São Paulo – Roberto Cortes, presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus, propôs a criação de linha diferenciada de financiamento para veículos pesados verdes no País, via BNDES, uma espécie de Finame Verde, para incentivar os novos veículos produzidos aqui com motorização Euro 6 e também os elétricos e os movidos a gás. O executivo apresentou a ideia durante o Fórum Veículos Comerciais 2023, realizado pela AutoData Editora, e também defendeu a retomada do Finame atual com taxas mais atrativas:
“O Finame é uma linha de financiamento criada pelo BNDES há mais de cinquenta anos para incentivar a compra de bens de capital, mas hoje isto não acontece porque as taxas de juros não são atrativas. A criação de uma linha especial para os veículos verdes impulsionaria os negócios do Euro 6, assim como seria interessante uma linha com taxas atrativas para usados”.
Cortes lembrou que a indústria nacional investiu bilhões para produzir os veículos Euro 6 e um movimento como esse seria relevante para alavancar produção e vendas, ajudando no retorno do valor investido pelas empresas, o que ainda não aconteceu. No primeiro trimestre as vendas desses veículos corresponderam a apenas 6% do mercado total.
Mesmo sem uma linha de financiamento especial para os caminhões Euro 6 o presidente acredita na melhora gradual ao longo do segundo trimestre, até porque as empresas não podem mais abastecer seus concessionários com veículos Euro 5 e os estoques deverão acabar. A chegada de volume maior é esperada a partir do segundo semestre e, apostando nesse movimento, a VWCO adotou o layoff de noventa dias na fábrica de Resende, RJ, onde parte dos funcionários ficará em treinamento até o final de junho.
Com muitos anos de experiência Cortes já passou por diversas crises e reconheceu que a instabilidade política pela transição do novo governo, altas taxas de juros, chegada da nova tecnologia com aumento de custos e o pré-buy do Euro 5, tornam o cenário atual bastante complicado, mas mantém a expectativa pela retomada: “Espero que a indústria saia desse nó nos próximos meses”.
Um problema maior, que não deverá se resolver nos próximos meses, é a capacidade ociosa da indústria, que hoje tem condições de produzir 400 mil unidades/ano em três turnos ou 250 mil/ano em dois, sendo que no ano passado o setor encerrou o ano com 194 mil unidades produzidas, ociosidade de 52% em três períodos ou de 23% em dois. Este ano, caso a projeção da Anfavea se concretize, a capacidade ociosa será de 62% e 38%, respectivamente: “Isto assusta um pouco porque todas as empresas investiram muito para ter essa capacidade produtiva instalada e o volume para pagar tudo isso não está vindo”.
Para o ano a Volkswagen Caminhões e Ônibus segue alinhada com a projeção da Anfavea de queda de 20% na produção ante 2022, porcentual que poderá ser um pouco maior. Uma revisão das expectativas, com mais clareza do mercado, deverá ser elaborada em junho, após o fechamento do primeiro semestre.