São Paulo – A retomada das vendas e da produção de veículos no Brasil ainda é questionada por Marcelo Martini, gestor da divisão automotiva da Fuchs. O executivo da fornecedora multinacional de lubrificantes pondera que é possível estarmos dentro de uma bolha, colhendo resultados de demanda represada do começo da pandemia de covid-19, quando as concessionárias e fábricas fecharam as portas para conter o avanço do novo coronavírus.
Martini justifica a existência dessa bolha com base no cenário de contratações das montadoras, que ainda não foram retomadas com a mesma força da demanda e, na maioria dos casos, são temporárias. Os investimentos das fabricantes de veículos, que seguem postergados, também foram usados para mostrar que o cenário ainda é de muita incerteza sobre o tamanho real do mercado pós-pandemia.
"A situação está melhorando, mas ainda há muita incerteza: não sabemos qual o tamanho da bolha e qual será o volume constante no ano que vem".
A Fuchs projeta para este ano vendas em torno de 1 milhão 880 mil veículos leves, com recuo em torno de 30% contra 2019. É uma melhora nas expectativas, que no começo da pandemia indicavam uma retração em torno de 40%. Mas essa leve melhora foi considerada apenas para as vendas em 2020: a partir do ano que vem Martini acredita que o crescimento será mais lento, exatamente pelo cenário citado. Uma possível segunda onda da pandemia da covid-19 também está em observação.
"O País precisar passar por reestruturações internas para voltar a crescer em ritmo forte e sustentável. O nível de desemprego ainda é muito alto e, junto com os outros fatores que deverão dificultar o crescimento, como a alta do dólar, trará impactos para o setor automotivo nacional. Tudo isso refletirá no preço dos veículos, que já aumentou e continuará a crescer em 2021".
No ano que vem a Fuchs espera por produção em torno de 2,2 milhões de automóveis e comerciais leves, com lenta recuperação acontecendo nos anos seguintes. A retomada do volume próximo ao de 2019, algo em torno de 2,9 milhões de veículos, só deverá voltar em 2025.
A cadeia de fornecedores também é um ponto de atenção, pois a forte retomada em 2020 está dificultando o acompanhamento da demanda. Já existe a dificuldade em algumas matérias-primas, como aço, papelão e plástico, segundo Martini: "Os fabricantes de autopeças foram bem durante a crise e, com a rápida retomada, não houve o grande movimento de fechamentos e aquisições que era esperado. Agora o desafio é ter acesso à matéria-prima, que está mais cara, e acompanhar o volume de pedidos".
Fuchs – O desempenho da fornecedora de lubrificantes no Brasil, este ano, deverá chegar ao mesmo volume de 2019, porque a empresa também atende a outros segmentos além do automotivo. Para o ano que vem a expectativa é de um crescimento próximo do PIB nacional ou até um pouco maior, porque a intenção é avançar na participação de mercado.
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