Participação saltou de 4,6% para 21,2% na última década
São Paulo – Ao longo de uma década a China tornou-se o principal exportador para a América Latina, ao saltar de 4,6% para 21,2% do total de produtos importados pelos países da região, com exceção do Brasil. Levantamento realizado pela Anfavea aponta que os produtos asiáticos estão tomando espaço de veículos fabricados na região, como os brasileiros, que perderam a liderança no ranking: no mesmo período em que os chineses galgaram 16,5 pontos porcentuais no total das importações de países latinos o Brasil recuou 3 pontos porcentuais, ao reduzir sua representatividade de 22,5% para 19,4%.
Na avaliação do presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, “há uma invasão de produtos chineses na região e se o País não avançar neste mercado acaba perdendo terreno para outros que estão chegando”.
O crescimento chinês tomou espaço também de outros gigantes, como Estados Unidos e Canadá, que recuaram 3,8 pontos porcentuais, de 21,7% para 17,9%, e Japão e Coreia do Sul, que perderam 7,1 pontos porcentuais ao passarem de 19,8% para 12,8% do total de importações da região.
Além disso países da União Europeia tiveram participação reduzida de 12,9% para 8,3%, ao encolherem 4,6 pontos porcentuais, e o México passou de 6,8% para 3,9%, recuo de 2,9 pontos porcentuais.
Ao lado da China Índia e Indonésia ampliaram sua representatividade na região. Os indianos avançaram os mesmo 2,9 pontos porcentuais perdidos pelos mexicanos, e passaram de 2,2% para 5%. E os indonésios, até então sem tradição nessa indústria, subiram de 0,2% para 1,5%, incremento de 1,3 ponto porcentual.
“Trata-se de cenário muito preocupante. Estamos perdendo competitividade e o nosso mercado tradicional. Enquanto isso os asiáticos estão entrando com preços baixos e tomando espaço.”
Em vinte anos chineses passaram de quarto a maior produtor global
Outro estudo realizado pela entidade com base nos dados da Oica mostra que nos últimos vinte anos diversos países ampliaram sua produção focados no mercado de exportação. A China, por exemplo, avançou do quarto lugar, em 2003, para líder automotiva mundial, em 2022, com 27 milhões de veículos produzidos.
“Os países não estão focados nos seus mercados internos e, desta forma, seguem ampliando sua produção”, disse Leite, ao lembrar que, em 2006, por exemplo, os chineses produziam 4 milhões de unidades. Hoje esse o volume se multiplicou por quase sete vezes.
Os Estados Unidos, neste período, caíram para a segunda colocação, com 10,1 milhões de unidades. Na terceira está o Japão, que também perdeu uma posição, com 7,8 milhões de veículos. Em quarto lugar aparece a Índia, com 5,5 milhões de unidades — duas décadas atrás estava na décima-quarta posição.
O Brasil, neste período, ganhou duas posições – tendo ocupado a sexta colocação em 2008 e 2009 – e é, hoje, o oitavo maior produtor do mundo, com 2,4 milhões de unidades, atrás de México, com 3,5 milhões, Alemanha, com 3,7 milhões e Coréia do Sul, com 3,8 milhões, além dos demais citados.
Passado o período mais agudo da pandemia, e da escassez de semicondutores, o mercado global avançou 6,7%, com 84,1 milhões de veículos de julho de 2022 ao mesmo período em 2023.
“O Brasil é um País que não perde a oportunidade de perder uma oportunidade. Continuamos na faixa de 2,4 milhões, estamos andando de lado. Não é que o Brasil deixou de crescer, mas está perdendo espaço no mercado global pois, à medida que o mundo cresce e o País se mantém estável, há a perda de competitividade no cenário global.”
Neste período de um ano a China cresceu 4,2%, para 25,6 milhões de unidades. A América Latina, por sua vez, ampliou suas vendas em 1,3%, para 3,8 milhões de unidades.
O dirigente destacou que se China, Índia e Indonésia ampliaram suas exportações para a América Latina nos últimos anos, mas o Brasil não, liga-se sinal de alerta: “O País diz que não consegue exportar. Mas se os mercados continuam sendo ampliados, quem é que está vendendo a eles?”.