Perspectiva reflete otimismo com reação de pesados ao mesmo tempo em que o agro, de onde deverão sair novos clientes, segue reticente por causa de mudanças climáticas
São Paulo – Na esteira da perspectiva de retomada das indústrias de caminhões e ônibus, após o tombo na transição para o Euro 6 em 2023, a FPT espera expandir seu faturamento de 5% a 10% em 2024. A projeção não é tão vigorosa porque nesta equação é preciso incluir a demanda do agronegócio, ainda um pouco reticente devido às mudanças climáticas e aos impactos dos preços das commodities, em baixa, embora a previsão seja de safra recorde.
Recém assumido presidente da FPT Industrial na América Latina, Carlos Tavares tem como principal desafio ampliar o portfólio da marca com as montadoras que já atende e conquistar novos clientes – até porque em torno de 60% do volume de negócios provêm de clientes globais que não integram o Grupo Iveco. Os 40% restantes perfazem Iveco Caminhões, Iveco Bus e IDV.
Segundo Tavares estão sendo costuradas ampliações de fornecimento com fabricantes de pesados, mas o maior volume de novos negócios deverá derivar do segmento agrícola. Vale ressaltar apenas que contratos fechados hoje refletirão daqui a dois ou três anos, quando serão aplicados, uma vez que o tempo de desenvolvimento e maturação não é tão rápido.
A FPT classifica seus clientes em três grandes grupos: rodoviário, agrícola e construção. O rodoviário inclui caminhões e ônibus e responde por 50% das demandas. Para este a perspectiva é crescer de 13% a 15% em 2024. A outra metade dos clientes se distribui em agrícola, com fatia de 60%, construção, 20%, geração de energia, 15%, e marítimo o restante, o que conforme o executivo trata-se de oportunidade pouco explorada na qual pretende avançar.
“O crescimento é um fato, acho que todo mundo na indústria não tem mais dúvida sobre isso, apesar de janeiro ter mostrado o contrário, mas fevereiro, março e abril foram muito positivos. Então, falar de 13%, se possui um portfólio com leves, a 15%, se seu foco está nos pesados, é bastante coerente e possível, não há muita dúvida sobre isso.”
No caso da Iveco, Caminhões, que possui leque que vai dos leves ao extrapesado, sua aposta é um pouco mais conservadora, de avanço de até 13% porque o crédito no Brasil ainda é uma das barreiras para poder continuar crescendo.
“E quem sofre mais é o caminhão leve, que tem como clientes uma grande maioria de empresas como MEI e CPFs. Essas empresas para conseguir crédito sofrem mais do que as que demandam extrapesados, geralmente companhias muito mais estruturadas e com departamento financeiro para isto.”
Para o executivo o agronegócio deverá empatar com o desempenho do ano passado. Ele disse que o governo liberou R$ 8,8 bilhões para ampliar o acesso a empréstimos de MEI e PMEs com garantia do Tesouro Nacional. Só que quando se leem as letras miúdas é que se entende como será na realidade:
“Conversando com especialistas do agronegócio eles nos disseram que as empresas profissionais serão as mais beneficiadas, uma vez que o empréstimo não poderá ser feito para CPF e, assim, o pequeno fazendeiro pessoa física ficará fora deste pacote. Quando se fala de caminhões há restrições de crédito mas existe o valor. Os médios e grandes fazendeiros crescerão e farão renovação ou ampliação da sua frota de máquinas”.
Ainda assim, olhando para o lado positivo, aquele que renovar a frota repassará a máquina agrícola seminova ou usada para o pequeno produtor. E se conseguir uma taxa abaixo de 9%, considerando que as taxas reais hoje estão da ordem de 14%, incluso IOF, ponderou Tavares, haverá vantagem e o ciclo girará.
Quanto à construção civil, a despeito dos altos e baixos deste segmento que tem no governo seu grande alavancador, e este é um ano com eleições municipais, as últimas entregas de obras deverão estimular movimento forte para máquinas.
Quanto aos novos produtos o novo presidente da FPT destacou o desenvolvimento dos novos motores como o movido a gás e o motor a álcool feito em parceria com a CNH Industrial e em testes em tratores de uma usina sucroalcooleira no Estado de São Paulo poderá ser aplicado para reponteciamento de caminhão a diesel, cuja produção deverá ocorrer no início de 2025.
Até o fim do ano que vem também é esperado que o motor F1C, que leva o conceito de flex fuel a veículos comerciais, esteja pronto. Parceria da empresa com a Mahle Metal Leve e três universidades está desenvolvendo motor movido a gás natural, biometano e etanol. Segundo Tavares o prazo está mantido.
A FPT está habilitada ao Mover em proposta focada em tecnologia para manufatura: “Este programa permitirá investimentos que estavam no nosso radar mas que, devido aos valores, foram postergados. Por exemplo: a otimização de uma linha de montagem, inserção de tecnologias 4.0 e de equipamentos conectados com a internet que dão respostas instantâneas. Em vez de fazer planilhas e anotar números uma ferramenta totalmente conectada faz isso por você”.
Na prática as mudanças deverão ocorrer a partir do ano que vem.