Na edição de junho da revista AutoData que está no site neste momento, meu sócio, jornalista Vicente Alessi, filho, publicou em sua coluna, Lentes, um artigo de opinião no qual, além de dados e ironia, propõe uma reflexão necessária: por que, afinal, persiste um sentimento de fracasso econômico num Brasil onde os indicadores contam outra história?
O texto de Vicente, intitulado Neste País Infeliz, evoca — propositalmente ou não — o estilo ácido e preciso do jornalista Pedro Cafardo, conhecido por expor os contrastes da realidade com a narrativa. Ambos usam da ironia como recurso para colocar a lupa sobre fatos duros: a economia brasileira vem, há alguns anos, surpreendendo para cima, apesar de previsões reiteradamente pessimistas.
E os números estão aí para provar. Segundo a coluna de Vicente apenas no último ano, 14,7 milhões de pessoas deixaram de passar fome. O PIB do primeiro trimestre de 2024 cresceu 1,4% — superior ao dos países da OCDE e do G7, ambos estagnados em 0,1%. Isso tudo mesmo com uma taxa Selic em 14,75% ao ano, 9 pontos acima da inflação oficial, o que desestimula investimentos e encarece o crédito.
E vai além, pois não é um episódio isolado. Desde 2020 o Brasil surpreende positivamente. Em vez da recessão de 6,5% projetada para aquele ano o recuo foi de 3,3%. Em 2021 o esperado era 3,4%, mas o País cresceu 4,8%. Em 2022 estimava-se um pífio 0,3% mas veio 3%. Em 2023 novamente: expectativa de 1,4% e resultado de 2,9%. E para este 2024, a projeção inicial de 1,6% já foi superada — a nova estimativa é de 3,4%.
Além disso o lucro das empresas também contradiz o discurso de crise. No primeiro trimestre as companhias abertas não financeiras tiveram lucro líquido 30% maior que no mesmo período de 2023, totalizando R$ 57 bilhões. E os quatro maiores bancos brasileiros somaram R$ 28,2 bilhões em lucro no período, com um deles registrando crescimento de 39%.
Na indústria há sinais concretos de retomada: crescimento de 3,1% em 2023 e alta de 1,2% em março sobre fevereiro. O setor automotivo brasileiro, especificamente, tem registrado desempenho acima da média — mesmo diante da concorrência crescente das importações de elétricos asiáticos e dos juros ainda muito altos.
E, ainda assim, o pessimismo segue. Há quem diga que está tudo caro, ignorando que a inflação média anual dos alimentos no atual governo foi de 4,36%, contra 8,24% no governo anterior. Que a inflação geral foi de 4,73% ao ano até agora — bem inferior à média de 6,17% dos quatro anos anteriores. Que a desigualdade está nos menores níveis históricos e a renda per capita no maior patamar já registrado.
Qual é, então, a raiz dessa “bruma pessimista” que embaça o debate econômico?
Vicente levanta uma hipótese incômoda, mas plausível: ou este País tem falhas graves na sua comunicação institucional — pública e privada —, ou a infelicidade não vem, de fato, da economia. Talvez venha da política. Talvez venha da disputa pela narrativa. Talvez venha da negação dos avanços quando estes não combinam com determinadas convicções ideológicas.
O fato é que o Brasil vem dando sinais de vitalidade econômica há anos, e grande parte dos setores produtivos — inclusive o automotivo — segue crescendo, inovando, exportando, investindo. Ignorar isto é desonesto. Silenciar sobre isso é abdicar do jornalismo econômico como ele deve ser: objetivo, crítico e baseado em fatos.
A coluna de Vicente, ao final, nos convida a enxergar o País não pelo espelho retrovisor do ressentimento mas pela lente dos dados — que, gostemos ou não, têm muito a dizer. E talvez já seja hora de escutá-los.