São Paulo – A Stellantis, partindo da premissa de que a transição para a eletrificação deva ocorrer de forma gradativa e que a hibridização aliada ao etanol é peça fundamental para conduzir este movimento no Brasil, estima que em 2030 em torno de 20% do mix de vendas no mercado brasileiro serão de veículos eletrificados, incluídos EVs, 100% elétricos, PHEV, híbridos plug-in, HEV, híbridos de alta voltagem, e MHEV, micro híbridos.
Ao levar em consideração a demanda por células necessárias para fabricar as baterias dos carros eletrificados em produção até lá serão necessárias de 20 milhões a 30 milhões, o que já justificaria o estabelecimento de uma fábrica para fornecer células de bateria para a América do Sul. Foi o que estimou João Irineu Medeiros, vice-presidente de assuntos regulatórios da Stellantis para a região, durante o Conexão Sindipeças, evento realizado de forma online na quarta-feira, 22.
O executivo afirmou que a bateria é de fato um desafio, principalmente porque representa 40% do custo do carro e pesa de 300 quilos a 400 quilos: “Dentro do processo de produção das baterias há a mineração dos materiais críticos, e o Brasil possui pelo menos oito deles aqui, na forma de minas e reservas. Há, ainda, a purificação desses materiais e, depois, a fabricação da célula, o processo mais caro.”
De acordo com Medeiros uma fábrica de baterias custa aproximadamente US$ 4 bilhões para 600 mil carros por ano: “Esta é a visão de médio prazo que o Brasil poderia estar se preparando para poder plantar esta trajetória e pavimentar esta estrada a fim de fornecer bateria a partir de 2030”.
Para o vice-presidente da Stellantis a combinação da eletrificação de biocombustíveis com o motor de combustão atual é o melhor processo e o mais equilibrado para se fazer essa transição de forma gradual. E alertou: sair de um carro a combustão para um 100% elétrico significa desativar toda a cadeia produtiva “até porque não é só o motor de combustão interna, mas todos os seus componentes, a transmissão, sistemas de aspiração, de escapamento e de alimentação de combustível. Ou seja: tudo aquilo que compõe o motor, processo de powertrain e todos os seus agregados necessários para o funcionamento do motor e da transmissão”.
Um carro médio, contou, possui em torno de 4 mil componentes ao passo que um elétrico de 20% a 30% menos.
Sindipeças propõe elaboração de lista conjunta de nacionalização
Para avançar na jornada da descarbonização é fundamental promover a localização de peças pois, além de trazer riqueza e geração de emprego, ajuda no custo dos veículos e coloca a obrigação de desenvolver e extrair o máximo de determinada tecnologia, apontou Medeiros.
“É importante nacionalizar tecnologias que já existem e que vamos precisar adotar nos nossos carros. Precisamos trabalhar de forma concatenada e sincronizada com este propósito.”
Como exemplos ele citou baterias de lítio, motores elétricos, controladores, desenvolvimento do etanol e evolução do motor etanol: “Tudo isto faz parte de conjunto de ações que precisamos estabelecer juntos para que tenhamos sucesso na transição energética. Só não podemos simplesmente cruzar os braços e esperar que isto aconteça. Temos de desenhar a nossa transição em vez de esperar que façam para nós”.
O vice-presidente da Stellantis mencionou que algumas tecnologias se tornarão obrigatórias a partir de 2028 e 2029 no quesito segurança veicular, que atualmente são compostas de partes ou componentes totalmente importados, como por exemplo a câmara de ré. E projetou que o volume subirá de 60 mil por ano para até 2,5 milhões por ano, uma vez que todos os carros terão uma.
“Podemos fazer uma lista de tecnologias que, de agora até 2030, será incrementada ano a ano. É este tipo de pensamento de curto, médio e longo prazo que nós precisamos colocar no papel e planejar juntos. Nós, como Stellantis, temos uma responsabilidade muito grande, uma vez que possuímos 30% do mercado, mas temos de contar com a ajuda de todos para que possamos fazer planejamento estruturado e sustentável que envolva descarbonização, segurança veicular e emissões de gás poluentes e outras coisas mais.”
O presidente do Sindipeças, Claudio Sahad, sugeriu, então, que seja elaborada lista em conjunto com a montadora para que sejam nomeados os componentes e tecnologias mais demandados e a entidade fará a ponte com os fornecedores com o intuito de que sejam produzidos no Brasil.