São Paulo – Efeito dominó das paradas das montadoras já começa a ser sentido na cadeia de fornecedores de autopeças. A partir de 22 de maio os cerca de 5 mil trabalhadores da unidade da Iochpe-Maxion em Cruzeiro, SP, terão diminuição de jornada e salários, a princípio, de 10%. A cada noventa dias, pelo período de um ano, o cenário será reavaliado e pode ser renovado por mais noventa, até o limite de um ano, e o porcentual de redução poderá chegar a 25%.
Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Cruzeiro, Jacyr Cleber Mendes, a Iochpe-Maxion tem sido bastante impactada pelo mercado de pesados, que sofrem com quedas bruscas na demanda. A companhia fornece rodas para caminhões e ônibus e chassis para caminhões e, nos últimos tempos, a produção caiu 35%.
“Somente a produção desses itens para caminhões e ônibus envolve em torno de 1 mil trabalhadores”, disse Mendes. “E, frente ao cenário de dificuldades, a Maxion cogitou a demissão de quinhentos deles, ao dizer que não havia mais o que fazer, pois já tinha concedido férias vencidas, férias coletivas e desconto no banco de horas.”
O sindicato então negociou com a empresa a redução de jornada e salário e, adicionalmente, enxugou um dia da semana para 450 empregados que trabalhavam de segunda a sábado: a empresa economiza, assim, as contas de luz e do funcionamento do restaurante: “Conseguimos também estabilidade nos empregos até 31 de dezembro”.
A companhia confirmou, em nota, que negociou com o sindicato e com os funcionários de Cruzeiro acordo de redução de jornada e salário, com garantia de manutenção de empregos até o fim de 2023.
Cenário dificulta incremento das vendas de veículos e componentes
O setor automotivo tem sofrido com o arrefecimento de demanda causado, principalmente, pelo difícil acesso ao crédito que, além disso, oferece juros nas alturas – o que deve continuar, uma vez que a Selic foi mantida em 13,75% ao ano.
No caso dos pesados o agravante adicional fica por conta da mudança de motorização para Euro 6, o que elevou os preços dos veículos em 20% a 30%. Outro ponto é o menor poder de compra do consumidor e a desaceleração da economia, que retraiu 0,2% no último trimestre do ano.
Na base do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que engloba São Bernardo do Campo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, SP, nove empresas já lançaram mão de ferramentas de flexibilização para manter os empregos e reduzir a produção, a fim de equalizá-la aos pedidos das montadoras.
Em Diadema a Metaltork concedeu layoff, a Isringhausen ofereceu férias coletivas e a IGP reduziu um turno de produção e passou a trabalhar com dois deles.
Em São Bernardo a R. Castro estabeleceu 31 dias de licença remunerada, a Arteb e a Mahle realizaram mudanças no calendário de dias de pontes de feriados no que diz respeito às suas compensações, e a ZF concedeu férias. Em Ribeirão Pires a WMG e a Fledlaz adotaram redução na jornada de trabalho.
Nas palavras do coordenador da regional do sindicato em Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, Marcos Paulo Lourenço, essas paradas das montadoras são traumáticas para as pequenas empresas, que não dispõem das ferramentas de flexibilização de emprego tal qual as fabricantes de veículos e as produtoras de autopeças de maior porte.
“Muitas delas são pegas de forma desprevenida e não têm capital de giro para conceder férias coletivas. Mesmo para optar pelo layoff é preciso estar quites com o governo, com o pagamento de impostos. E geralmente as empresas pequenas possuem algum tributo em haver. Sem contar que não é uma opção barata, porque tem as aulas do Senai, que a fabricante precisa pagar.”
Marcos Paulo Lourenço, coordenador da regional do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra
Lourenço disse que, diante disso, é preciso negociar algumas situações para manter o emprego, o que inclui redução de jornada e salários, além de desconto no banco de horas. E, como contrapartida, o sindicato combina com as empresas uma estabilidade maior, até o fim do ano.