São Paulo – A Argentina, outrora principal parceiro comercial do Brasil, hoje responde por 29% da demanda pelos veículos exportados, demanda que tem andado de lado. Com a crise econômica o país tem registrado dificuldade em obter dólares e, portanto, tem exercido medidas para restringir as importações.
Além da escassez de licenças de importação, que provoca filas enormes no Porto de Zárate e dificulta a entrada de carros brasileiros, e gerando paradas em fábricas argentinas, recentemente o governo estendeu o imposto PAIS, Para uma Argentina Inclusiva e Solidária, de 7,5%, aos veículos e autopeças importados – antes esta alíquota incidia apenas sobre veículos de luxo acima de US$ 25 mil.
A extensão do PAIS para o setor foi convencionada no fim de julho pelo ministro da Economia, e pré-candidato à Presidência da República, Sergio Massa, como efeito colateral do pacote fiscal no âmbito das negociações com o FMI que buscavam controlar a crise de inflação, déficit e dívida.
Durante a entrevista coletiva à imprensa da Anfavea, na terça-feira, 5, o presidente Márcio de Lima Leite contextualizou que, além do imposto de 7,5%, o câmbio argentino acumula desvalorização de 27%:
“O produto final encareceu quase 35%. Então, se antes tínhamos competitividade no veículo enviado do Brasil à Argentina, em um mês o efeito econômico para as montadoras que exportam para lá é que ele ficou 35% mais caro”.
Isto acontece em um momento em que o mercado da Argentina vem crescendo: de janeiro a agosto, de acordo com dados da Acara, foram emplacados 319 mil veículos, 11% a mais do que no mesmo período do ano passado. Na avaliação de Leite, 2023 deverá terminar com 430 mil unidades vendidas.
Segundo o dirigente a Anfavea tem conversado com o governo a este respeito mas, diante do momento pré-eleitoral – o primeiro turno será disputado em 22 de outubro – nenhuma medida efetiva foi tomada. E dificilmente será antes das eleições presidenciais.
No fim de agosto foi acordado pelos governos dos dois países a possibilidade da liberação de US$ 600 milhões para financiar exportações brasileiras à Argentina com garantias do Banco do Brasil e do CAF, Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe. A validade da ação, porém, depende de aprovação do conselho gestor do CAF, que se reunirá em 14 de setembro.