São Paulo – Fabricantes de chassis reconhecem a oportunidade de ampliar suas vendas por meio da exportação de ônibus made in Brazil, principalmente em tempos em que o dólar se mantém acima dos R$ 5. Mas, embora algumas empresas direcionem quase a metade de sua produção para outros mercados, o setor lida com o desafio de competir com produtos de origem asiática, que além da variedade de marcas e amplitude da presença, oferecem produtos bem mais baratos do que os nacionais.
O assunto foi debatido durante o Fórum AutoData Perspectivas de Ônibus 2024, realizado na segunda-feira, 23, por Danilo Fetzner, vice-presidente da Iveco Bus, Jorge Carrer, diretor de vendas de ônibus da Volkswagen Caminhões e Ônibus, Paulo Arabian, diretor comercial de ônibus da Volvo, e Walter Barbosa, vice-presidente de vendas e marketing de ônibus da Mercedes-Benz.
“Os asiáticos estão deitando e rolando onde isto não acontecia antes”, disse Arabian. De tudo o que é produzido em chassis pela Volvo em Curitiba, PR, 55% atende ao mercado interno e outros 45% são exportados – porcentual que já chegou a 65%, o que também é devido à maior demanda local.
O diretor comercial da Volvo chamou atenção à “grande dificuldade de se manter as exportações com a porteira aberta nos países latinos e preços finais que, muitas vezes, estão abaixo do custo de produção no Brasil”, disse, referindo-se à competição considerada desleal por parte dos ônibus, predominantemente, chineses.
Arabian disse que é preciso ponderar, ainda, a complexidade de se fazer em uma mesma unidade produtiva de diferentes plataformas de chassis, Euro 3, Euro 5 e Euro 6, e com a mesma equipe. “E não podemos parar de investir. Portanto, quando vemos que o mercado externo está perdendo relevância, temos um grande desafio pela frente”.
Para a Iveco Bus, que tem na América Latina seu principal mercado, as marcas asiáticas vêm fazendo trabalho intenso principalmente em países como Chile, Peru e Colômbia, relatou o vice-presidente Danilo Fetzner: “Vemos, hoje, ameaças relativamente importantes porque os principais mercados da América Latina são importadores mas, ao mesmo tempo, são completamente invadidos por produtos chineses”.
Fetzner ressaltou, porém, oportunidades em nichos de mercado para energias alternativas ao elétrico, ao lembrar que do fim de 2022 ao início 2023 a empresa ganhou licitação na Colômbia para fornecer ônibus a gás: “Precisamos seguir identificando segmentos em que dá para trabalhar melhor, e em países que consideram o Brasil como seu principal fornecedor”.
No quesito eletrificação Barbosa chamou atenção ao fato de que em países em que esta tecnologia está mais avançada, como Chile e Colômbia, é onde justamente predominam os chineses. E ressaltou que quando não se trata de elétricos a Mercedes-Benz vai muito bem: na Argentina a companhia detém de 70% a 80% do mercado local:
“Estamos otimistas porque, com o novo governo, foram cortados subsídios oferecidos para os argentinos quanto a tarifas de água, luz e transporte, e a taxa de juros foi reduzida para incentivar a renovação da frota de ônibus”.
No México a Mercedes-Benz também lidera, com participação de 44%. Barbosa contou que como o país vive transição de Euro 5 para Euro 6 o mercado está extremamente aquecido com a antecipação de compras tradicional em meio à mudança de tecnologia.
A exportação é extremamente importante para a empresa, que embarca em torno de 40% de tudo o que produz, o que pode variar ano a ano, já tendo chegado a 50%. Os ônibus também são vendidos para países da África, Oriente Médio e Oceania: “Tem sido uma balança equilibrada. E com o dólar acima de R$ 5 é algo extremamente positivo a exportação para qualquer país. Não há quem fale que não é um negócio bom. É excepcional”.
A Volkswagen Caminhões e Ônibus também tem apostado no mercado externo e expandido suas vendas para nações africanas, do Oriente Médio e, no ano passado, inaugurou unidade de SKD nas Filipinas. Este ano começou a operar fábrica na Argentina, lembrou Carrer: “Fazemos negócios com outros continentes e faz parte dos nossos planos estratégicos ter internacionalização cada vez mais forte”.
Mas, de fato, a palavra que define o mercado externo é desafio, apontou o diretor, ao lembrar, assim como Arabian, que há a dificuldade técnica nas fábricas brasileiras ao se produzir distintas tecnologias de chassis e lidar com a questão de componentes, logísticas e cadeia de fornecedores.
“Questões de competitividade são bastante difíceis. Os asiáticos estão presentes no mundo todo e ao se somar o fato de que os países da América Latina, que no passado tinham muita relevância, sofrerem com instabilidades políticas e econômicas, o cenário se complica”, reconheceu. “Mas, mesmo assim, vale a pena, pois não podemos depender totalmente do mercado brasileiro.”