Fabricante fez entrega simbólica de vinte caminhões e dez ônibus com recolhimento de modelos antigos para reciclagem
Sete Lagoas, MG — A Iveco fechou sua primeira venda sob as regras do programa de descontos patrocinados pelo governo para veículos comerciais, com o recolhimento para reciclagem de modelos equivalentes com mais de vinte anos de idade. Na quarta-feira, 16, a empresa fez a entrega simbólica de vinte caminhões e dez ônibus em cerimônia realizada no complexo industrial de Sete Lagoas, MG, com a presença de autoridades municipais, estaduais e do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e considerado idealizador do benefício para estimular o mercado com a renovação de frota.
Vinte caminhões pesados, semipesados e leves, das linhas S-Way, Tector e Daily, foram adquiridos pelo Grupo Sada, de Minas Gerais, e dez chassis de ônibus de 10 e 17 toneladas, que receberão carrocerias urbanas da Mascarello, operarão em Campo Largo, PR, na Autoviação Nossa Senhora da Piedade. Segundo Rodrigo Hoelzl, presidente da empresa de ônibus, o investimento total é de cerca de R$ 6 milhões, sendo R$ 3 milhões nos chassis e outros R$ 3 milhões nas carrocerias.
Ambas as empresas desmobilizarão veículos antigos da própria frota que estavam parados ou utilizados em operações internas. No caso da Sada, que investiu em uma unidade certificada de reciclagem, a própria transportadora desmontará os caminhões velhos.
O programa para veículos pesados, criado em junho, destinou por até quatro meses subsídios fiscais de R$ 700 milhões para compra de caminhões e de R$ 300 milhões para ônibus, atrelado à obrigação de tirar de circulação e entregar para reciclagem um modelo similar com mais de vinte anos de uso, para obter descontos de R$ 33,6 mil a R$ 80,3 mil para veículos de carga e de R$ 38 mil a 99,4 mil para vans e ônibus, que são convertidos em créditos tributários que os fabricantes podem usar para abater impostos federais como IPI e PIS Cofins.
Destravamento
Depois de alguns ajustes, segundo Alckmin, “o programa está rodando muito bem”. Nenhum negócio foi fechado em junho mas começaram a ser realizados em julho, com o anúncio da Mercedes-Benz de que vendeu com descontos patrocinados 110 chassis de ônibus para a Suzantur – que também comprou vinte da Scania e mais vinte da Volvo –, além de seis caminhões pesados Actros para a Carga Transportes, do Espírito Santo.
O destravamento dos negócios ocorreu após o governo facilitar as transações com a publicação de uma portaria que permite a entrega de veículos velhos que não precisam ser, necessariamente, de propriedade do comprador dos caminhões ou ônibus novos com desconto.
O vice-presidente e ministro lembrou que “alguns Detran estavam demorando para dar baixa nos veículos entregues para reciclagem, mas estamos desburocratizando o processo e os negócios começaram a acontecer”. De fato, depois da Mercedes-Benz e da Iveco, Alckmin já tem agenda, no fim do mês, para novo evento, desta vez na Volkswagen Caminhões e Ônibus, que anunciará a venda de veículos com descontos.
Alckmin, no entanto, não deu pistas se o governo pretende estender a duração do programa, previsto para terminar no começo de outubro, ou torná-lo permanente, como querem os fabricantes de veículos pesados. Para Márcio Querichelli, presidente da Iveco América Latina, “esta é uma primeira etapa de um programa de renovação de frota que estamos discutindo há mais de vinte anos, é um começo”.
O executivo reconhece, contudo, que a iniciativa ainda está muito abaixo da necessidade de retirar de circulação 500 mil caminhões com mais de vinte anos de uso que rodam no País com problemas de segurança, alto consumo de combustível e altos níveis de emissões de poluentes.
Mercado melhor para a Iveco
Querichelli estima, em linha com as projeções da Anfavea, que este ano o mercado nacional de caminhões deve cair em torno de 30%: “Para além da adoção de veículos Euro 6, que são de 20% a 30% mais caros, também temos o problema da elevada taxa de juros. Esta combinação travou o mercado. Só agora, com o início dos cortes na taxa Selic, é que vamos começar a destravar os negócios, mas ainda demora para chegar ao nível ideal de juros de apenas um dígito, na faixa de 7% a 9% ao ano”.
Mas o executivo projeta desempenho melhor para a empresa que dirige, com queda nas vendas em torno de 14%: “A Iveco vive outro momento: somos a marca que mais ganhou participação de mercado de caminhões nos últimos anos, saindo de 5,6% em 2019 e em julho chegando a 13%. Por isto caímos menos. Esperamos que 2024 seja muito bom e estamos mantendo a fábrica trabalhando em dois turnos para estarmos preparados para atender a demanda que virá”.
Para destravar o mercado Querichelli sugere que o BNDES retome o Finame com taxas de longo prazo que levem em conta o mercado futuro, que projeta a queda constante dos juros ao longo deste e do próximo ano.