Resende, RJ – A Volkswagen Caminhões e Ônibus começou a produzir este mês sua linha de caminhões 2023, com motorização Euro 6, para atender à oitava etapa da legislação brasileira de emissões de poluentes para veículos pesados, o Proconve P8, que entra em vigor em janeiro.
A empresa informou que investiu R$ 1 bilhão, ou metade do programa de R$ 2 bilhões previsto para o período 2021-2025, para desenvolver trinta novos modelos e versões que começam a ser vendidos na Fenatran, em novembro, por preços de 15% a 20% mais altos que os da linha atual Euro 5.
Roberto Cortes, presidente da VWCO, disse que “a linha 2023 não é só um atendimento à legislação de emissões ou uma mudança de tecnologia do motor: nós fomos além e agregamos mais valor aos produtos”.
O executivo observou que a nova linha enfrenta agora o desafio de agregar novas e mais caras tecnologias sem, no entanto, encontrar espaço para elevações de preços suficientes para repor todos os aumentos de custos já ocorridos nos últimos anos.
Mercado – Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas e marketing, avaliou que os aumentos da nova linha de caminhões Euro 6 não deverão ter grande impacto no volume de vendas de 2023. “Não houve, este ano, tantas compras antecipadas para fugir dos aumentos como aconteceu em etapas anteriores da legislação de emissões. Desta vez a falta de componentes limitou as vendas. Então deveremos ter um cenário menos difícil no ano que vem em comparação ao que houve do Euro 3 para o Euro 5, de 2011 para 2012”.
Cortes indicou que tem a mesma expectativa da associação dos fabricantes de veículos, a Anfavea, para o mercado de caminhões este ano, que deve crescer apenas 2% sobre 2021, para algo em torno de 120 mil unidades: “Os problemas de falta de componentes continuam, não dá para ir muito além. Nós sofremos menos porque temos os fornecedores dentro da fábrica, mas também sofremos com o problema”.
Alouche destacou que, apesar das limitações, a fábrica de Resende opera em dois turnos desde o fim de 2020 e não parou totalmente nenhum dia desde então, o que garantiu a liderança da marca no mercado brasileiro de caminhões este ano, com modelos de 3,5 a 125 toneladas que juntos detém 28,6% das vendas de janeiro a setembro: “Deveremos chegar nos 30% até o fim do ano”.
As vendas da linha de cavalos mecânicos extrapesados Meteor, lançada no fim de 2020, segundo o executivo “só não estão melhores por causa da falta de componentes”. Ele aponta que em dois anos no mercado foram vendidos 8 mil caminhões Meteor, número maior do que os 7 mil MAN TGX vendidos nos dez anos em que o modelo foi montado em Resende – a montagem parou em 2021.
Evolução – Para além dos novos motores, que segundo a fabricante ganharam mais potência e torque, ficaram em torno de 5% mais econômicos e reduzem em até 10% o custo total de operação com menor necessidade de manutenções, os novos caminhões Euro 6 das linhas Delivery, Constellation e Meteor também ganharam faróis e lanternas de LED, bancos mais ergonômicos e confortáveis, bem como quadro de instrumentos 100% digital e configurável – este só começa a ser oferecido no segundo semestre de 2023 nas versões topo de linha Prime e como opcionais nas demais.
A nova linha de caminhões Volkswagen é equipada com motores diesel Euro 6 MAN D08 e D26 produzidos sob encomenda no Brasil pela MWM em São Paulo, e os demais motores são fornecidos pela Cummins em Guarulhos, SP, e pela FPT em Sete Lagoas, MG — esta já fornece desde o início de 2022 o motor Euro 6 de 160 cv que equipa o comercial leve Delivery Express, de 3,5 toneladas, para se enquadrar à legislação de emissões para veículos leves do Proconve L7 que entrou em vigor um ano antes dos pesados, e agora o mesmo motor passa a equipar também o Delivery 6.160.
Conforme contou o vice-presidente de engenharia, Rodrigo Chaves, ao contrário do que aconteceu na Europa, onde motores Euro 6 perderam potência com relação aos Euro 5, no Brasil foi possível aumentar de 10 a 40 cv, dependendo do modelo.
Os motores Cummins ISF que equipam a linha de quatro modelos leves e médios Delivery de 9 a 12 toneladas, por exemplo, aumentaram a potência para 180 cv. No topo de gama os motores MAN D26 dos extrapesados Meteor subiram de 460 para 480 cv e de 520 para 530.
“Aplicamos melhorias e aumentamos a eficiência de toda a linha de caminhões, com reduções de peso de motores e chassis combinadas com aumento de potência e assim agregamos maior capacidade de carga em quase todos os modelos.”
A nova geração de veículos também conta com pacote de sistemas de segurança ativa, incluindo controle eletrônico de estabilidade e tração, assistência de partida em rampa, novos freios com antitravamento ABS e distribuição de frenagem EBD que reduziram em 7% a distância de frenagem, em média. Segundo Chaves já está no horizonte a adoção de ACC, controle de velocidade adaptativo em relação ao veículo da frente, e frenagem automática de emergência.
Segundo a VWCO a nova linha Euro 6 engloba o maior desenvolvimento já feito na história de quarenta anos da empresa: consumiu mais de 6 milhões de quilômetros de testes de rodagem com cem veículos. Os projetos foram todos executados no Brasil, no centro de engenharia instalado no complexo industrial de Resende, RJ, que abriga mais de quinhentos engenheiros e técnicos. A fábrica no Sul Fluminense está completando 26 anos de operação e tem capacidade anual para produzir 100 mil caminhões e chassis de ônibus, fabricados por oito empresas que integram o consórcio modular de produção.
“Éramos uma ilha no Brasil, único país no mundo a produzir caminhões e ônibus Volkswagen, mas hoje integramos o Grupo Traton que tem também MAN, Navistar e Scania e podemos compartilhar avanços tecnológicos e manter nossa identidade”, disse Roberto Cortes, lembrando que atualmente os produtos VW Caminhões e Ônibus já têm presença em três continentes, América Latina, África e Ásia, com mais de trezentos pontos de venda, 140 deles no Brasil.