A divisão Gasoline Systems, ou apenas GA, da Bosch, resolveu comemorar seus exatos 30 anos no Brasil com aquilo que fez de melhor desde que surgiu em 1985, em Campinas, SP: colocar à disposição das montadoras de veículos uma nova tecnologia.
A unidade de negócios, que desenvolveu e produziu a primeira injeção eletrônica para um carro brasileiro – o Gol GTi, em 1998 – e sistema flex, na década seguinte, apresentou na sexta-feira, 13, o e-Clutch, ou electronic Clutch System. Trata-se, em síntese, de sistema que aciona eletronicamente a embreagem dos veículos dotados de transmissões manuais.
A tecnologia, reconhecem os executivos da Bosch, poderá ter maior apelo, sobretudo, junto aos compradores de automóveis menores e mais baratos, sobre os quais o custo de uma transmissão automatizada e, ainda mais, de uma legítima automática representa um porcentual considerável sobre o preço final.
Também porque é em veículos dessa faixa de mercado que as transmissões manuais ainda predominam no Brasil. Em modelos de segmentos superiores, câmbios automáticos já são quase imperativos – a Honda, por exemplo, praticamente desativou sua linha de produção de câmbios manuais em Sumaré, SP.
A e-Clutch, na prática, elimina o pedal de embreagem – embora ele possa ser mantido caso a montadora entenda ser uma boa opção para sua estratégia mercadológica –, ainda que as trocas de marchas continuem sendo realizadas por meio da alavanca de câmbio.
O conceito não chega a ser de todo uma novidade para os consumidores brasileiros que vivenciaram fim dos anos 90. O primeiro Mercedes-Benz Classe A vendido e fabricado no Brasil dispunha de solução algo semelhante, o sistema AKS. A Fiat também teve investida mais arrojada ao apresentar o sistema Citymatic no Palio 1.0. Em ambos produtos, o terceiro pedal foi dispensado e o acionamento da embreagem era feito por sensor na manopla da alavanca de câmbio.
Mas as semelhanças com o e-Clutch param por aí. Afinal após quase vinte anos a tecnologia está em outro patamar: ela, de fato, torna o comportamento do câmbio manual muito semelhante ao de um automático – e melhor do que o do automatizado –, inclusive com recursos conhecidos de dispositivos como o Stop & Go, assistente de saída em rampa e assistente de estacionamento. Nem mesmo para utilizar a ré se necessita de um pedal de embreagem.
Martin Leder, chefe de engenharia da divisão, destaca outro atrativo para o consumidor além do maior conforto: a economia de combustível pode chegar a 5%, segundo resultados colhidos pela Bosch em testes desenvolvidos em circuito misto cidade-estrada. Algo talvez pouco perceptível ao bolso do proprietário, mas que pode ter maior valia para as próprias fabricantes de veículos, agora e cada vez mais pressionadas pelos exigentes índices de eficiência energética.
Parte desse melhor aproveitamento do combustível se deve ao Idle Coasting, desacoplamento da embreagem, que entra automaticamente em operação quando o motorista retira o pé do acelerador. Nesse momento a embreagem abre e desacopla o motor da transmissão para aproveitar ao máximo a energia de movimento do veículo. Mal comparando, uma sofisticada, segura e tecnológica versão da conhecida banguela, ainda que a marcha continue engatada. E basta o motorista pisar no freio ou acelerar o carro para que a embreagem seja reacoplada imediatamente.
Gerson Fini, vice-presidente da GA, antecipa que a Bosch já encaminha negociações com algumas montadoras, mas ainda de forma incipiente. Na melhor das hipóteses, diz Fini, estará no mercado em mais dois anos. Até porque o próprio sistema, cujo projeto aqui tem pouco mais de um ano, ainda carece de alguns desenvolvimentos e vem sendo alvo de trabalho também em outras unidades da Bosch na Europa e Índia. Certo é, porém, que poderá ser adotado em plataformas já existentes e sempre como dispositivo de série de fábrica.
Fini, entretanto, não arrisca quanto o e-Clutch poderá representar no custo de um automóvel compacto, por exemplo – algo que será absolutamente decisivo para mais essa tentativa de aposentar o pedal da embreagem no Brasil. “Mas um carro com o sistema deveria ser mais barato do que um similar com câmbio automatizado e custar um pouco acima de um com embreagem convencional.”
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