São Paulo – As últimas gestões da Anfavea foram marcadas por termos que, de tão repetidos pelos ex-presidentes, tornaram-se mantras. Antonio Megale falava da previsibilidade, que perseguiu durante os três anos em que ocupou a principal cadeira naquele prédio da avenida Indianópolis, 496, e conseguiu em partes com a aprovação do Rota 2030. Luiz Carlos Moraes, no último triênio, bateu na tecla da competitividade, esta em meio a crises como pandemia, falta de semicondutores e uma guerra. Márcio de Lima Leite assumiu o cargo na segunda-feira, 2, com uma nova palavra de ordem: industrialização, no sentido de oposto à desindustrialização.
Em seu discurso de posse o advogado e contador, e atleticano, vice-presidente de assuntos jurídicos, tributários e de relações institucionais da Stellantis América do Sul, disse ser este o seu grande desafio como presidente da Anfavea. Admitiu que, nos últimos anos, a indústria brasileira perdeu espaço, mas mantém sua força, sua base e sua relevância.
“Precisamos reforçar a competitividade da porta para fora, cuidar de nosso parque de fornecedores. Essa é a grande fortaleza do nosso setor. Temos que manter olhar atento para a indústria pois é ela que transforma o País, gera empregos e é capaz de fazer a mudança social.”
Márcio Lima
A competitividade, segundo Lima, será consequência deste reforço na industrialização. A partir dela, argumentou, portas para ampliar a exportação serão abertas – e não apenas para a América Latina: “Temos competência e qualidade de exportar para mercados maduros. Nossos produtos em nada devem aos produzidos em outros países”.
Outro termo usado pelo novo presidente da Anfavea foi senso de urgência. Demonstra o quanto está preocupado e como o Brasil precisa agir rápido para fazer essa virada. Na terça-feira, 3, ele tomará posse em Brasília, DF, após reunir-se, junto com os principais executivos das montadoras associadas à entidade, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua equipe.
Temas de gestões passadas, como reforma tributária, competitividade para avançar com as exportações, reforço em pesquisa e desenvolvimento, dentre outros, seguirão na pauta. Todos são importantes, segundo Lima, para manter em pé um setor que emprega mais de 1 milhão de pessoas, possui ecossistema formado por mais de 98 mil empresas e é responsável por 20% do PIB industrial do País.
Descarbonização – Embora enfrente os problemas internos não há como deixar de olhar para a indústria global, ainda mais em meio ao processo de transformação pela qual ela vem passando nos últimos anos. Os planos de descarbonização, iniciados na gestão de Moraes, seguirão sob a presidência de Lima, que enxerga a necessidade de caminhar na direção da eletrificação, com cautela.
“Os carros elétricos chegarão no Brasil. Temos o etanol, mas não podemos criar descompasso da cadeia de fornecedores com a indústria global. Por outro lado os elétricos são caros, não acessíveis à maioria da população e não dispomos ainda de infraestrutura. A solução será um mix, de híbridos, elétricos, híbrido plug-in e etanol.”
O executivo ressaltou, também, a necessidade de tornar o automóvel mais acessível às classes de menor renda. Mas não deu pormenores de como fazer isso: disse, apenas, que quando a economia melhorar, “quando o mundo voltar à normalidade”, o acesso aos produtos será mais facilitado: “Juros a 27% ao ano afasta o consumidor do carro 0 KM”.