Projeto-piloto que começou este mês e tem duração de dois anos envolve fabricantes de máquinas e equipamentos e empresas de tecnologia
São Paulo – Com o objetivo de impulsionar o uso de tecnologias 5G no chão de fábrica e, assim, dispor de ferramentas que melhorem a produtividade, reduzam o retrabalho e elevem as condições de segurança a Anfavea e a ABDI, Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, uniram forças para desenvolvimento de projeto-piloto dedicado a fabricantes de máquinas e equipamentos com aplicação agrícola.
Foi assinado pelas duas partes um ACT, acordo de cooperação técnica, que começou a valer este mês e tem duração de dois anos, e que envolve CNH Industrial, Caterpillar, AGCO, Komatsu e Mercedes-Benz, empresas associadas à Anfavea, e as companhias de telecomunicação Nokia e Qualcomm.
“Estamos juntando duas grandes indústrias que não se falavam: automotiva e telecomunicações”, resumiu Bruno Jorge, gerente da unidade de difusão de tecnologias da ABDI. Nos últimos seis anos a agência desenvolveu mais de duzentos projetos-piloto envolvendo novas tecnologias, e sempre com a proposta de que, ao término da experiência, o material fique disponível para ser consultado e compartilhado.
Conforme disse o diretor executivo da Anfavea, Igor Calvet, este acordo tem a característica de promover a cooperação de empresas de um mesmo segmento a fim de desenvolver e testar soluções que conectem toda a fábrica e, a partir da tecnologia embarcada, promovam aumento da qualidade dos itens e da quantidade produzida.
Como a proposta enquadra-se no Rota 2030, agora Mover, Programa de Mobilidade Verde e Inovação, em que há recursos da ordem de R$ 270 milhões disponíveis para projetos, a ideia é pleitear uma fração deste valor para subsidiar, em partes, a iniciativa, uma vez que ela envolverá também verba das próprias empresas. A previsão orçamentária gira em torno de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões, estimou Calvet.
Jorge disse ainda que o financiamento vindo de parceria público-privada poderá envolver também fontes de fundo perdido da Embrapii, e o BNDES. Mas isso caberá aos participantes buscar.
Melhorar a infraestrutura de dados das fábricas
Calvet assinalou que é preciso colocar em ação velocidade de internet no chão de fábrica e, ao mesmo tempo, haver baixa latência, a fim de que a transmissão de dados seja rápida e, o prazo de resposta, baixo: “A conectividade deve ser otimizada para que o comando seja executado imediatamente”.
O diretor executivo da Anfavea citou como exemplo os robôs que circulam pelas fábricas transportando partes e peças, os AGVs, automated guided vehicle, ou veículos autoguiados. Como o wi-fi disponível atualmente possui pontos cegos dentro de uma fábrica o 5G propiciará mais eficácia na atuação desses equipamentos: “O 4G servia para conectar pessoas e o 5G máquinas”.
Outro exemplo é o uso de óculos de realidade aumentada pelos operários a partir do uso de inteligência artificial – recurso que já é utilizado pela unidade da AGCO em Canoas, RS. O trabalho torna-se mais assertivo pois há um campo de visão amplo e é possível testar a manobra de forma virtual antes de efetivá-la na prática, o que pode auxiliar até mesmo quantas voltas é preciso dar em um parafuso para que ele fixe a peça de forma mais segura.
“Todas as linhas de produção serão beneficiadas juntas pelo edital de cooperação em vez de cada uma desenvolver solução individual dentro da empresa, o que faz sentido, uma vez que a busca pela melhoria é a mesma para todas. Além disso, os gastos seriam maiores e o tempo de desenvolvimento do projeto poderia levar três anos em vez de um ano.”
Benefício para toda a cadeia
Para o dirigente da Anfavea haverá um salto de competitividade e, o melhor, uma difusão por toda a cadeia uma vez que a documentação sobre como serão aplicadas essas tecnologias será aberta e pública: a partir da experiência do setor de máquinas dados sobre investimento, incluídos o retorno sobre esse aporte e o tempo que isso levará, estarão disponíveis: “Assim outras empresas do mesmo ramo poderão se programar e adotá-lo em suas linhas”.
E mais: embora este projeto seja desenvolvido com fabricantes de máquinas e equipamentos é possível que outras empresas da cadeia inspirem-se na iniciativa e adotem ações semelhantes ou mesmo proponham outros projetos. O setor automotivo é um dos mais avançados quando o assunto é automação e digitalização, pontuou Jorge, ao lembrar que as montadoras estão à frente desse processo: “Mas a cadeia ainda enfrenta problemas quanto a isso, pois não tem esse mesmo nível de avanço, e o projeto visa a compartilhar esse conhecimento”.
Fábrica conectada na prática – e sua aplicação
Mesmo dentro da área de máquinas a ideia é transbordar os aprendizados para o campo. Por exemplo: uma colheitadeira poderá parar, de forma automatizada, assim que visualizar um animal em sua frente, sem um operador a bordo e evitando acidentes – aí está um exemplo da baixa latência citada por Calvet.
A máquina poderá ter ao seu lado um caminhão autônomo para identificar os obstáculos. É aí, inclusive, que entra a Mercedes-Benz, uma vez que ela dispõe dessa tecnologia e, pensando no efeito em cadeia, interessou-se pelo projeto.
O acordo de cooperação prevê a realização de workshops sobre conectividade 5G nas linhas de produção, qualificação dos profissionais em redes de hiperconectividade, uso de IoT, internet das coisas, na segurança do trabalho, troca de conhecimento sobre cibersegurança e compartilhamento de dados. A primeira fase, que deverá durar dois meses, será de estruturação do projeto.
Jorge contou que o interesse por parte das fabricantes de máquinas com aplicação agrícola se deu a partir da divulgação de relatório sobre o uso do 5G na WEG, em 2023: “Há três anos a ideia da empresa é inspirar e ampliar cada vez mais a iniciativas. Só que a WEG é uma companhia muito verticalizada, resolve praticamente tudo dentro de casa. Enquanto que o setor automotivo possui muitos fornecedores. É necessário, então, expandir esse conhecimento”.
Segundo o gerente da ABDI a agência não vai esperar o fim do período de 24 meses para divulgar os resultados. Ao passo que se obtenha avanços serão compartilhados.