
Esqueçam 683 quilos de carga, esqueçam um veículo voltado para o trabalho. A picape Duster Oroch, apresentada oficialmente na segunda-feira, 28, no Rio de Janeiro, tem missão bem mais nobre do que carregar também cinco pessoas em sua cabine dupla. Ao mais novo produto da Renault coube a missão de levar a montadora finalmente a seu objetivo traçado há alguns anos publicamente: deter 8% do mercado brasileiro de automóveis e comerciais leves.
Olivier Murguet, presidente da empresa na América Latina, não deixou dúvidas quanto a isso na apresentação do comercial leve. “As vendas da Oroch serão adicionais, afinal é um novo segmento para nossa marca. Com isso chegaremos ao que nos propusemos”, disse Murguet, que desde abril responde por todos os mercados do México até a Argentina, mas que seguirá no Brasil, agora alçado a quartel-general da operação que respondeu por mais de 15% do faturamento mundial da Renault em 2014.
Ainda que a Renault não informe objetivos de vendas e produção para o novo modelo, oferecido em três versões de acabamento e motores 1,6 litro e 2 litros apenas com câmbio manual, a meta de participação, de fato, parece não estar tão distante. No acumulado dos oito primeiros meses de 2015 a montadora chegou a 7,1% e cresceu 0,2 pontos porcentuais frente ao mesmo período do ano passado, enquanto o mercado recuou 20% na média de automóveis e comerciais leves.
Até também porque os comerciais leves têm expressiva participação no mercado interno. Somadas as picapes compactas, derivadas de carros de passeio, e as médias, o segmento representa algo como 300 mil unidades anuais – 900 mil em toda a América Latina, segundo Murguet.
E a Oroch correrá em raia solitária, exclusiva, por se tratar de veículo derivado de um SUV e não de um hatch compacto, como as concorrentes mais baratas Fiat Strada e Volkswagen Saveiro, e ser menor do que as convencionais picapes médias, como Chevrolet S10 e Ford Ranger, por exemplo. Solitária pelo menos até o começo de 2016, quando ganhará a concorrência mais direta da Fiat Toro – cujo nome foi anunciado oficialmente nesta terça-feira, 29, e não por mera coincidência.
O novo segmento criado com a Oroch no mercado interno foi bem definido por Murguet: “Apostamos em produto de uma faixa média-alta de preço, destinado sobretudo ao lazer. Não competiremos com as picapes derivadas de hatches, mais baratas e que contam com versões para o trabalho”.
Não por outro motivo a Oroch, que começa a ser vendida mesmo em novembro, dispõe somente de carroceria com cabine dupla e quatro portas – uma cabine simples foi descartada pela direção da empresa – e preços entre R$ 62,9 mil e R$ 72,5 mil, exatamente acima das versões mais completas das picapes compactas.
Mas versões mais caras da Oroch já estão no forno. A Renault admite que lançará, provavelmente em 2016, uma 2.0 com tração 4 x 4 a exemplo do Duster. Câmbio automático também está nos planos da montadora, que já produz a Oroch completa, inclusive com sistema multimídia e de navegação de série para a versão 1.6 Dinamique, a segunda mais barata.
A Duster Oroch foi desenvolvida pela RTA, Renault Tecnologia Américas, e é fabricada somente em São José dos Pinhais, PR. Seguirá para todos os mercados latino-americanos, no que depender da vontade de Murguet. Certo, porém, é que as primeiras unidades serão exportadas ainda este ano e chegarão primeiro ao Uruguai. “Demais mercados apenas a partir do ano que vem”, afirmou o executivo, que descartou estudos mais avançados para enviar o comercial leve para outros continentes.


O retorno dos caminhões Ford Série F ao mercado brasileiro garantiu à Eaton, fabricante de sistemas de powertrain, um 2015 menos complicado. A empresa fornece a transmissão FSO 4505, que equipa os modelos F-350 e F-4000 – incluindo a versão 4×4 –, que juntos somaram 2,5 mil emplacamentos de janeiro a agosto.