Equipe de 1,5 mil profissionais em Camaçari exerce papel de destaque global nas tecnologias embarcadas
São Paulo – Ao se colocar como uma empresa que desenvolve soluções de mobilidade, ao mesmo tempo em que decidiu por encerrar qualquer produção de veículo no Brasil, a Ford optou por manter a equipe de engenharia que desenvolve em Camaçari, BA, soluções de conectividade presentes em automóveis e comerciais leves da marca no mundo todo. Atualmente, 35% dos chamados features de TI, ou seja, funcionalidades embarcadas nos veículos, são criadas e aprimoradas no centro baiano.
Foi o que afirmou Luciano Driemeier, gerente global de novos negócios conectados da Ford, durante apresentação dedicada a mostrar como a companhia vem transformando a experiência do consumidor a partir da conectividade e do uso da inteligência artificial. Outro dado ressaltado por ele é que 85% do trabalho desenvolvido na unidade brasileira é utilizado por veículos que circulam nos Estados Unidos, na Europa e na China.
Acerca das funcionalidades made in Camaçari destacam-se o recurso do one pedal drive presente no SUV 100% elétrico Mustang Mach-E, que permite dirigir usando apenas o acelerador, sem acionar o pedal do freio, assim como a zone lighting, que controla as luzes externas da picape F-150, inclusive na sua versão elétrica.
“Quem não entrar na conectividade provavelmente estará fora deste mercado”, disse Driemeier, ao citar a importância da comunicação autônoma, uma vez que os veículos Ford vêm com seu próprio modem e SIM card e mandam informações para a nuvem toda vez que eles são ligados e desligados.
Além de proporcionar ganhos enquanto se está dentro do carro, ressaltou, com recursos como frenagem eletrônica a fim de ajudar a evitar acidentes e auxílio para estacionar, por exemplo, agora há o benefício de se antecipar problemas e agilizar soluções ao que for inevitável.
Se antes, diante de qualquer falha, o proprietário tinha de levar o veículo à concessionária e deixá-lo estacionado por dias, agora é identificado um padrão e as peças já estarão disponíveis quando o problema começar a aparecer, segundo o executivo. Mais: ao integrar sete plataformas da fábrica um trabalho dos engenheiros que antes consumia dois dias hoje é possível ser acessado em segundos, com um clique, pois a informação é automatizada.
Outra melhoria citada por Driemeier é a capacidade de alterar alguma função do veículo que não seja bem aceita por clientes sem ter de esperar uma nova geração, tudo de forma digital. Trata-se do over-the-air, que modifica todos os veículos globalmente, a não ser quando a atualização é regional e afeta funcionalidades exclusivas de um mercado, a exemplo de avanços permitidos conforme a legislação local, como o sistema de direção semiautônoma bluecruise, que permite dirigir sem as mãos no volante em trechos selecionados de rodovias na América do Norte.
“Tivemos muitas reclamações acerca da regulação do ar-condicionado, antes feito de forma digital, por meio do touch screen. Transformamos isto via over-the-air, transferindo essa função para um botão existente no veículo. Ou seja: se antes o carro nascia e morria do mesmo jeito, hoje ele morre diferente do jeito que nasceu.”
Como esta atualização foi feita antes de o produto chegar ao Brasil ele já entrou no mercado local com a alteração realizada na própria linha de montagem: “Todos os nossos veículos saem de fábrica 100% conectados, e a ideia é que um mesmo produto seja atualizado dali a um trimestre”.
Outra funcionalidade citada, por exemplo, é que se acender uma luz apontando que há excesso de água no combustível essa informação vai para o Ford Pass e ali é orientado o que fazer. Se o alerta for severo e puder trazer problema de segurança ao condutor ele receberá uma ligação do call center.
Tudo isto acontece no Command Center, na sede da Ford em São Paulo, na Vila Olímpia, onde diariamente são lidos, filtrados e cruzados 90 milhões de linhas de dados dos mais de 100 mil carros conectados não só no Brasil como na Argentina.
“Futuramente, conforme os carros autônomos avançarem, será possível antever um acidente se o sistema perceber que quinze carros à sua frente frearam bruscamente: eu não preciso me assustar e fazer essa manobra. O veículo será avisado e fará de forma preventiva. Tudo graças à conectividade aliada à inteligência artificial e ao capital humano.”
Apagão tecnológico preocupa futuro da conectividade
Essa é outra preocupação da Ford: como lidar com a falta de mão de obra qualificada. Pesquisa da Brasscom de 2021 já apontava, àquela altura, que até 2025 haverá déficit de 532 mil profissionais da área de tecnologia. É o cenário que Roberta Mädke, gerente de responsabilidade social da Ford América do Sul, chama de apagão tecnológico.
Ela mencionou outro estudo, da Amcham, de 2023, em que a partir do relato de 153 empresas, 97% delas têm dificuldade para preencher vagas relacionadas à tecnologia. A maior demanda, de 15,2%, está no profissional desenvolvedor de software.
“Se não tivermos mão de obra especializada para trabalharmos nisso talvez não consigamos usar todo o potencial tecnológico disponível.”
Por isto desde o fim de 2022 a companhia criou seu programa de qualificação Ford Enter. De lá para cá foram capacitados cem alunos, dos quais mais de 50%, segundo Mädke, estão empregados e trabalhando na área de tecnologia.