São Paulo – Após hiato de quatro anos, período do fechamento das portas à aquisição da massa falida pela Rodofort em leilão que movimentou R$ 90 milhões, a fabricante de implementos rodoviários Guerra voltou ao páreo em setembro do ano passado. E tem planos robustos para 2022, a começar pelo investimento de R$ 30 milhões a R$ 35 milhões, previstos para serem injetados na linha de produção e em pesquisa e desenvolvimento.
“Para quem está começando eu diria que é um investimento bastante audacioso”, afirmou, com exclusividade para a Agência AutoData, o diretor industrial da Guerra Adilson Rath. “Mas vamos analisando o desempenho a cada trimestre e realizando os aportes.
Com a aquisição as operações da Rodofort, com sede em Sumaré, SP, e da Guerra, em Caxias do Sul, RS, tornam-se complementares. E, juntas, querem ser donas de até 15% do mercado de implementos rodoviários dedicados a veículos pesados. Rath contou que o planejamento para este ano foi feito com base no desempenho do mercado em 2021, que segundo dados da Anfir, emplacou 90,3 mil reboques e semirreboques, exatamente o seu foco:
“Temos capacidade instalada para buscar parcela bem significativa desse mercado, de 12% a 15%. Não conseguiremos atingir tudo isso porque estamos voltando agora. Então tentaremos, no mínimo, 8%”.
Em outras palavras a Guerra, que sozinha, no acumulado dos últimos quatro meses do ano passado, fabricou 450 pinos, junto com a Rodofort pretende elevar sua produção para total de 7 mil a 7,5 mil unidades.
Aproveitando o bom momento do setor – que impulsionado pelo aquecimento da demanda pelo agronegócio, construção civil e comércio eletrônico apresentou seu melhor resultado desde 2013 – Rath afirmou que estão em andamento parcerias para o desenvolvimento de produtos nanotecnológicos e que tenham o nióbio como um de seus componentes, assim como já fazem alguns concorrentes: “Já fazemos alguns testes com esses novos materiais. Estamos nos aproximando de universidades e pesquisadores. Há bastante oportunidade no mercado”.
O grupo de P&D está sendo montado. A equipe toda, hoje com 730 colaboradores, está contratando e planeja, até meados de agosto, ampliar o quadro para oitocentos profissionais, em uma estimativa conservadora. Em cenário mais otimista é possível chegar aos 1 mil funcionários. “Queremos trazer novidades ao longo deste ano com adequação das linhas de produtos.”
Dentro das apostas a Guerra focará em basculantes e graneleiros, que são os modelos mais demandados no País: de janeiro a dezembro do ano passado o mercado emplacou 24,7 mil basculantes e 17 mil graneleiros, quase a metade de tudo o que foi vendido para os pesados. Carga geral e sider também fazem parte do portfólio, mas com o selo Rodofort.
Para se destacar e atrair freguesia o planejamento inclui identificar as necessidades dos clientes, lembrou o executivo. A customização, no entanto, deverá se destacar pela qualidade e pela velocidade, prosseguiu.
A empresa se baseia em sua história e nos diferenciais de seus processos produtivos para atrair novamente gerações de famílias de caminhoneiros. Hoje a maior parte dos consumidores é composta por autônomos e pequenos grupos, como cooperativas, que têm três ou quatro caminhões. Mas os grandes grupos estão no alvo, avisou Rath.
Atualmente o grupo dispõe de vinte concessionárias e o plano é chegar em dezembro com 28, algumas já em negociação. No passado a marca, que somava 46 anos de atividades quando a falência foi decretada, em 2017, chegou a ter 42 revendedoras: “A Guerra era a segunda maior do mercado. Por enquanto não temos condições físicas nem financeiras para ocupar essa posição. Teremos de nos reinserir junto aos cinco maiores fabricantes do Brasil”.
Fundada por Ângelo Guerra a companhia era a maior concorrente da Randon, dirigida por Raul Randon no mesmo bairro de Caxias do Sul. A morte prematura de Guerra, na década de 1970, no entanto, e a venda para grupo francês em 2008, acabou desenhando caminho diferente de sua contemporânea – Randon veio a falecer cerca de quarenta anos mais tarde, em 2018.
Quanto ao tradicional lema, Guerra É Paz na Estrada, que ainda em 2015 saiu da linha, o diretor afirmou que, como é patenteado, seu retorno está sendo rediscutido: “Está no nosso radar”.
Incertezas – Rath ponderou que a consolidação de todo o planejamento dependerá do comportamento do mercado: “Em 2021 tivemos crescimento astronômico. Nunca vi algo assim. E espaço para crescer existe: o problema é a manutenção desse patamar por várias questões, como essas altas descompassadas nos custo das matérias-primas, os aumentos gradativos dos combustíveis. Tudo isso pode reter investimento. Então estamos otimistas, mas com muita cautela”.
O diretor da Guerra exemplificou que muitos dos insumos oscilam conforme o dólar e o petróleo, como itens de cobre e polímeros, que se tiverem variação intensa podem afetar todo o portfólio: “A basculante, por exemplo, é composta em sua maioria por material importado, em torno de 85% do produto é composto por aço de alta resistência. No Brasil temos alguns fabricantes, que ainda estão fornecendo timidamente”.
Por isso destacou que será preciso tomar alguns cuidados para não ser obrigado a fazer grandes repasses de preços aos clientes. Em carteiras muito longas, por exemplo, reconheceu a possibilidade de haver renegociação no meio do caminho. O cenário preocupa principalmente porque a maioria de seus clientes é de um público que depende de financiamento para comprar o veículo e o implemento, o que é afetado pela alta de juros.
Para equalizar a operação está nos planos da companhia expandir as exportações, principalmente para o Mercosul, para países como Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai. Rath contou que com a retomada a empresa foi procurada por antigos concessionários, "e assim as perspectivas são animadoras”. A ideia é exportar, este ano, de 5% a 8% da produção.
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