São Paulo – O crescimento da venda de veículos e os desafios que a região enfrenta na sua distribuição foram os temas abordados pela Aladda, entidade que reúne os representantes dos distribuidores de veículos da América Latina em dezenove países, no 7º Congresso de Negócios da Indústria Automotiva Latino-Americana, realizado por AutoData de 12 a 14 de agosto.
O primeiro semestre apresentou crescimento em quase todos os países da região latino-americana, com exceção do México, Equador e Costa Rica, segundo indicou Alejandro Saubidet, secretário executivo da Aladda: “O México, claramente devido aos problemas envolvendo os Estados Unidos e as questões relacionadas ao governo Trump, incluindo tarifas de impostos propostas, sofreu uma pequena queda, mas dentro do esperado”.
A entidade estima que o México deve ultrapassar 1 milhão de unidades vendidas, enquanto o Brasil deve atingir cerca de 2,4 milhões de veículos. Na Argentina estão previstas de 600 mil a 650 mil unidades.
Países como a Venezuela também tiveram crescimento neste período, mas existe incerteza sobre os tipos de veículos vendidos – se destinados ao governo ou ao mercado privado.
O restante dos países latino-americanos tem apresentado crescimento equilibrado e é provável que fechem o ano positivamente, salvo alguma crise global ou local que possa alterar essas estatísticas.
Saubidet, contudo, ressaltou que apesar do crescimento a rentabilidade dos revendedores está bastante baixa, possivelmente porque eles trabalham com prêmios por atingir metas. Muitas vezes, ele contou, estes objetivos não são cumpridos até o fim do mês e, afinal, eles acabam tendo prejuízo.
“É neste contexto que existem incentivos de taxa zero em alguns países para compras financiadas. Algumas taxas de juros ficaram mais altas, o que obviamente altera o saldo final de uma forma ou de outra.”
Chineses e a necessidade de integração regional
Existe também a preocupação com os chineses. Concessionárias de marcas com esta origem frequentemente enfrentam dificuldades por falta de peças de reposição, podendo levar até dois meses para repor componentes. Embora os veículos sejam competitivos em preço e qualidade muitas marcas surgem e desaparecem rapidamente, dificultando a confiança do comprador.
“É fundamental contar com o apoio de grandes importadores ou fabricantes que tenham instalações tanto no Brasil quanto em outros países da região, garantindo suporte e aumentando a confiança nos produtos. A qualidade desses veículos é bastante elevada. Estive na China e pude ver que os produtos lá são de alto nível. Tudo isso torna esses veículos bastante competitivos com relação aos modelos europeus, americanos, japoneses e coreanos”.
Sobre os principais obstáculos para o avanço dos veículos fabricados no Mercosul, Saubidet destacou a dificuldade de integrar os mercados devido às diferenças nas políticas de importação. Ele citou o Paraguai e Bolívia, que importam carros usados de outros países, como Chile e até dos Estados Unidos ou Ásia.
“Os veículos brasileiros, mexicanos e argentinos são de ótima qualidade. Embora não possam entrar nos mercados europeus devido a diferenças nos modelos mais adaptados às nossas necessidades, há um mercado potencial considerável. Para se ter uma ideia a África vende cerca de 1 milhão de carros por ano atualmente, e infelizmente este mercado ainda não é totalmente explorado por nós, seja com picapes ou outros veículos.”
Tendências de mercado: SUvs e eletrificação
A Aladda observa a redução na produção de sedãs, com preferência crescente por SUVs, que oferecem maior desempenho, espaço interno e sensação de desempenho nas estradas, embora tenham limitações na capacidade de carga e praticidade.
As picapes também ganharam destaque em países como Chile, Equador e Paraguai devido às exigências de atividades rurais, mineração e petróleo, representando uma parcela significativa das vendas nesses mercados. No entanto, no México, os sedãs ainda predominam frente aos SUVs, devido à demanda por veículos robustos para usos específicos.
No mercado automotivo regional, há uma forte presença de veículos movidos a fontes alternativas, como elétricos, híbridos plug-in e elétricos, especialmente na Colômbia, Uruguai, Costa Rica e Equador, este último apresentando um crescimento de 277%, indicando uma forte tendência. Essa preferência pode estar relacionada à disponibilidade de energia elétrica limpa nesses países menores ou de menor extensão territorial.
Países como Guatemala, Peru e Panamá destacam-se na venda de veículos plug-in, embora enfrentem desafios de infraestrutura de recarga, especialmente para frotas comerciais e ônibus em trajetos urbanos, devido à dificuldade de instalação de estações de carregamento rápido por causa do alto consumo nesses locais.
Renovação de frota
A principal dificuldade na América Latina, afirmou Saubidet, é a renovação da frota veicular, pois muitos veículos permanecem em circulação há décadas devido a oscilações econômicas e obstáculos políticos, o que prejudica a segurança, aumenta a poluição urbana e gera problemas de fluxo nas cidades.
Além disso há problemas relacionados à entrada ilegal de carros usados de origem duvidosa, importados sem garantias técnicas ou com documentos falsificados, o que agrava os riscos ambientais e sociais. Para melhorar esta situação seria necessário implementar programas que incentivem a substituição dos carros antigos, mas esta tarefa é difícil pela falta de incentivos governamentais.