Até o primeiro trimestre de 2025 deverá entrar em operação nova unidade, dentro do processo de terceirização da montadora
São Paulo – O processo de terceirização de algumas atividades da Mercedes-Benz, anunciado em 2022, ganhou um novo capítulo: a produção de eixos dianteiros será transferida para a Suspensys, do Grupo Randoncorp, a partir de 2025. A fabricante de eixos e suspensões para veículos comerciais, sediada em Caxias do Sul, RS, construirá unidade em Mogi Guaçu, SP, onde se ocupará da produção de componentes para caminhões e ônibus da montadora.
Em dezembro o Cade, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, aprovou sem restrições o contrato das duas empresas e, conforme fato relevante publicado pela CVM, Comissão de Valores Mobiliários, meses antes, a previsão de início da operação é no primeiro trimestre de 2025, e a expectativa é a de que o negócio gere receitas adicionais de até R$ 7 bilhões em dez anos, a vigência do contrato.
À época do anúncio do contrato feito pela Randoncorp, em outubro, quando o nome da fabricante ainda não havia sido revelado, a companhia posicionou-se dizendo que “este movimento fortalece a estratégia de longo prazo da Suspensys, adiciona uma gama de produtos inédita ao seu portfólio e amplia sua presença no mercado OEM, reforçando sua parceria com uma grande montadora global com atuação no Brasil”.
Sediada em Caxias do Sul, empresa controlada pela Randoncorp construirá unidade em Mogi Guaçu, mas investimento ainda não foi aberto. Foto: Divulgação.
O presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO para a América Latina, Achim Puchert, afirmou que o processo de reestruturação e terceirização da empresa está caminhando.
“Já terceirizamos todos os serviços de logística e agora está em processo a transferência de produção de eixos para a Randon, o que é um pouco mais demorado, pois depende de acordo com sindicato. Mas estamos avançando e esperamos conclui-lo até o fim deste ano.”
Achim Puchert, presidente e CEO da Mercedes-Benz
De acordo com o diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Aroaldo Oliveira da Silva, que também preside a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC e a IndustriALL-Brasil, o eixo dianteiro possui processo de produção menos complexo do que o traseiro, que continuará sendo fabricado dentro da empresa.
A medida, que contribuirá para diminuir o custo de produção e também o preço final do caminhão, reduzirá de duzentos a trezentos empregos de acordo com o o sindicalista. “Estamos conversando sobre como ficará a situação destes operários.”
O primeiro passo será entender a proposta da empresa e verificar alternativas. Uma das possibilidades é o remanejamento dentro da própria fábrica, porém, se não houver demanda suficiente, a depender do mercado, será verificada a chance de transferência dos profissionais que tiverem interesse para a empresa que fará a terceirização do processo.
São Bernardo do Campo, SP, e Mogi Guaçu, porém, estão a 181 km de distância, o que dá em torno de duas horas de viagem de carro, cada trecho.
Trabalham na fábrica de São Bernardo do Campo em torno de 8,5 mil profissionais. Foto: Adonis Guerra/SMABC.
Em 2023 oitocentos temporários não tiveram seus contratos renovados
No ano passado, na sede da empresa, o ritmo lento das vendas de pesados 0 KM devido à mudança para o Euro 6 e às dificuldades do contexto econômico que envolvem juros altos e crédito escasso, não permitiu a renovação de contratos de trabalho temporários encerrados em maio, de trezentos profissionais, e em dezembro, de outros quinhentos.
Tal cenário preocupa, uma vez que, isolada, a decisão de terceirizar atividades de logística, manutenção, fabricação e montagem de eixos dianteiro e transmissão média, ferramentaria e laboratórios põe em risco 3,6 mil empregos, sendo 2,2 mil diretos e 1,4 mil temporários em São Bernardo, onde trabalham hoje 8,5 mil profissionais.
Silva ponderou que, ao menos, a Mercedes-Benz possui característica não comum a todos do setor e prevista nos acordos coletivos de que, assim que o mercado reage a uma crise e a demanda por caminhões e ônibus volta a aumentar, os profissionais dispensados na baixa são chamados para reintegrar o efetivo da empresa, ainda que temporariamente.