Pesquisa realizada com mais de 1 mil executivos ao redor do mundo, sendo 33 no Brasil, chama atenção ao fato de que o aumento da confiança nessa tecnologia é ponto em comum
São Paulo – A transição da indústria automotiva global para a eletrificação está em curso e é um caminho sem volta. O que pode ser observado a partir de respostas de executivos do setor em pesquisa global realizada anualmente pela KPMG, em sua vigésima-quarta edição, é que a confiança na eletrificação é crescente e que as parcerias com empresas de tecnologia – no caso do Brasil, startups do setor – é um atalho para embarcar cada vez mais tecnologia e tornar realidade questões de cibersegurança.
O levantamento chamado Global Automotive Executive Survey trouxe, após hiato de cinco anos, recorte do Brasil. Foram entrevistados em todo o mundo 1 mil 40 executivos, sendo 33 brasileiros – metade deles CEOs, não só de montadoras como de comercializadora de veículos e autopeças relevantes.
À época em que foram aplicados os questionários, em 2023, chamou atenção o fato de que, em edições anteriores, as respostas eram bastante variadas e, na última, mais uníssonas, demonstrando maior crença na eletrificação.
“Foi possível notar que quem antigamente não confiava em um veículo elétrico hoje está muito mais confiante”, disse Ricardo Roa, líder do setor automotivo da KPMG no Brasil. “E no Brasil, em que combinamos elétrico com eletrificado de fato, caso do híbrido e do híbrido plug-in, também é realidade.”
Roa ressaltou que dos respondentes brasileiros, no ano passado, somente 20% acreditavam na consolidação da eletrificação, com um olhar mais maduro da transição: “Se analisarmos o cenário hoje, efetivamente para 2024, tenho convicção de que praticamente triplicaria este porcentual de respostas dos executivos C-Level”.
A ebulição do mercado, chacoalhado com a maior presença de GWM e BYD, com produtos tecnológicos e preços agressivos, se concentrou no fim do ano passado. Este ano, após o anúncio do Mover, Mobilidade Verde e Inovação, atraiu, segundo a Anfavea, R$ 66 bilhões em novos investimentos pelas montadoras somente em 2024, muitos dos quais dedicados à produção de veículos menos poluentes, principalmente híbridos flex.
A forma com que o avanço dos eletrificados no mercado brasileiro vem acontecendo, agora em ritmo acelerado, tem um lado positivo, ressaltou Roa, ao reconhecer que o movimento deverá acelerar a corrida pela infraestrutura necessária no Brasil para atender a esta tecnologia de propulsão:
“Hoje a gente tem pouco mais de 3 mil postos de recarga e já vemos BYD fazendo parceria com a Raízen, dentre outros, para construir mais pontos. Trata-se de tendência gigante de crescimento alavancada por estratégia de mercado. E vai mexer com o mercado brasileiro, que começará a ter portfólio de projetos e, com variedade de produtos eletrificados, passaremos a ter competitividade de preço”.
Foi perguntado aos entrevistados qual a porcentagem de veículos eletrificados que deverá ocupar o market share até 2030: destaque para a China, que aposta em 36%, e Estados Unidos, 33%. Para Brasil a fatia estimada foi de 19%. No entanto, eles crêem que até lá ainda serão necessários subsídios do governo para que os eletrificados conquistem seu espaço em detrimento dos veículos a combustão. Houve quem apostasse na necessidade de estendê-los até 2035, ou até por mais tempo.
Dentre as conclusões do estudo foi constatada a necessidade de se diversificar as apostas, algo que já é realidade no Brasil: “Embora as empresas dependam das tomadas de decisões das matrizes já está estabelecido que não haverá migração direta ao elétrico por aqui até porque há o recurso natural da cana-de-açúcar”.
Só a China ampliou otimismo quanto ao aumento do lucro
Quanto às expectativas frente à cadeia de suprimentos a China destoa do restante do mundo, uma vez que 28% dos respondentes demonstraram preocupação nos próximos cinco anos, principalmente no que se refere a insumos das baterias, como lítio e cobalto. No restante do mundo esse porcentual sobe a 50%.
O que pode explicar essa diferença é o fato de que a China é exploradora de minérios e, portanto, mais autossuficiente, enquanto que os demais países são importadores, e a partir do momento que essa tecnologia chegar à grande massa isto será uma inquietação.
Não à toa, quando perguntado sobre a preocupação da indústria em relação ao crescimento do lucro nos próximos cinco anos, a China foi a única a aumentar a confiança de 2022 para 2023, e os demais diminuíram um pouco este aspecto. Como no Brasil não houve participação na edição anterior foi contabilizado apenas que os executivos estão otimistas.
No Brasil parcerias com startups deverão ganhar destaque
Sobre quem seriam fortes competidores em veículos autônomos nos próximos cinco anos boa parte indicou gigantes da tecnologia como Apple, Google e Samsung. No Brasil, especificamente, há aposta na Apple.
O líder do setor automotivo da KPMG avaliou que atualmente a companhia tem a opção de surfar nessa concorrência, mas que se trata de algo embrionário e que ele não acredita que isso esteja próximo da realidade nem no médio prazo, até porque no País não há, atualmente, essa tecnologia.
“Houve um sentimento global de que a Apple estaria mais à frente até do que a BYD para veículos elétricos até 2030. Como a maior parte dos respondentes é dos Estados Unidos, trezentos deles, eles citam mais a Tesla e acreditam que as empresas de tecnologia entrarão no sistema do setor automotivo no médio e longo prazos.”
Fato é que hoje é mais fácil um gigante de tecnologia desenvolver um veículo smart do que um grande montador automatizá-lo com uma tecnologia avançada, “e é por isto que as parcerias precisam ser costuradas e realizadas”.
Pode ser que no Exterior, a exemplo dos Estados Unidos, seja feita parceria criativa com a Apple, exemplificou o executivo. Mas, aqui, ele acredita que essa parceria se dê mais com startups de desenvolvimento de tecnologia do que efetivamente com grandes empresas do setor. Dessa forma a marca dos veículos é mantida ainda que haja a colaboração.