Justiça do Trabalho condena Ford a pagar R$ 30 milhões por danos morais

São Paulo – A primeira turma do TRT-5, Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região, condenou a Ford ao pagamento de R$ 30 milhões por danos morais coletivos em razão do fechamento da fábrica de Camaçari, BA, sem negociação coletiva com o Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, em 2021. A ação civil pública foi movida pelo MPT-BA, Ministério Público do Trabalho da Bahia.

A decisão, no entanto, ainda não é definitiva, e pode ser objeto de recurso. De acordo com o MPT o pagamento da indenização por danos morais coletivos ocorrerá após o esgotamento de todos os recursos. “Só depois será aberto um processo de execução na 3ª Vara do Trabalho de Camaçari, onde a ação teve origem. Tanto o pagamento quanto a destinação das verbas serão discutidos após estas etapas.”

Advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Diego Freire, disse que à época do fechamento da fábrica a Ford realizou uma comunicação linear, informando a todos ao mesmo tempo de sua decisão, tanto o governo quanto os trabalhadores, sindicato e imprensa: “Tanto que o sindicato provocou o MPT porque o encerramento se deu em meio à pandemia e, um ano antes, em 2020, havia sido aprovado acordo coletivo que previa estabilidade de quatro anos aos cerca de 6 mil empregados”.

O MPT atestou que a Ford encerrou a produção de forma unilateral e sem diálogo prévio com o sindicato, descumprindo compromissos assumidos em acordos coletivos e em contratos com o BNDES. O Ministério Público demonstrou que a negociação coletiva só ocorreu após sua intervenção, com o ajuizamento da ação civil pública.

Freire lembrou que a montadora então abriu negociação e remunerou os funcionários com os valores referentes aos anos que faltavam para completar o período de estabilidade: “Mas a indenização ficou aquém, pois não foram incluídos pagamentos de décimo-terceiro salário e férias, nem INSS. Então o MPT entendeu que eles ainda estavam sendo prejudicados”.

Valores têm tem caráter reparatório social

O Ministério Público do Trabalho esclareceu que o dano moral coletivo da ação civil pública é destinado à reparação da sociedade pelos danos causados. E reforçou que as indenizações a cada trabalhador estão sendo discutidas em processos individuais e coletivos.

De acordo com o órgão, em postagens nas redes sociais, “a entidade e seus diretores publicaram vídeo em que afirmavam que os recursos a serem pagos seriam destinados a um grupo de trabalhadores”, o que não é verdade.

“Mesmo tendo apagado a postagem, a informação errada chegou a circular, gerando expectativas”, disse o MPT, que notificou o sindicato para explicar o motivo da publicação de informações falsas sobre a ação civil pública movida pelo órgão contra a Ford.

Na fábrica da Ford em Camaçari, fechada em 2021, trabalhavam cerca de 6 mil trabalhadores na produção dos da família Ka e do EcoSport. Foto: Soraia Abreu Pedrozo.

Freire justificou que a publicação foi feita nas redes sociais do ex-presidente do sindicato, Júlio Bonfim, hoje diretor da entidade, e que assim que percebeu que poderia dar margem a erro apagou a postagem: “Me parece que houve uma grande confusão, mas precisamos explicar o que induziu ao erro”.

De praxe, verbas obtidas por meio de ações civis públicas são enviadas ao FAT, Fundo de Amparo ao Trabalhador. Na Bahia, conforme o advogado, há algum tempo os recursos têm ido para fundo coletivo do Estado. Mas, em suas palavras, não haveria a garantia de que o valor seria redirecionado ao município.

“Existe uma discussão no CNJ [Conselho Nacional de Justiça] que entende que o sindicato, em situações do tipo, pode ser o gestor dos recursos, desta forma assegurando que serão administradas políticas públicas para os trabalhadores prejudicados. Não significa que o dinheiro irá para suas contas bancárias, mas que eles terão acesso a qualificação para serem reinseridos no mercado de trabalho”.

Freire disse que a realidade no município é tal que dificilmente estes profissionais conseguirão ser reabsorvidos pelo setor metalmecânico, diante da oferta cada vez menor do setor em Camaçari e região: “Mesmo a BYD não tem a obrigação de contratá-los e, diante do produto que propõem à fábrica, eles precisariam de capacitação específica para tal. A realidade é que muitos acabam no mercado informal, vendendo tapioca na praça”.

O advogado relatou ainda que, na prática, o efeito do encerramento da unidade de Camaçari foi muito maior, com efeito em cascata que prejudicou até cinco vezes o número de trabalhadores diretos, o que pode ter chegado a 30 mil pessoas: “Até mesmo clínicas médicas e comércios, como padarias, foram duramente afetados e chegaram a fechar as portas”.

Procurada a Ford informou que “não comenta processos em andamento”.

Golf GTI e Jetta GLI desembarcam no Brasil, mas ainda não estão a venda

São Paulo – Ao apostar no apetite de consumidores por veículos de modelo esportivo a Volkswagen anunciou a chegada dos novos Golf GTI e Jetta GLI ao País. Os dois modelos se juntam ao Nivus GTS e formam o trio de veículos esportivos no portfólio da montadora.

O Golf GTI, que era esperado por clientes da marca, será vendido com a nova geração do motor EA388, chamada de Evo4, que gera 245 cv de potência e tem câmbio automático DSG de sete marchas. O novo motor oferece 15 cv a mais do que o último vendido no País.

Junto com visual renovado o Golf GTI traz mudanças internas, como novo quadro de instrumentos digital com tela de 10,2 polegadas e nova central multimídia com tela sensível ao toque de 12,9 polegadas. A central traz, pela primeira vez ao Brasil, controles por comando de voz.

O Jetta GLI também vem equipado com o motor EA388 mas sua calibração gera um pouco menos de potência, 231 cv, enquanto o câmbio é o mesmo DSG automático de sete marchas. O visual do sedã esportivo foi renovado, assim como o interior que traz algumas mudanças. 

Os preços dos dois modelos, assim como a data oficial do início das vendas, serão divulgados em breve.

Dunlop é escolhida para equipar novo Nissan Kicks

São Paulo – A Dunlop Pneus, que tem fábrica em Fazenda Rio Grande, PR, foi escolhida para equipar o novo Nissan Kicks produzido em Resende, RJ. O produto 215/60R17 96H ENASAVE EC350+ estará presente nas versões Sense e Advance. Esta é a primeira vez que a marca da Sumitomo Rubber equipará um veículo da montadora no País.

A expectativa é de que a parceria se estenda também para a venda de pneus nas concessionárias Nissan, ampliando a presença da marca no segmento de equipamento original e reposição no Brasil.

Geely lança mais onze satélites para aprimorar conectividade de veículos

São Paulo – Para promover nova fase de conexão em ecossistema que integra satélites e mobilidade a Geely ampliou sua rede de cobertura orbital por meio da Geespace, sua subsidiária aeroespacial, com um novo lançamento. No início de agosto foram enviados onze satélites do quarto plano orbital da Geely Future Mobility Constellation, também conhecida como Geesatcom, a bordo de foguete que partiu de Rizhao, província de Shandong, China. Ao todo já são operados 41 satélites.

Os veículos da marca que contam com atualizações over-the-air, acesso à internet de maneira remota e integração via aplicativo, como o recém-lançado Geely EX5, vêm com chips proprietários de 7 nanômetros que permitem amplo uso de inteligência artificial na interface com os ocupantes e também no gerenciamento das suas funções e componentes.

Todos os satélites entraram em suas órbitas designadas e estão operando normalmente, de acordo com a Geely, o que estabeleceu um marco no sucesso da missão. Para a companhia a conquista representa avanço significativo da Geesatcom nas comunicações de IoT, Internet das Coisas, via satélite em órbita terrestre baixa, e avança a visão do grupo para construir ecossistema integrado de mobilidade espacial e terrestre “que transformará a forma como os usuários vivenciam o transporte”.

A primeira fase do estabelecimento do projeto tem como alvo 72 satélites, com conclusão prevista para o fim de 2025. Nos próximos dois meses a Geespace acelerará a promoção da constelação para atingir 64 satélites operacionais, estabelecendo cobertura global abrangente de IoT via satélite, excluindo apenas as regiões polares.

Marcopolo entrega 242 ônibus em Goiânia

São Paulo – A Marcopolo entregou 242 ônibus para a Rápido Araguaia, operadora que está renovando sua frota de veículos urbanos que rodam em Goiânia, GO. O lote todo é do modelo Torino, de 12,6 metros, com espaço para transportar 33 passageiros sentados.

Os veículos também serão usados para atender a população de outros dezessete municípios da região metropolitana de Goiânia.

Anfavea e Fenabrave reforçam a importância da Lei Renato Ferrari

São Paulo – Tanto Arcélio Júnior, presidente da Fenabrave, como Igor Calvet, presidente executivo da Anfavea, aproveitaram seus discursos na abertura do 33º Congresso Fenabrave, na quarta-feira, 27, para reforçar a importância da Lei 6 729/89, também conhecida como Lei Renato Ferrari. Ela regulamenta pontos do relacionamento das montadoras com as redes de distribuição e vem sendo questionada no STF, Supremo Tribunal Federal, por meio da ADPF 1 106, arguição de descumprimento de preceito fundamental.

Para o presidente da Fenabrave a lei traz segurança jurídica e promove a concorrência sadia, que é benéfica aos consumidores brasileiros. Calvet seguiu a mesma linha e disse defender a manutenção da lei, que existe há mais de quarenta anos.

A ação foi proposta pela PGR, Procuradoria Geral da República, e questiona alguns itens, como a cláusula de exclusividade, que impede que no mesmo local sejam vendidos veículos produzidos por outras empresas, e a da exclusividade territorial, que estabelece os limites geográficos para a atuação de uma determinada concessionária. Ela está nas mãos do ministro Edson Fachin.

Durante a tramitação da ADPF diversas entidades pediram para ingressar como amicus curiae, ou amigos da corte, que tem como objetivo colaborar com informações e perspectivas para ajudar o tribunal a tomar a sua decisão. Segundo Arcélio Júnior apenas duas entidades se posicionaram de forma contrária à lei: Conarem, Conselho Nacional de Retífica de Motores, e o Sindirepa Brasil, Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Brasil.

Em recente manifestação a PGR mudou sua visão, de acordo com o presidente: “Temos Presidência da República, MDIC, AGU, Senado Federal, Câmara dos Deputados, com manifestações favoráveis à legislação. Acreditamos na análise da Justiça, mas o processo ainda está lá”.

Não há previsão de julgamento, ou arquivamento, da ADPF. O ministro Fachin assumirá, nas próximas semanas, a presidência do STF.

Caminhões aprofundam queda em agosto

São Paulo – Números divulgados pela Fenabrave durante o seu congresso, na quarta-feira, 27, comprovam que a queda nas vendas de caminhões está se aprofundando com o impacto do encarecimento do crédito e o aumento da inadimplência. Na primeira quinzena de agosto, considerando os onze primeiros dias úteis, foram emplacados 4,6 mil caminhões, resultando em retração de 12,1% sobre o mesmo período de julho e tombo bem maior, de 25,9%, na comparação com igual período de agosto de 2024.

Na comparação de julho deste ano com o do ano passado o recuo nas vendas de caminhões foi de 5%, demonstrando que no início de agosto o cenário piorou.

No acumulado de janeiro à primeira quinzena de agosto o número de caminhões emplacados soma 68,1 mil, volume 5,3% menor em comparação com o idêntico período de 2024. Na soma até julho a queda foi de 3,8%.

Segundo Tereza Fernandez, consultora econômica da Fenabrave, a retração está diretamente ligada ao avanço dos juros que encareceu muito os financiamentos, responsáveis por quase todas as vendas de caminhões no País.

Outro fator, ela relata, está ligado ao desempenho do agronegócio, o maior clientes dos veículos de cargas: “No ano passado a safra foi ruim, este ano está bem melhor, mas agora os preços estão baixos e não permitiram a recuperação do setor, o que fez muitas empresas entrarem em recuperação judicial, anulando o poder de compra de caminhões”.

Chineses impulsionam concessionárias, que superam as 8 mil no Brasil

São Paulo – Em um ano foram abertas 1 mil 125 concessionárias no Brasil, segundo anotou a Fenabrave, que representa o setor de distribuição. O presidente Arcélio Júnior afirmou, na abertura do 33º Congresso Fenabrave, na quarta-feira, 27, no São Paulo Expo, que estão em operação 8 mil 225 revendas, somados todos os segmentos – automóveis e comerciais leves, caminhões, ônibus, motocicletas, implementos rodoviários e máquinas agrícolas. É o maior número da história.

A chegada de marcas chinesas, como BYD, GWM e GAC, ajudou a impulsionar o setor, de acordo com o presidente. E existem mais empresas interessadas, formando as suas associações de marca, que ajudarão a tornar este recorde ainda maior.

“Temos atualmente 58 associações de marca no nosso quadro de associados. Não fazemos restrições com relação à origem, o que pedimos apenas é a isonomia, que todos tenham igualdade de competição.”

O presidente da Fenabrave pondera, entretanto, que o mercado não cresce na mesma proporção e a que competição está cada vez mais acirrada. Estudos recentes encomendados pela entidade indicam que o recorde de vendas do setor, alcançado em 2011, com mais de 5 milhões de veículos vendidos, será igualado apenas em 2032.

“Temos um atraso de vinte anos.”

Durante seu discurso, na abertura do evento, Arcélio Jr destacou o trabalho conjunto com o governo federal, que resultou no programa Carro Sustentável. Na primeira quinzena de agosto as vendas dos modelos habilitados ao plano somaram 42,7 mil unidades, avanço de 23,1% sobre o mesmo período de julho e de 14,1% com relação aos primeiros onze dias úteis de agosto de 2024.

Foram inscritos antecipadamente 12 mil pessoas para o Congresso Fenabrave, que segue até a quinta-feira, 28. O evento ocupa área de 25 mil m² no São Paulo Expo e tem, em paralelo, o ExpoFenabrave, que conta com mais de duzentas marcas em exposição.

Balanço semestral da Iochpe-Maxion traz bons resultados

São Paulo – Pieter Klinkers, novo CEO global do Grupo Iochpe-Maxion – ele assumiu a posição em abril, sucedendo a Marcos de Oliveira – disse que teve uma boa experiência em seu primeiro Investor Day à frente da companhia, realizado na terça-feira, 26, para divulgar o balanço e desempenho do primeiro semestre: “Apresentamos bons resultados, assim fica tudo bem, ninguém reclama”.

Nos primeiros seis meses do ano a receita operacional global da Iochpe-Maxion somou R$ 8 bilhões, em crescimento de 8,1% sobre a primeira metade de 2024 e margem de 10% sobre o EBTIDA, lucro antes de impostos, juros e depreciação de ativos, que atingiu R$ 805 milhões, em avanço de 14% na comparação com o mesmo período do ano passado. Impactado por impostos e serviços da dívida o lucro líquido apurado foi de R$ 98 milhões, em alta de 12,6%.

Com 33 plantas industriais em catorze países, e 17 mil empregados, a companhia é a mais multinacional das empresas brasileiras, com 75% do faturamento no Exterior, mas o Brasil segue sendo o maior mercado individual, com 25% das vendas, incluindo rodas e componentes estruturais. A Europa – 27 países da União Europeia mais Reino Unido e Turquia – segue sendo a região que mais contribui, com 37% das receitas no primeiro semestre.

A Iochpe-Maxion segue reduzindo o endividamento: ao fim do segundo trimestre de 2025 a dívida líquida somava pouco mais de R$ 3,8 bilhões, o equivalente a 2,38 vezes o EBTIDA de R$ quase R$ 1,7 bilhão apurado nos últimos doze meses.

Klinkers afirmou que um de seus objetivos é reduzir o custo da dívida para melhorar os resultados da empresa: “Boa parte da dívida é contraída no Brasil [em reais] e o País não é barato, provavelmente um dos lugares mais caros do mundo, por causa dos juros altos. Queremos pagar menos juros e estamos trabalhando muito nessa desalavancagem. Mas já estamos melhores. Depois da covid nossa relação dívida/EBITDA estava muito alta. Hoje estamos em uma posição muito mais saudável, mas queremos reduzir isso um pouco mais, para poder gastar nosso dinheiro em outras coisas e não pagar só os juros”.

Oportunidades

Uma das maneiras de reduzir o endividamento é aumentando as receitas, o que segundo Klinkers virá de crescimentos orgânicos em mercados como Brasil, Índia, México, Estados Unidos e China, com a conquista de novos clientes, contratos de fornecimento e oferta de novos produtos, especialmente rodas projetadas para carros elétricos com redução de peso e ruídos.

“Vejo a eletrificação como uma oportunidade para nós”, afirma o CEO. “Independentemente do combustível, seja gasolina, diesel ou eletricidade, todos os carros continuarão precisando de rodas, que podem ser projetadas especialmente para carros elétricos para reduzir peso e ruído, e isto abre novas possibilidade de fornecimento.”

Estas novas fontes de receitas estão no centro dos objetivos dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento da empresa, que destinou R$ 208,2 milhões a novos projetos de componentes estruturais e rodas. A Iochpe-Maxion também tem acesso a uma linha de financiamento subsidiada da Finep, de R$ 357 milhões, que será destinada a adoção de soluções de automação, transformação digital e inteligência artificial em processos industriais.

Dentre os principais projetos que começam a se pagar está o desenvolvimento, pela Maxion Structural Components, de estruturas de chassi para veículos eletrificados, como suportes de alumínio para módulos de baterias.

Na Maxion Wheels as rodas de aço estilizadas – como as de alumínio mas mais baratas – estão aumentando a participação nos fornecimentos. No primeiro semestre deste ano as vendas destes modelos cresceram 27,5% em comparação com o mesmo período de 2024, enquanto o faturamento das rodas de aço convencionais, sem estilizações, avançou 8,5%.

As rodas Maxion Fusion, que combinam materiais, já têm dois programas de desenvolvimento com clientes em andamento. Já as rodas de aço com tecnologia NVH Wheel, para redução de ruído, devem ter volume adicional significante em 2025, segundo projeta a empresa.

Estrangeiro global

Klinkers é holandês mas em seus trinta anos de carreira profissional nunca trabalhou em uma empresa holandesa, somando passagens por ZF, Michelin e a fabricante estadunidense de rodas Hayes Lemmers, comprada pela Iochpe-Maxion em 2005: “Quando as pessoas me perguntam de onde eu sou, digo que sou global”. Tão global quanto é hoje a Iochpe-Maxion. Por isto Klinkers vê com naturalidade o fato de ter sido escolhido para o posto de CEO do grupo brasileiro. Ele brincou: “Acho que foi porque eu custava menos”.

“Creio que faz sentido um gerente não-brasileiro para uma empresa que tem a maior parte de seu faturamento fora de seu país de origem. Mesmo que essa posição seja nova para mim, eu estou na empresa há dezessete anos e eu estou dirigindo a Maxion Wheels [era o CEO] há dez anos, que representa 75% da [receita da] empresa. Então, ter alguém de dentro, às vezes, é a solução preferida.”

Klinkers, que faz aulas de português, afirma que está se adaptano bem à cultura corporativa do Grupo Iochpe-Maxion, que segundo ele não é tão diferente do resto do mundo: “As diferenças culturais eram mais importantes há vinte anos do que são hoje. Por causa das mídias sociais, da internacionalização, eu acho que as pessoas não são tão diferentes hoje em dia. Isto dito eu gosto da diversidade de culturas que temos na empresa [que tem funcionários de 49 nacionalidades]”.

Sobre as dificuldades para dirigir uma corporação global em meio ao cenário geopolítico instável dos dias atuais Klinkers avalia que essas condições também trazem oportunidades para a empresa. Para representar essa potencialidade ele colocou, no último slide da apresentação aos analistas no Investor Day, uma frase de um ídolo brasileiro, o piloto Ayrton Senna, que dizia: “Você não consegue ultrapassar quinze carros em um dia ensolarado, mas pode quando está chovendo”.

Iochpe-Maxion anula impacto de tarifas com operação global

São Paulo – A internacionalização do Grupo Iochpe-Maxion, multinacional brasileira que faz 75% de seu faturamento em operações fora da matriz, no Brasil, combinada com a estratégia de localizar a produção de rodas e componentes estruturais nos mercados onde estão os clientes, imunizou a companhia do principal problema geoeconômico da atualidade: as pesadas tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos, principalmente os 50% aplicados a Brasil e Índia.

Pieter Klinkers, novo CEO global do grupo – ele assumiu a posição em abril, em sucessão a Marcos de Oliveira –, reconheceu que o mundo inteiro e todas as empresas estão sendo afetados de alguma forma pela política comercial hostil do governo Trump, “mas precisamos fazer bem menos do que outras companhias”.

“Eu não conheço uma empresa no mundo que não tenha sido afetada pela tarifas, mas o impacto direto de tarifas é limitado sobre nossa empresa, porque nossa estratégia tem sido, há muito tempo, construir plantas ao redor do mundo para fornecer localmente”, assinala Klinkers. “Podemos exportar alguma coisa aqui e ali, mas não temos intenção de ser um grande exportador. No mundo de hoje isso é uma vantagem.”

Segundo o executivo a exposição do grupo às tarifas estadunidenses é “pequena e administrável”, porque as 33 fábricas da Iochpe-Maxion em catorze países – incluindo uma de rodas nos Estados Unidos – atuam predominantemente nos mercados locais: “Eu diria que algo como 0,1% do faturamento no Brasil é afetado pelas tarifas. No caso da Índia temos duas fábricas lá, uma não exporta nada e outra muito pouco, então menos de 10% das receitas são afetadas”.

E por ser uma empresa amplamente globalizada, com presença na Ásia, Europa, África, América do Sul e do Norte, também há a possibilidade, caso seja necessário, de transferir a produção de rodas para países que pagam tarifas menores: “Temos essa flexibilidade, somos ágeis. Podemos, por exemplo, passar rapidamente parte da produção da Índia para a Turquia se isto fizer sentido”.

Baixo impacto

A operação mais afetada por exportações aos Estados Unidos seria a de componentes estruturais para veículos pesados localizada no México, mas os itens produzidos lá estão dentro do acordo de comercial USMCA e não pagam tarifas. Neste caso, disse Klinkers, o impacto maior à fábrica mexicana é o da baixa demanda por caminhões no mercado estadunidense.

Estratégia de produção local atenua impacto de tarifas dos Estados Unidos. Fotos: Divulgação/Iochpe-Maxion.

Mas o executivo ponderou que as tarifas podem causar impactos indiretos aos negócios: “Claro que se a demanda por veículos for afetada [por causa de possíveis aumentos de preços provocados pela elevação de alíquotas de importação] nosso faturamento também pode cair. Esta é uma preocupação maior do que as tarifas propriamente ditas”.

Até o momento, afirmou Klinkers, não há planos de fechar nenhuma das fábricas em operação no mundo. Também não se vislumbra aumento de demanda suficiente para expandir a produção nos Estados Unidos, onde a Iochpe-Maxion produz rodas de aço em Sedalia, Missouri: “Para abrir uma nova fábrica são necessários pelo menos dois anos e grandes investimentos. Não vemos necessidade agora e não vamos tomar qualquer decisão apressada por causa das tarifas, que mudam a todo momento. Vamos esperar para ver”.

Expansão de fábricas

Atualmente a Iochpe-Maxion tem dois grandes programas de expansão em curso no mundo: um na Índia e outro na Turquia, com investimentos na casa de US$ 80 milhões em cada localidade.

A operação mexicana em Castaños está sendo ampliada para exportar componentes estruturais, chassis de veículos pesados aos Estados Unidos: “No momento o mercado de caminhões está em baixa na região, mas avaliamos que vai voltar a crescer e estaremos preparados para aproveitar esta oportunidade”.

Na Turquia, onde já são produzidas rodas de aço, uma nova linha de produção está em construção e deverá entrar em operação até o fim do ano para fabricar um produto inédito no portfólio da Iochpe-Maxion: rodas de alumínio forjado para veículos comerciais pesados, abrindo um novo e até então inexplorado mercado para a companhia.

Focos de crescimento

A Maxion Wheels, que tem fábricas em doze países, é a maior fabricante de rodas do mundo, com produção de cerca de 50 milhões de unidades por ano, incluindo modelos de aço e alumínio para veículos leves e pesados. Este ano os principais mercados em crescimento para a unidade de negócio são Brasil, Turquia, Índia e China: “Não somos os maiores em nenhum dos mercados onde atuamos, mas juntando todas as fábricas no mundo ficamos no primeiro lugar”.

Klinkers, antes de assumir a presidência global do grupo, era o CEO da divisão de rodas.

Já a divisão Maxion Structural Components produz estruturas de metal para chassis de veículos pesados em seis países e atualmente os focos de crescimento estão no Brasil e México.

Klinkers projetou que, nos próximos anos, as principais fontes de crescimento das receitas virão, principalmente, da Índia e do Brasil, com a conquista de novos clientes e a oferta de novos produtos – como, por exemplo, rodas de aço com desenhos estilizados, mais baratas, que competirão com as de alumínio.

“O Brasil é um mercado bastante favorável ao nosso negócio. Há poucos anos muitos reclamavam no País mas atualmente os resultados são bons”, afirmou Klinkers. “Na maior parte do mundo as vendas de veículos estão estagnadas enquanto o mercado brasileiro apresenta índices de crescimento acima da média mundial. Existe alguma retração agora nas vendas de caminhões, mas projetamos que voltarão a crescer.”

Na Ásia, que atualmente representa menos de 10% do faturamento global da Iochpe-Maxion, o maior crescimento virá da Índia, disse Klinkers, contrariando o senso comum de que as maiores oportunidades de expansão estariam na China, onde a companhia já tem duas fábricas de rodas: “No mercado chinês o crescimento é limitado pela enorme concorrência de preços. Quem chegou no país há trinta ou vinte anos colheu bons resultados, agora esta fase passou”.

Isto não quer dizer, no entanto, que os fabricantes chineses de veículos sejam desinteressantes para a Iochpe-Maxion. Muito ao contrário o plano é ganhar mais contratos de fornecimento, tanto dentro como fora da China: “Os chineses estão exportando cada vez mais e abrindo fábricas no Exterior, como no Brasil. Nossa intenção é ter com estes fabricantes a mesma participação de fornecimento de rodas que temos em cada mercado”.