Eram meados de março quando um executivo de uma grande montadora me disse a seguinte frase, que sintetizava seu pensamento sobre o que estaria por vir nos nove meses seguintes: “Queria dormir e só acordar em 2016”.
Caso um gênio da lâmpada estivesse por perto e, ao ouvir o pedido deste executivo, o concedesse, o que ele teria perdido?
Primeiramente, aquilo tudo que sabemos e cansamos de ler, escrever e repetir em rodas de conversas durante todo 2015: queda superior a um quarto do mercado, quase pela metade em caminhões e ônibus e um ano com cerca de três meses, em média, de fábricas paradas por lay offs, férias, licenças remuneradas e outros artifícios encontrados pela indústria em geral para, ao menos, tentar segurar os trabalhadores, na esperança de uma retomada do mercado no médio prazo.
Mas houve também coisas boas, marcantes e históricas para a indústria automotiva em 2015. Duas tradicionais marcas voltaram a produzir veículos por aqui: Jeep, em Goiana, PE, e Audi, em São José dos Pinhais, PR. Poderíamos ter mais uma fábrica nova, a da Honda em Itirapina, SP, mas seus executivos acharam melhor deixar para depois. Mas ela está lá, pronta, só a espera de um apertar de botões para entrar em operação.
Foram investimentos programados na época em que a bonança ainda reinava, é verdade, mas novos chegaram: a General Motors dobrou sua aposta no País, ao subir de R$ 6,5 bilhões para R$ 13 bilhões os aportes até 2019. A Chery anunciou R$ 400 milhões para Jacareí, SP, e, no apagar das luzes, a Toyota destinou R$ 30 milhões para produzir o Corolla em Sorocaba, SP – onde já havia investido, no começo do ano, para ampliar a capacidade das linhas do Etios.
Fornecedores também inauguraram fábricas, como a Thyssenkrupp em Poços de Caldas, MG, e reafirmaram sua crença em um futuro melhor com novos investimentos. A mesma Chery que investe em Jacareí seduz fornecedores chineses para se instalar em um parque próximo à sua fábrica.
Aquele executivo desanimado com 2015 perderia muitas coisas boas, também. Mas acredito que o pior de tudo seria acordar em 2016.
Será um ano sedutor para os consumidores, pois muitas novidades nas linhas de produtos das montadoras chegarão ao mercado. Mas como estarão esses consumidores? A tendência é de aumento do desemprego e, novamente, postergação da intenção de compra.
Por isso, para aqueles sentados nas mesas com as calculadoras na mão, o cenário tende a ser novamente complicado: muitos acreditam em nova queda do mercado na casa dos dois dígitos. Há quem diga que a indústria termine 2016 com pouco mais de 2 milhões de unidades comercializadas, nova queda substancial. Em caminhões a velha nova realidade do Finame deverá readequar o mercado, mas não há esperança de crescimento nas vendas.
Seria melhor acordar em 2017?
Para perder todos esses eventos históricos e movimentações da indústria, certamente não. Desde que comecei a fazer a cobertura jornalística o setor, há exatos dez anos, essa é a primeira grande crise que acompanho. Certamente não será a última. Mas que seja breve.
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