São Paulo – O Brasil é o quinto lugar mais caro do mundo para realizar o sonho de se ter um carro 0 KM. O consumidor precisa desembolsar quatro vezes e meia seu salário médio anual para comprar e manter um automóvel no País, aponta estudo do blog britânico Scrap Car Comparison, que organizou ranking com quarenta países.
Os preços dos veículos foram calculados a partir de dois modelos: o Golf, da Volkswagen, e o Corolla, da Toyota. A esses valores foram adicionados gastos com combustível, seguro e manutenção, e o valor total foi comparado com a média de remuneração anual em cada país. Os resultados alcançados mostraram a porcentagem da renda necessária para a compra do carro novo – todos os valores correspondem a agosto de 2021.
Neste contexto o Brasil ocupou a quinta posição: por aqui o cidadão precisa desembolsar 441,9% do valor equivalente ao salário médio de um ano para dispor de um carro novo. A América do Sul se destaca por ser região onde ter e manter um 0 KM é um desafio: o País só perde para Uruguai, 443,7%, Colômbia, 508,9%, e Argentina, 515,7%.
Quem lidera a lista dos mais caros é a Turquia, que requer mais de seis vezes a renda anual para a compra de um 0 KM: 652,3%.
Na avaliação do economista Adriano Oliveira, pesquisador convidado da Fipecafi, há um denominador comum nos países onde é mais caro comprar um carro: “Todos eles foram muito agredidos pela desvalorização da moeda nos últimos cinco anos.”
Ele disse que quando se compara o preço de um bem transacionável, que é possível importar e exportar, ele é convertido em dólar. Portanto, insumos como aço e componentes são cotados pela moeda, sendo que o que vai variar nessa equação, conforme a localidade, será apenas a mão de obra.
No Brasil, nesse intervalo de cinco anos, o dólar saiu dos R$ 3,50 para R$ 6 e, agora, está em R$ 5,20.
“A valorização disparou no período, o que representou um ataque à renda do trabalhador, uma vez que o salário não acompanhou essa variação. A flutuação do bem é muito maior do que a da renda. É até injusta essa comparação. O carro é caro aqui porque somos pobres. Carrega o peso da carga tributária e da margem de lucro, de montadoras e concessionárias, e o que não sabemos quanto representa de fato porque elas têm capital fechado.”
Mais baratos – Na outra ponta a Austrália é o país que oferece melhor relação custo-benefício aos compradores pois exige cerca de metade do salário médio anual de seus consumidores, 49,5%. Os Estados Unidos ocupam a segunda posição, com 54,9%. Na sequência vêm Dinamarca, 60,3%, Canadá, 64,4%, e Suécia, 75,8%.
De acordo com o estudo países como os Estados Unidos e outros tantos da Europa, que são centrados na cultura do carro, acabam sendo locais mais baratos para trocar por modelo novo: “São economias menos afetadas pelos efeitos da pandemia da covid e/ou que têm o dólar como moeda”.
Oliveira mencionou que o valor médio do carro nos Estados Unidos em 2020 era US$ 39 mil, o que, na conversão para o real, gira em torno de R$ 200 mil: “É algo praticamente impossível para um trabalhador assalariado, e lá é um carro mediano. Aqui o nosso modelo de entrada custa cerca de R$ 50 mil. Então além de ser mais caro pagamos mais por versões mais simples”.
Outro ponto que joga contra o consumidor brasileiro é a taxa de juros para financiamento, de 21,6% ao ano e que pode terminar 2021 nos 25% por causa da trajetória de alta da Selic, hoje em 5,25% ao ano, mas com projeções de chegar a 7% em dezembro.
Conforme dados da Car&Driver, citados pelo economista, para efeito de comparação a taxa nos Estados Unidos era de 3% ao ano em 2019. O tempo médio de financiamento também ajuda o estadunidense que quer desfilar de carro novo: 69 meses — no Brasil são, no máximo, 48 meses.
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