Fábrica da Stellantis em Goiana bate recorde de exportação

São Paulo – A fábrica da Stellantis em Goiana, PE, registrou um novo recorde de exportação ao enviar 4 mil 6 veículos de uma vez para a Argentina, por meio do Porto de Suape. A operação mobilizou dezenas de funcionários e demorou 48 horas até que todos os veículos embarcassem no navio Dover Highway, dedicado exclusivamente à operação.

O lote exportado conta com todos os modelos produzidos em Pernambuco, dos quais o Renegade representou o maior volume, 26%, seguido pelo Jeep Compass 25%, Fiat Toro 24%, Ram Rampage 16% e Jeep Commander 9%.

Michelin anuncia o fechamento da fábrica de Guarulhos

São Paulo – A Michelin anunciou o encerramento da produção de sua fábrica de Guarulhos, SP, onde eram fabricadas câmaras de ar para motocicletas e bicicletas, pneus industriais e produtos semiacabados. Segundo comunicado divulgado na quinta-feira, 26, a decisão “é resultado de uma super capacidade de produção gerada a partir da entrada expressiva de produtos importados da Ásia, que muitas vezes chegam abaixo do custo de produção local, impactando fortemente o segmento de câmaras para motos e bicicletas”.

A companhia afirmou que as tendências de mercado não apontam perspectiva de mudança e, apesar de diversos cenários para contornar a situação terem sido estudados, nenhuma das opções tornaria a continuidade das operações sustentável diante da invasão dos asiáticos: “A decisão de encerrar as atividades foi tomada como último recurso”.

A operação será encerrada de forma gradativa até dezembro. Um pacote com apoio financeiro e serviço de orientação profissional será apresentado aos 350 trabalhadores da fábrica – segundo a companhia a proposta está em negociação com o sindicato local.

“Nesse momento gostaria de destacar o incontestável engajamento da equipe de Guarulhos, em todas as suas funções”, disse Hervé Le Gavrian, CEO da Michelin América do Sul. “Esta decisão, de forma alguma, está relacionada ao desempenho desse time. A empresa está extremamente comprometida em realizar uma escuta ativa e oferecer apoio personalizado às equipes internas durante todo o processo. Nós também garantimos o cumprimento de nossos compromissos com todos os nossos clientes neste momento de transição”.

As demais operações no Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo seguem inalteradas, bem como os mais de 8 mil trabalhadores que a Michelin mantém no País.

Vendas de eletrificados crescem 40% na América Latina

São Paulo – As vendas de veículos híbridos e elétricos totalizaram 204,4 mil unidades na América Latina de janeiro a maio, alta de 40,4% em comparação com idêntico período de 2024. O acréscimo de 58,8 mil veículos neste período elevou a participação dos eletrificados no mercado total de 7,5% para 10,1%.

De acordo com os dados divulgados pela Aladda, entidade que representa os concessionários da região, o Brasil respondeu pelo maior volume, com 92,7 mil unidades, alta de 43% com relação ao acumulado do ano passado, e participação de 9,4%. O México aparece na sequência, com 54,7 mil unidades híbridas e elétricas comercializadas, incremento de 24,4% e fatia de 9%.

A Colômbia completa o pódio com 27,1 mil eletrificados vendidos, número 69,1% maior do que de janeiro a maio do ano passado, e participação de 31,2% no mercado local.

Ainda que com informações distintas, uma vez que a Argentina só forneceu dados de janeiro a dezembro de 2024, foram comercializados no país 14,1 mil híbridos e elétricos no período, 48,4% a mais do que no mesmo comparativo no ano anterior, e participação de 3,5%. E o Chile, com dados de janeiro a abril, vendeu 8,9 mil unidades, crescimento de 126% e fatia de 8,7%.

Continental decide produzir seus próprios semicondutores

São Paulo – A Continental, que em breve passará a se chamar Aumovio, criou uma nova divisão para desenvolver e fornecer semicondutores automotivos, a princípio para atender sua própria demanda. Com cada vez maior aplicação de soluções eletrônicas nos automóveis os semicondutores tornaram-se itens essenciais para montadoras e fornecedores.

A estimativa da Continental é que o setor automotivo movimente até 110 bilhões de euros em semicondutores por ano, globalmente, até 2032. Batizada como AESS, Advanced Electronics & Semiconductor Solutions, a nova divisão terá parceria da GlobalFoundries, uma das líderes globais na produção de semicondutores essenciais.

O projeto prevê que a AESS desenvolva os semicondutores e a GF fique responsável pela produção, dedicada à Aumovio.

Após a pandemia a falta de chips disponíveis para a indústria provocou diversas paralisações em fábricas, atrasos em projetos e escassez de automóveis em diferentes mercados globais. Apesar de aparentemente equalizada a demanda segue cada vez maior, e, para se proteger, a Continental decidiu produzir seus próprios chips.

“A Continental está comprometida com o crescimento sustentável e o setor automotivo do grupo está no caminho certo”, disse disse Philipp von Hirschheydt, membro do Conselho Executivo da Continental e CEO da futura Aumovio. “Para garantir o sucesso futuro, decidimos desenvolver semicondutores internamente. A criação dessa organização de semicondutores sem fabricação própria fortalecerá a posição da Continental não apenas pela redução dos riscos geopolíticos mas, também, pela maneira de se tornar mais autossuficiente neste campo”.

Em veículos leves a expectativa é de desaceleração no segundo semestre

São Paulo – O crescimento do mercado brasileiro de veículos leves tende a desacelerar no segundo semestre diante de fatores como a condição econômica geral, aumento de juros, instabilidade política e conflitos globais. Esta foi a projeção de Frederico Battaglia, vice-presidente da Fiat e da Abarth para a América do Sul, durante painel no Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2025.

Ele participou do evento junto com Ricardo Bastos, presidente da ABVE, que falou sobre o segmento de eletrificados, e Nancy Serapião, chefe da Lexus Brasil, que analisou o mercado premium. São cenários diferentes em cada segmento.

Frederico Battaglia. Fotos: Bruna Nishihata.

Battaglia, que está à frente da líder de mercado, com alto volume e portfólio diverso, relatou que o primeiro trimestre do ano foi positivo para a Fiat, com o crescimento alinhado às expectativas. O segundo trimestre, contudo, já mostra desaceleração no ritmo de crescimento.

Apesar do cenário atual as previsões da Anfavea, divulgadas no fim do ano passado, indicam crescimento para o mercado, com um primeiro semestre de desempenho mais relevante em comparação ao segundo, no qual é esperado crescimento mais moderado.

O executivo destacou que o mercado atual está significativamente menor do que em 2012, quando se aproximava de 4 milhões de veículos: “A distância daquilo que as empresas são capazes de produzir e do que o mercado vem absorvendo faz com que a competitividade que a gente vive hoje já seja muito densa”.

Eletrificados

No caso dos híbridos e elétricos o Brasil vive momento de crescimento significativo: para 2025 está previsto um aumento de mais de 20% nas vendas sobre o ano anterior.

Ricardo Bastos. Fotos: Bruna Nishihata.

O crescimento, que já foi mais vigoroso, passa a ser mais sustentável à medida em que os consumidores ficam  mais familiarizados com a tecnologia e os benefícios dos veículos eletrificados, segundo Bastos, da ABVE: “A demanda não é mais movida apenas pela curiosidade mas também pela escolha consciente dos consumidores”.

Os desafios ainda existem, como a necessidade de mais opções de veículos eletrificados e a adaptação das normas regulatórias, que têm impacto nas vendas. No entanto a oferta de veículos elétricos e híbridos está se expandindo, com diversas montadoras planejando lançamentos no Brasil nos próximos anos.

Com eletrificação, Lexus busca crescimento orgânico

O mercado premium, que representa uma fatia de 2% das vendas totais, tem projeção de encerrar o ano com 54,6 mil unidades, uma alta de 5%, de acordo com Nancy Serapião. As vendas avançaram 13% nos cinco primeiros meses do ano, com a Lexus crescendo um pouco mais.

Nancy Serapião. Fotos: Bruna Nishihata.

O plano da Lexus, que desde 2020 apostou na eletrificação de seu portfólio, para crescer de forma sustentável no Brasil envolve melhorias na experiência do cliente, com foco em atendimento diferenciado e relacionamento emocional.

A marca pretende ser “uma vitrine de novas tecnologias”, alinhando-se às tendências do mercado e às expectativas dos consumidores, com ênfase em veículos eletrificados. O crescimento será orgânico, disse Serapião, priorizando a manutenção da qualidade e fidelização dos clientes.

Fabricantes de veículos comerciais projetam reação no segundo semestre

São Paulo – Apesar das dificuldades do cenário macroeconômico, marcado pela alta da taxa básica de juros, atualmente em 15% ao ano, e das consequentes retrações nas vendas em comparação com o ano passado, fabricantes de caminhões e ônibus estão confiantes em que a reta final de 2025 traga mudanças que propiciem a retomada do mercado, o que deverá ser consolidado em 2026.

Foi o que sinalizaram Clóvis Lopes, gerente comercial de caminhões da Volvo, Marco Pacheco, diretor comercial da Iveco, e Walter Barbosa, vice-presidente de vendas e marketing de ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, durante o Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2025, realizado na quarta-feira, 25.

Clóvis Lopes. Fotos: Bruna Nishihata.

Lopes citou como ponto positivo o elevado nível de emprego, que estimula a indústria e puxa o consumo, que demanda maior necessidade de transporte. Outro fator é a atividade extrativa impulsionada pelos segmentos de mineração, madeira e cana-de-açúcar, que têm gerado negócios. A atividade agrícola, com expressiva produção da soja, e o crescimento de setores exportadores aumentam a necessidade por novos veículos.

“A expectativa é que a Selic mantenha-se alta por mais alguns meses e, então, comece a cair. Acredito que no segundo semestre os bancos já deverão se movimentar e baixar taxas a fim de ampliar a competitividade, o que dá a expectativa de que o último trimestre do ano seja mais aquecido.”

O executivo da Volvo ressaltou que pontos de atenção são as incertezas em torno do aumento do IOF, uma vez que boa parte dos financiamentos é feita em CDC, e o desequilíbrio fiscal, o que o leva a crer que “2025 será um bom ano, não será ruim, só está passando por ajustes”.

Ainda assim, sua expectativa é a de que o mercado de caminhões acima de 16 toneladas retraia 10%, principalmente pelo desempenho dos pesados, que tiveram antecipação de compra em 2024 diante da projeção de alta dos juros deste ano.

Para Pacheco a projeção é a de que o recuo seja de 6%, considerados também veículos leves, a partir de 3,5 toneladas, cuja aquisição está sendo estimulada pelo comércio eletrônico. Ele compartilha dos pontos de atenção e destaca oportunidades diante da existência de 320 mil caminhões acima de 20 anos de idade. 

Marco Pacheco. Fotos: Bruna Nishihata.

Frente à volatilidade cambial o executivo da Iveco também crê que seja interessante ampliar a localização de componentes e, enquanto o programa de renovação da frota não sai do papel, há possibilidades para que o pós-venda expanda seu trabalho na troca de componentes dos veículos usados até que o crédito melhore e a substituição do veículo seja realizada.

Enquanto a venda dos caminhões pesados enfrenta mais dificuldades, e bastante concorrência dos fabricantes para as empresas dispostas a adquirir um 0 KM, os semipesados têm apresentado crescimento por causa de demanda reprimida nos últimos três anos e, diante da necessidade de aquisição devido à melhora do momento logístico, voltou ao patamar normal, só que na base de comparação depreciada se tem aumento porcentual.

Caminho da Escola deverá continuar estimulando setor de ônibus 

Com relação aos ônibus Barbosa apontou que o programa do governo federal Caminho da Escola deverá continuar estimulando a produção, tanto pelo fato de que a licitação vigente, que prevê 16 mil unidades, deverá receber em torno de 10 mil, sendo até 6 mil este ano, e, portanto, novo edital será necessário, com volume de 8 mil a 10 mil unidades, quanto pelo fato de que 2026 será ano de eleição.

Walter Barbosa. Fotos: Bruna Nishihata.

O executivo da Mercedes-Benz ressaltou que o Brasil é o terceiro maior mercado de ônibus, atrás apenas de Índia e China e que, no ano passado, os emplacamentos de 22,3 mil unidades configuraram o melhor resultado dos últimos dez anos.

Unidades de fretamento também têm sido impulsionadas pelos segmentos de agronegócio e mineração e as de uso urbano por programas como o PAC Mobilidade, o Fundo Clima e o Refrota, que estimulam a renovação da frota.     

Sindipeças revisará projeções mas mantém expectativa de alta de 3% na produção

São Paulo – O Sindipeças revisará após o fechamento do segundo trimestre suas projeções para o ano, mas George Rugitsky, diretor de economia e mercado da entidade, antecipou durante o Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2025, na quarta-feira, 25, que a expectativa para a produção de veículos ficará em torno de alta de 3%, como em janeiro, o que resultará em 2 milhões 625 mil veículos fabricados no País, :

“Esse avanço de 3% era o que esperávamos no começo do ano, quando divulgamos nossa projeção, que já era mais tímida que a da Anfavea. Acredito que na revisão dos números os veículos leves vão ter um reajuste para cima, enquanto os pesados serão reajustados para baixo”. 

George Rugitsky. Fotos: Bruna Nishihata.

Para Rugitsky o crescimento, ainda que tímido, é relevante diante do cenário macroeconômico nacional, de taxa Selic em alta, chegando ao patamar de 15%, o que encarece o crédito na ponta final para os consumidores que desejam comprar um veículo 0 KM.

O cenário para as fabricantes de autopeças é diferente dependendo do segmento de atuação. No caso da BorgWarner o momento é positivo e puxado pelo lançamento de novos veículos leves equipados com os turbos que a empresa produz na fábrica de Itatiba, SP, segundo Melissa Mattedi, diretora geral da fábrica:

“Nosso primeiro trimestre foi muito bom, sendo que 15% do crescimento que registramos foi puxado pela Argentina, que teve forte expansão do mercado interno. Junto com isto os lançamentos de veículos equipados com motor turbo no Brasil nos ajudaram a conquistar bons resultados até agora”.

Melissa Mattedi. Fotos: Bruna Nishihata.

A expectativa da diretora é de que o segundo semestre siga no mesmo ritmo, com negócios aquecidos, mas o radar já está ligado para 2026, pois é necessário entender se o ritmo será mantido, mesmo com o recuo no segmento pesado, que até agora foi compensado pelo avanço dos leves.

A Cummins, que opera no segmento pesado, encara cenário diferente e ajusta sua produção de acordo com as demandas do mercado, que deverá cair 10% na comparação com 2024, principalmente pelas vendas menores dos caminhões pesados e extrapesados, disse Maurício Biadola, diretor de vendas da empresa:

Maurício Biadola. Fotos: Bruna Nishihata.

“O mercado agrícola também não está indo tão bem. Outro ponto que afeta nossos negócios é a invasão chinesa, tanto no segmento agrícola assim como no de construção. Esse movimento já é uma realidade no Brasil e na Argentina”.

Exportações aliviam mas juros preocupam o mercado automotivo

São Paulo — O bom desempenho das exportações alivia parte da preocupação da indústria automotiva com as altas taxas de juros. O tema foi debatido na abertura do Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2025, em São Paulo, por Gustavo Bonini, vice-presidente da Anfavea, e Arcélio Júnior, presidente da Fenabrave.

A previsão para o mercado de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus é de 2,8 milhões de unidades emplacadas em 2025. Mas existe a expectativa de que o crescimento no setor possa ser afetado pela taxa básica de juros, que subiu para 15% e mexe com as decisões de compra do consumidor. O ambiente econômico pode gerar impacto nas vendas no segundo semestre.

Gustavo Bonini. Fotos: Bruna Nishihata.

As exportações, por sua vez, deverão ultrapassar as 430 mil unidades, embora a produção ainda esteja abaixo das expectativas iniciais, com um crescimento projetado de aproximadamente 8%. Os importados, especialmente vindos da China, continuam a crescer, influenciando o mercado.

“Só a Argentina está crescendo, todos os mercados da América Latina continuam a receber produtos que não são produzidos no Brasil. É um ponto de atenção.”

Renovação de frota contínua

Bonini disse que a renovação de veículos comerciais deveria ser um programa perene. Há uma preocupação com a troca de caminhões antigos por novos, e a necessidade de desenvolver um financiamento específico para facilitar essa troca: “Temos 450 mil caminhões com mais de 25 anos. Há investimentos em caminhões e ônibus elétricos, biodiesel, biometano, gás, toda essa nova tecnologia de ponta, mas ainda temos uma frota envelhecida”.

O ideal seria uma renovação escalonada, que dure mais porque os resultados serão refletidos no médio e longo prazo.

Faturamento direto pode mudar com Reforma Tributária

Enquanto as exportações ajudam a incrementar produção as vendas diretas têm sido fundamentais para fomentar o mercado interno. Arcélio Júnior reforçou que o benefício fiscal do faturamento direto tem impacto importante nas vendas para locadoras, PCD e produtores rurais, pois reduz a carga tributária e incentiva a aquisição de veículos e bens.

Arcélio Júnior. Fotos: Bruna Nishihata.

O presidente da Fenabrave chamou a atenção para o termo “faturamento” e não “venda” direta: “É um termo que pode gerar confusão de interpretações, como situações em que o consumidor compra diretamente da montadora sem passar pelo concessionário. Essa confusão ocorre porque venda direta tem diferentes significados dependendo do contexto, enquanto faturamento direto é um conceito mais específico relacionado a contabilidade e receita”.

O termo será alterado nos boletins da Fenabrave, disse, acrescentando que do faturamento direto as locadoras respondem apenas por 30,5%. O restante são frotas e outros CNPJs, como produtores rurais, e PcDs.

Apesar da expectativa de que esses benefícios permaneçam após a reforma tributária há preocupações com possíveis perdas a longo prazo, sobretudo para grandes empresas. Atualmente os incentivos continuam a impulsionar o mercado, mantendo as locadoras relevantes e contribuindo para seu crescimento sustentado.

Governo discute com indústria retorno do carro popular

São Paulo – Uma minuta de portaria em negociação do governo com os fabricantes de veículos representados pela Anfavea pode recriar no mercado brasileiro o “carro popular 1.0”, como ficou conhecido o veículo com imposto reduzido que dominou as vendas no País até o início da década passada. Segundo apurou a Agência AutoData com fontes próximas ao assunto, dentro das discussões do IPI Verde – que em tese reduzirá a tributação de carros mais eficientes e aumentará a dos mais poluentes –, existe a proposta de zerar o IPI dos carros mais baratos produzidos no País, com emissões abaixo de 83 gCO2e/km.

Por este critério teriam lugar garantido na lista de carros isentos de IPI Fiat Mobi e Renault Kwid, atualmente os mais baratos à venda no País. Mas também podem ser encaixados no mesmo padrão de emissões versões mais baratas, com motores 1.0 aspirados, de modelos como Hyundai HB20, Fiat Argo, Volkswagen Polo Track, Chevrolet Onix e Citroën C3.

Pelo que está na mesa de negociação a isenção iria somente até dezembro de 2026, pois a partir de 2027 começam a ser aplicados, gradualmente, os impostos sobre consumo do novo regime tributário, o que levaria a novas discussões sobre a substituição do IPI Verde – alguns apostam que esta tributação, que beneficia os mais eficientes e pune os menos, será regulada por meio do Imposto Seletivo. 

Segundo fontes relataram à reportagem a minuta do IPI zerado do que já está sendo chamado de “novo carro popular” está pronta e repousa em mesas em gabinetes do Ministério da Fazenda. E é lá que reside a principal resistência, pois o ministro Fernando Haddad tenta zelar pela questão fiscal e busca aumentar, e não reduzir, a arrecadação. O argumento contrário é que a renúncia do IPI poderia elevar a arrecadação de outros impostos, com o aumento da demanda pelos veículos.

Nada está decidido, porém. As reuniões seguem e as discussões, especialmente acerca do IPI Verde, que é a base de todo o planejamento, estão acaloradas. Mas a expectativa é a de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncie tudo, o IPI Verde e isenção para o carro popular, nas próximas semanas.

Popularização limitada

A isenção, no entanto, teria efeito limitado sobre a popularização do carro: primeiro porque não se sabe se o governo obrigará as montadoras a repassar as isenções ao preço final, como aconteceu com o programa de descontos patrocinados pelo governo, em 2023. 

Também não está proposta nenhuma trava para as compras de locadoras, o que pode impulsionar muito mais as vendas diretas a frotistas do que ao consumidor do varejo – basta dizer que até maio passado 94% das vendas somadas de Mobi e Kwid foram realizadas pelo canal do faturamento direto. 

Portanto a medida é muito mais direcionada ao aumento de volumes de vendas do que à pretensa democratização de carros mais baratos para o consumidor final.

Também não são todas as montadoras que estão interessadas na medida, uma vez que só uma parte delas tem produtos a serem beneficiados – algumas, inclusive, podem ser contra porque serão prejudicados se a isenção for compensada por meio do aumento do IPI para veículos menos eficientes.

Na época da criação do carro popular, em 1993, o IPI dos automóveis com motor 1.0 foi reduzido a 0,1%, tendo como objetivo tornar o veículo mais acessível aos brasileiros. Dizem que foi uma manobra da Fiat, pois só ela tinha o Uno Mille pronto para vender. Todas as demais saíram atrás fazendo adaptações rudimentares de seus motores para lançar modelos 1.0 como Volkswagen Gol, Chevrolet Chevette e Ford Escort. 

Já em 1995 o IPI dos populares 1.0 subiu a 8% e nos anos seguintes sofreu muitas variações, do pico de 13% de 1997 até ser zerado em 2008 e 2012, sempre ao sabor das crises econômicas, até o nível atual de 5,27%, estipulado em 2022. Por causa da tributação menor os modelos 1.0 chegaram a representar mais de 70% das vendas de veículos no País nos anos 2000, mas com a redução gradual do IPI das outras opções hoje este porcentual desceu a menos de 40% e, atualmente, subiu a 56,8% por causa dos muitos lançamentos de modelos turboflex 1.0.

O momento atual não é bem de crise econômica, mas com o disparo da taxa Selic, que alcançou 15%, é esperada uma contração das vendas de veículos, por causa do alto custo dos financiamentos. E o governo, que mira a disputa eleitoral no ano que vem, certamente não gostaria de ver isso nas manchetes.

Colaborou Leandro Alves

Governo aprova aumento da mistura do etanol na gasolina e do biodiesel no diesel 

São Paulo – O CNPE, Conselho Nacional de Política Energética, aprovou o aumento da mistura obrigatória do etanol na gasolina de 27% para 30% e do biodiesel no diesel de 14% para 15%. O objetivo do governo ao passar a oferecer o E30 e o B15, em 1º de agosto, é reduzir o preço do combustível na bomba – o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que a expectativa é a de redução de 20% no preço da gasolina.

Silveira acrescentou que o Brasil passará a ser autossuficiente na produção da gasolina com o aumento de 3 pontos porcentuais de etanol na gasolina, sem precisar lançar mão de importações. Ao contrário: haverá excedente de 700 milhões de litros por ano, que poderão ser levados para a exportação.

A decisão do CNPE, segundo o MME, foi embasada em “processo técnico robusto”. Os testes com E30 foram conduzidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia, com participação de montadoras e importadores de veículos. 

“Os resultados, apresentados em março deste ano, atestaram a segurança e a viabilidade técnica das novas misturas, permitindo a adoção imediata sem impactos negativos para os veículos ou para os consumidores.”