Muitos de nós provavelmente desejam expurgar, muito depressa, a maior parte de suas vivências e experiências de 2015. Mas talvez se deva tirar lição do episódio de prisão de antiquíssimo vice-presidente da Anfavea, episódio recente e fresco na mente de todos. Não vem ao caso entrar no mérito da questão, pois ele, esposa e advogados saberão defender-se se, afinal, vierem a ser processados. A lição, acredito, vem de outra frente de batalha, a interna: os responsáveis pela entidade agiram corretamente ao anunciar, daquela maneira, o afastamento de um seu igual?
É este o tema que eu, então, submeto à ponderação do leitor como, quem sabe, síntese de vivências e experiências deste ano difícil que se vai.
É inacreditável que o experiente Mauro Marcondes Machado não tenha deixado, nas mãos do presidente Luiz Moan, carta em que solicitava licença por razões óbvias. Era esta a única atitude que eu, por exemplo, esperaria dele. E é inacreditável que o também experiente Moan não tenha tido a sensibilidade de, à falta da iniciativa de Marcondes Machado, mandar prepará-la e de oferecê-la à assinatura independente de qualquer presunção de culpa. Apenas de maneira preventiva.
Como o inacreditável aconteceu exatamente onde o fantasioso jamais antes penetrara – isto jamais aconteceria sob outras presidências, nem que fosse a do coronel Buendía – outros fatos igualmente inacreditáveis se sucederam. A diretoria da Anfavea informou, em texto grotesco, e de forma lacônica, sua decisão de afastar o companheiro vice-presidente de tantos anos. No dia seguinte, não coincidentemente, a MMC Automotores anunciou que retirara a delegação para que MMM a representasse na diretoria da Anfavea. O que entidade e empresa fizeram, na verdade, foi operar a destituição de um igual como se fosse culpado.
Com amigos como estes pra que inimigos, não é, não?, gente que assume uma prisão, ainda sem indiciamento, como se fosse condenação. Até parece que o jogo da Anfavea com a MMC foi combinado, inclusive no tom – a impressão foi a de que nem a entidade nem a empresa jamais tinham ouvido falar de MMM, ilustre desconhecido que jamais as representou. A realidade certamente não é esta.
Não imagino, por exemplo, alguém saindo aos gritos, ou em passeata, em defesa de suspeitos em casos como os que deram origem à Operação Zelotes a não ser familiares e amigos muito íntimos. Mas imagino manifestação respeitosa que, em tese, defenda a inocência até que seja demonstrada culpa, que insista na crença na Justiça. O que aconteceu, estou convencido, foi uma pré-condenação pelos iguais.
Formalmente fiz uma pergunta à assessoria de imprensa da Anfavea: qual o método adotado para definir e decidir pelo afastamento? Os presidentes das empresas associadas foram ouvidos? A rapaziada, lá, tergiversou e não deu resposta, achou, marotamente, quem sabe, que me esquecera do caso.
Mas a rapidez, e a forma canhestra, com que a entidade representativa da indústria automobilística entregou a cabeça de um igual sem culpa formada é algo que merece a devida atenção de todos os atores neste proscênio: quem quer que seus iguais lhe virem as costas, não o reconheçam na rua ou na antessala do tribunal? E se eu precisar de testemunhas?, que amigo me acudirá?
Que triste exemplo lega esta diretoria da Anfavea, e a administração da MMC, a jovens candidatos a executivos no setor automotivo – de grupo de gente que age antes de pensar, de gente que age sem pensar, que reage aos problemas de maneira apalermada. De turma que tem dificuldades em tomar decisões.
Quem desejará dividir seu futuro profissional com esse tipo de gente?
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