São Paulo – Em meio às negociações mediadas pelo MPT, Ministério Público do Trabalho, a Caoa Chery enviou telegramas na quarta-feira, 25, para comunicar o desligamento de funcionários da fábrica de Jacareí, SP, que será adaptada para produzir veículos elétricos a partir de 2025. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região a montadora postou o aviso a 580 dos 624 empregados da unidade.
Após assembleia com os operários foi decidido que eles não aceitarão as demissões e que a entidade ingressará na quinta-feira, 26, com ação civil pública na Justiça do Trabalho de Jacareí pleiteando o cancelamento dos cortes. O Ministério Público do Trabalho informou que designará uma nova audiência de mediação com a Caoa Chery e o sindicato no dia 1º de junho. As partes ainda serão notificadas.
Para o presidente do sindicato, Weller Gonçalves, a demissão em massa mostra total desrespeito aos operários, à entidade e ao MPT:
“O envio dos telegramas é inaceitável. Não engoliremos, de forma alguma, este abuso. Cobraremos, ainda com mais força, medidas do poder público para impedir tamanha covardia. Os trabalhadores já demonstraram, em todas as manifestações, que estão dispostos a lutar até o fim para a preservação de seus empregos. Não vamos descansar enquanto as demissões não forem canceladas”.
Weller Gonçalves
Gonçalves disse que continuará cobrando os governos municipal e estadual para que não aceitem o fechamento da fábrica e os cortes, levando em conta benefícios e isenções fiscais concedidos à Caoa Chery.
A montadora se manifestou dizendo que mesmo após apresentar propostas, o sindicato insiste na adoção de lay off. Os metalúrgicos pleiteam o uso da ferramenta por cinco meses mais três meses de estabilidade no trabalho, a fim de que os profissionais possam se organizar frente ao desligamento.
“A Caoa Chery esclarece que, no momento que atravessa, não pode se valer de tal recurso, pois a restruturação do estabelecimento e maquinário demandarão longo espaço de tempo, provavelmente mais do que dois anos. O lay off admitido na legislação brasileira destina-se às hipóteses de suspensões das atividades com rápida retomada da produção e do trabalho. Não é o caso. As dispensas de empregados são certas, porque não terão nenhuma função por todos os meses de paralização da atividade naquela fábrica.”
Segundo a companhia, as partes não devem utilizar-se de benefícios e verbas públicas para remunerar seus empregados quando têm ciência prévia de que não retomarão as atividades em curto espaço de tempo.
O sindicato tentou negociar ainda, aos que não quisessem o lay off, o pagamento de vinte salários nominais e a extensão dos benefícios por dezoito meses, conforme proposta do MPT. A empresa, entretanto, ofereceu indenização de sete a quinze salários nominais, sem outros benefícios. Diante do impasse, na terça-feira, 24, duzentos operários ocuparam a fábrica por uma hora e meia.
A montadora informou que após as duas reuniões com o Ministério Público do Trabalho teria avançado em sua proposta e aguardava resposta do sindicato, que ficou de consultar os trabalhadores. “Todavia, antes mesmo de receber uma resposta, a Caoa Chery foi surpreendida pela invasão de sua propriedade, que foi danificada, em lamentável ato ocorrido na terça-feira, 24 de maio, organizado pela direção sindical.”
A empresa reforçou que a planta de Jacareí, de onde saíam os modelos Arizzo 6 e Tiggo 3X, está sem produção há mais de dois meses, com os trabalhadores em casa, recebendo os salários e demais benefícios em forma de licença remunerada. “Não havia, como não há, nenhuma razão plausível para tal violenta e temerária atitude. Saíram da fábrica mas agora estão impedindo a entrada de qualquer das pessoas, mesmo aquelas necessárias à manutenção e preservação dos equipamentos que lá se encontram.”
Por esses motivos a Caoa justificou que realizou as demissões por telegrama.