São Paulo – Dos 81,6 milhões de veículos comercializados ao redor do mundo no ano passado, em torno de um terço são elétricos. Considerando, no entanto, que todos eles já fossem movidos 100% a bateria, levaria 17,6 anos para que a frota global de 1,5 bilhão de veículos fosse renovada. É o que aponta levantamento do Sindipeças apresentado durante o Seminário AutoData de Negócios Automotivos, que também fez recorte para o Brasil, onde a frota circulante é composta por 46 milhões de veículos: aqui este tempo seria um pouco maior, de quase vinte anos, caso os 2,4 milhões de emplacamentos de 2022 fossem de elétricos.
Há de se considerar que, no País, há a dificuldade com relação aos preços dos veículos, às rendas das famílias e à infraestrutura de recarga.
“Isso mostra que o motor a combustão ainda tem uma vida muito longa”, assinalou o presidente do Sindipeças, Cláudio Sahad. “Entendemos que as rotas tecnológicas têm de conviver, mas não podemos deixar de considerar que o Brasil possui competitividade para produzir veículos a combustão abastecidos com combustíveis de menor pegada de carbono.”
Existe aí oportunidade de buscar para si fatia expressiva de produção, o que pode ser substancialmente ampliado ao reforçar a exportação de motores a combustão e seus componentes, uma vez que a partir de 2030 ou 2035 a Europa e os Estados Unidos banirão a fabricação de veículos do tipo.
Ao mesmo tempo, há o desafio de transferir as demandas do continente europeu para outros países, não só da América Latina mas, também, de outras regiões. Por isto o governo precisa começar a trabalhar na ampliação de acordos comerciais, propôs Sahad.
Exportações de motores e seus componentes vêm numa crescente
De 2020 a 2022 as exportações de autopeças cresceram 64%. No ano passado o valor obtido alcançou US$ 8,3 bilhões e, até março de 2023, US$ 2,1 bilhões, o que indica que o ritmo será mantido.
Só com motores e seus componentes houve aumento de 42,5% neste período, sendo que em 2022 as exportações de motores renderam US$ 815,1 milhões e as de componentes US$ 2,1 bilhões, totalizando US$ 2,9 bilhões. No primeiro trimestre foram US$ 715,8 milhões.
Nos últimos quatro anos, com base em informações do MDIC, Mistério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, as exportações de motores representaram, em média, 11,6% das exportações totais de autopeças. As de componentes para motores, por sua vez, significaram 26,4%.
A maior parte do comércio exterior de motores, 70%, foi para as Américas e 28% para a Europa. Quanto aos componentes 63,2% foram para as Américas, 28% para a Europa, 7,4% para a Ásia e 1% para demais regiões.
“Temos uma grande dependência da Europa. Precisamos mudar isto e redirecionar estes itens. Mesmo que a produção não aumente conquistar novos mercados será necessário para garantir escala mínima e assegurar que a produção permaneça no País.”
Ao mesmo tempo há possibilidade única para o Brasil, ressaltou: “Considerando que o motor a combustão tem cinquenta anos de vida útil no mundo, e que Estados Unidos e Europa interromperão a sua produção, o Brasil tem de ser candidato natural. Por isso precisamos de acordos comerciais e competitividade.”
Brasil tem oportunidade única para concentrar esta produção nos próximos anos
Sahad estimou que a concentração da produção de motores e componentes deverá ocorrer no Brasil, México, Índia e China, embora este último país, em paralelo, também foca na eletrificação. Sua ideia é limpar os grandes centros urbanos e levar a poluição para onde produzem energia, boa parte gerada por usinas termelétricas que usam carvão.
Dentre as vantagens do Brasil o presidente do Sindipeças destacou que, em diversas situações, o motor a diesel feito para caminhões também atende às máquinas agrícolas e aos equipamentos rodoviários e para construção.
“O setor de autopeças é muito verticalizado, especialmente na produção de motores. E possuímos a maior cadeia de fornecimento e a engenharia mais robusta de como China, Índia, México e Rússia, que perdeu força com a guerra com a Ucrânia.”
Outro ponto mencionado foi que, se o Brasil buscar por descarbonização no curto prazo, é possível obtê-la com o veículo flex abastecido com etanol, uma vez que há estudos que mostram que ele emite a mesma quantidade de CO2, ou menos, do que um elétrico rodando na Europa: “Precisamos, porém, criar formas de estímulo ao etanol, uma vez que 85% da frota brasileiras é flex, mas a maioria abastece com gasolina”.