Maior montadora da América Latina caminha para ser uma empresa de tecnologia de mobilidade
Betim, MG – Com catorze marcas debaixo de seu guarda-chuva, algumas centenárias, e cerca de 300 mil funcionários em todo o mundo a Stellantis é a antítese de startup, como são chamadas as novas empresas emergentes e inovadoras. Mas a líder em produção e vendas na América Latina, com forte presença na Europa e naAmérica do Norte, é assim considerada por seu CEO, Carlos Tavares: uma startup veterana.
Porque, na visão de seu CEO, o transatlântico automotivo está tomando novos rumos: não bastará a Stellantis ser uma fabricante de veículos no futuro, mas uma empresa de tecnologia de mobilidade. E é nessa transformação que entram os conceitos de startups, na busca por inovações e de seguir o caminho certo, sendo que ele nem está totalmente traçado.
O clima de startup está presente também nas baias e paredes, com tons coloridos, mais leves e pufes para os trabalhadores sentar. E o dress-code também foi suavizado: não se vê executivos com gravatas e nos escritórios tênis calçam os pés dos funcionários.
“A única constância é a mudança”, afirmou Fernanda Bandeira, diretora de software e transformação digital na América do Sul. “Nossa transformação em uma empresa de tecnologia de mobilidade é uma mudança de paradigma. Ontem pensávamos em vender carros, hoje precisamos focar em vender mobilidade.”
Para isso passaram a fazer parte do dia a dia da empresa termos como business intelligence, low code, devops e cloud, não apenas no departamento de TI mas de forma transversal em todas as áreas. Enquanto são desenvolvidos novos negócios como o Flua!, divisão de assinatura de veículos, e o Cart, de pagamentos por meio do próprio automóvel, as áreas antigas, como a linha de montagem, são modernizadas.
A reportagem da Agência AutoData visitou a linha de montagem de Betim, MG, de onde saem os Fiat Mobi, Argo, Fiorino, Strada, Pulse e Fastback. Na área de solda, por exemplo, 83% de todas as etapas são feitas por robôs – no caso dos dois SUVs mais novos, 100%.
Mas não é só isso: a adoção de novas tecnologias permitiu, por exemplo, que o desenvolvimento da picape Strada fosse feito em apenas dezoito meses. Óculos 3D e realidade virtual, dentre outros, aceleraram o processo e colaboraram para que milhares de reais fossem economizados na confecção de protótipos.
Boas ideias são bem aceitas, incentivadas e premiadas. Neste ano duas startups brasileiras foram premiadas no 1º Startup AwardsStellantis, a Phygitall e JettaCargo. Globalmente estão reservados € 300 milhões para investimentos em startups.
Futuro no Brasil – Enquanto novos caminhos são pavimentados aqueles tradicionais da indústria seguem sendo aprimorados. No centro das discussões de uma montadora está a descarbonização, e não deixa de ser diferente na Stellantis.
A estratégia é clara: por aqui haverá a hibridização antes da eletrificação pura. A justificativa de João Irineu Medeiros, vice-presidente de compliance de produto e regulamentação, é pelos custos elevados das baterias e a existência do etanol, uma alternativa limpa.
“A descarbonização precisa ser pensada sem grandes impactos econômicos, sociais e ambientais. Se passarmos diretamente para os elétricos haverá perda de volume de produção e, por consequência, de empregos.”
Segundo ele os segmentos A e B adotarão a tecnologia híbrida leve, MHEV. Os carros dos C e D terão híbrido puro, o HEV, e o híbrido plug-in, PHEV. Ainda demora alguns anos, porém, para que os primeiros veículos Fiat, ou Jeep ou Peugeot ou Citroën, eletrificados sejam produzidos no Brasil. A ideia é que todo o sistema seja produzido no Brasil, gerando tecnologia e empregos locais.