas linhas, e o resultado é visível: exportar veículos produzidos no Brasil voltou a ser um bom negócio.
Na Iveco, cuja fábrica de Sete Lagoas, MG, opera um pouco acima da metade de sua capacidade instalada, exportar virou uma possível e bem-vinda solução. “Temos todas as condições de competir de igual para igual com qualquer operação no mundo. Nossos produtos estão alinhados em qualidade com os produzidos em outras fábricas”, assegura Vilmar Fistarol, presidente da CNH Industrial para a América Latina, companhia que controla, dentre outras marcas, a Iveco.
Segundo o executivo o Brasil voltou a ter competitividade por causa do câmbio e pode conquistar novos mercados, em especial na América Latina. Ele lamentou o fato de o País ter perdido espaço nos últimos anos. “Mas com o dólar a R$ 1,70, até abaixo disso, como poderíamos competir no mercado externo?”
Fistarol esteve em Mendoza, na Argentina, para o lançamento da linha Ecoline da Iveco naquele país, que a partir de 1o. de janeiro de 2016 terá novas exigências de regulamentação de emissões, equivalente à Euro 5. Os caminhões produzidos na Argentina, portanto, serão os mesmos que saem de Sete Lagoas. Ainda assim, o presidente da CNH Industrial acredita que a base de exportação para a região nos próximos anos será o Brasil.
Os primeiros frutos já começaram a ser colhidos. De acordo com Marco Borba, vice-presidente da Iveco na América Latina, as exportações de caminhões Iveco cresceram 400% de janeiro a outubro. “Enviamos 460 unidades para quase todos os países da região. Com esse câmbio temos oportunidades para trabalhar e vejo o pessoal aceitando bem o produto brasileiro. Um bom veículo com custo competitivo abre portas.”
Borba se apoia no crescimento da exportação para preencher a lacuna aberta pela queda nas vendas de caminhões no mercado local. O executivo não acredita em um 2016 muito melhor que 2015, embora também não projete volumes inferiores ao deste ano. “Devemos fechar o ano com 75 mil a 80 mil caminhões comercializados”, estima – e em suas contas entram as vendas dos modelos a partir de 3,5 toneladas, como o Daily.
Para o presidente da Iveco a linha PSI do Finame, que alavancou as vendas de caminhões nos últimos anos, não será renovada, e o mercado terá que se adaptar novamente ao Finame comum, com taxas indexadas à TJLP. Mas reclama da indecisão e demora do governo em oficializar o financiamento de 2016:
“Nossos fornecedores precisam de seis meses para programar a produção. Estamos no fim do ano e não sabemos como o mercado funcionará daqui a dois meses. Cria-se um ambiente hostil para o negócio”.
Fistarol cita outro problema que afeta a indústria nacional de caminhões: o aperto nas margens e comprometimento da lucratividade. Segundo o presidente da CHN Industrial o mercado atual prejudica o planejamento de longo prazo: “Se continuar como está, com o consumidor comprando preço, vamos dar um passo para trás. Não conseguimos aumentar o preço este ano, mesmo com todos os custos em alta. Quem vai investir em um mercado que não dá retorno?”
De todo modo, o executivo segue confiante no Brasil e confirmou investimentos de R$ 650 milhões anunciados pela Iveco em abril – quando, segundo Fistarol, o cenário era outro. “A indústria tem que se adaptar. Chegamos a um momento em que ou se ajusta, ou se ajusta. E vai se ajustar.”
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