COO da Stellantis América do Sul está de mudança para Michigan, Estados Unidos, onde assumirá como CEO global da Jeep
São Paulo – Antonio Filosa estava planejando aproveitar mais o sol da Bahia. Comprou uma casa na região Sul do Estado e finalizava a instalação da internet wi-fi, para que de lá pudesse trabalhar, quando recebeu um telefonema da matriz da Stellantis, empresa na qual ocupava a posição de COO para a América do Sul desde a fundação, em 2021: seu colega Christian Meunier, CEO global da Jeep, estava deixando a empresa. E o escolhido para sucedê-lo era ele. O tempo instável e frio de menos 30 graus de Michigan, Estados Unidos, será, a partir de agora, sua nova realidade.
Sob sua direção, a Fiat, principal marca da companhia no mercado sul-americano, saltou de 9,6% para 14,5% de participação na região, de 2018, quando assumiu a presidência da FCA, ainda antes da fusão, até setembro deste ano. Passou de terceira a primeira marca mais vendida do mercado. A Jeep saltou de 3% para 4% e a Ram triplicou as vendas. Peugeot e Citroën também cresceram, mas estas, na avaliação do próprio Filosa, poderiam ter desempenhado melhor.
No geral, as marcas da Stellantis respondem por 24% das vendas na América do Sul, contra 16% quando assumiu o cargo. É a empresa que mais vende veículos no Brasil, na Argentina e no Chile, os três maiores mercados da região. A divisão também sempre entregou resultados financeiros positivos. Com esses números à vista fica fácil explicar porque Filosa foi o escolhido pelo CEO Carlos Tavares para chefiar a segunda maior marca da Stellantis e que somente em 2023 deverá vender 1 milhão de veículos.
“Como o Brasil é o segundo maior mercado da Jeep no mundo, estarei sempre por aqui”, afirmou o executivo a jornalistas na sexta-feira, 20, já em seu processo de despedida. À frente do Brasil apenas os Estados Unidos em volume de vendas. “Devo visitar a fábrica de Goiana [PE] com alguma frequência. Não é um adeus, mas um até breve”.
À frente da Jeep Filosa terá como desafio ampliar a presença de uma marca muito forte na América do Norte, e se fortalecendo na América do Sul, em outras regiões. Na China, por exemplo, o maior mercado automotivo do mundo, os veículos Jeep são apenas importados: não há mais produção local.
O executivo, pelo fato de a Stellantis estar em período de silêncio devido aos calendários das bolsas de valores nas quais é listada, não pode dizer quais são os planos para a marca no mundo. Mas garantiu que deixa o Brasil em boas mãos.
Em 1º de novembro o italiano Emanuele Cappellano assume o atual cargo de Filosa na América do Sul. Será um retorno à Stellantis, onde trabalhou por quase vinte anos, oriundo da Fiat e depois FCA. Tem passagens inclusive na América do Sul, onde chegou a CFO. O executivo, que estava no Grupo Marcolin, um dos maiores fabricantes de óculos do mundo, se mudará de Nova Iorque, Estados Unidos, para Belo Horizonte, MG, para ficar próximo à mais importante fábrica da região, em Betim.
“Tenho certeza de que a Stellantis está em boas mãos. Cappellano é um executivo competente e conhece o Brasil”.
Um de seus primeiros desafios será dar continuidade às negociações para a renovação dos benefícios do Regime Especial do Nordeste até 2032. O tema deverá ser incluído no relatório da reforma tributária, que tramita no Congresso.
Filosa defende a renovação: “A Stellantis tem três pilares importantes, que acredito que serão seguidos pelo meu sucessor: a nacionalização da produção, a descarbonização e a descentralização da indústria automotiva. Goiana é um exemplo deste último: levamos uma fábrica ao Nordeste mesmo com enormes desvantagens de logística e capacitação, por exemplo. Precisamos desenvolver fornecedores e força de trabalho, o que tem um custo. O regime do Nordeste mitiga parcialmente estas desvantagens”.
Ele defende a renovação já com um calendário para a redução destes benefícios, de forma que a companhia possa ter previsibilidade para que possa continuar a operação. “É importante para planejarmos nossos investimentos”.