São José dos Pinhais, PR – Há 43 anos no setor industrial, sendo 25 deles na Renault, Vagner Mansan, que dirige as duas fábricas da empresa no Brasil, a de veículos de passeio e a de utilitários, contou que sempre se preocupou com diversidade e inclusão, mesmo quando esses temas não eram tão debatidos como hoje nem faziam parte da jornada de sustentabilidade das empresas.
Tanto que, assim que assumiu seu desafio na “terra de Marlboro”, como definiu São José dos Pinhais, quando o município conurbado a Curitiba ainda não possuía tradição no setor automotivo, em 1998, avaliou que era o momento ideal para começar a fomentar a presença de mulheres no chão de fábrica – algo, até então, pouco usual, uma vez que montadoras eram ambiente majoritariamente masculinos e ainda o são, com a diferença de que agora existem metas de inclusão das mulheres, inclusive em cargos de liderança.
O então gerente de carroceria convidou a engenheira química Maria Fernanda Toscano, 38 anos, para ingressar na planta, 23 anos atrás, como estagiária. Ela tornou-se chefe de produção e, atualmente, comanda equipe de trezentas pessoas à frente do departamento de pintura dos veículos e dos parachoques. Além dela recrutou também outras profissionais.
“Queria começar a dar um ar feminino em um ambiente que só tinha homens. Essas meninas fizeram grande transformação que mudou a parte social da empresa. As pessoas começaram a ter mais respeito e a valorizar mais a mulher. Digo que talvez elas tenham sido pioneiras na Renault para abrir esse grande caminho.”
Mais recentemente, durante sua passagem pela Renault na Argentina, onde permaneceu por quase seis anos e de onde retornou em fevereiro de 2022, Mansan também convidou a engenheira química Paula Boe, 39, para tornar-se gerente de qualidade e trilhar trajetória na fábrica brasileira, em que está trabalhando há onze meses. Há onze anos na companhia ela foi transferida junto com seu marido, que também trabalhava na fábrica.
Hoje, na Renault do Brasil, 15% dos 6 mil funcionários são mulheres, novecentas. Ao colocar uma lupa nos cargos de gestão este porcentual vai a 21%. Se for feito um recorte no chão de fábrica, olhando desde as operadoras às gerentes, 16% são mulheres. E no comitê de gestão das fábricas, formado por 25 diretores e gerentes que tomam as decisões que impactam as linhas de produção, há 40% de representatividade feminina.
“Um headhunter conhecido no mercado me disse, dia desses, acreditar que hoje no Brasil somos benchs [abreviação de benchmarking] em termos de comitê de direção. Como montadora com certeza nós somos.”
Reaproveitamento de resíduos e uso de energia renovável também estão no foco
Quanto à preocupação com o meio ambiente, outra premissa da montadora, o Complexo Industrial Ayrton Senna possui 900 mil m2 dos 2,5 milhões de m² de área de Mata Atlântica. Mansan ilustrou que mais de 47 mil toneladas de resíduos foram reaproveitados no ano passado e lembrou que o espaço é aterro zero e a fonte de energia é 100% renovável:
“Trabalhamos constantemente para controlar a demanda. Já tivemos recuo de 11% no consumo por veículo e de 12% por motor fabricados”.
Em julho a Renault anunciou que terá como sua principal fonte de eletricidade a energia fotovoltaica e que, desta forma, migrará da fonte hídrica. A partir de parceria com Complexo Fotovoltaico de Castilho, SP, tornar-se-á autoprodutora desse tipo de energia e fornecerá 85% da energia elétrica consumida nas fábricas de veículos e no centro administrativo. A meta é que 100% da eletricidade sejam de origem fotovoltaica em dezembro.