São Paulo – Às vésperas da reunião do Copom, do Banco Central, que começará na terça-feira, 1º, e se estenderá até a quarta-feira, 2, a ansiedade é grande em torno não somente do esperado anúncio de redução da taxa básica de juros, a Selic, após um ano sustentando patamar de 13,75%, como do tamanho deste eventual corte. A indústria automotiva almeja há meses esta baixa a fim de que ela reflita na ponta, ou seja, no financiamento de veículos, e que ajude a dar uma sacudida nas vendas. Ou seja: que traga demanda à produção das fábricas.
Especialistas consultados pela Agência AutoData não somente dão como certa a diminuição da Selic – conforme o próprio Copom sinalizou anteriormente, de que até agosto ou setembro promoveria um recuo – como até arriscam que ela poderá superar a aguardada redução de 0,25 a 0,5 ponto porcentual.
O Boletim Focus publicado na segunda-feira, 31, que se baseia na projeção do mercado, apontou que a Selic encerrará 2023 aos 12% ao ano, mesma expectativa que vem sendo mantida há quatro semanas. Considerando que daqui ao fim do ano estão programadas quatro reuniões é possível que as reduções, de fato, não sejam tímidas.
Outro ponto a ser considerado é que nos doze meses terminados em junho o IPCA atingiu 3,16%, abaixo dos 3,94% observados no período imediatamente anterior, ou seja, até maio. A projeção trazida pelo Focus é que a inflação alcance 4,84% no fim deste ano, o que veio sendo achatado ao longo do último mês, ao passar de 4,98% para 4,9% e, agora, a esta perspectiva. A divulgação do indicador de julho é aguardada para 11 de agosto.
Na avaliação do professor de macroeconomia da Fipecafi e do Pecege, Sílvio Paixão, é possível que o BC decida recuar os juros até 13% ao ano nos próximos dias, ou seja, 0,75 ponto porcentual:
“O que tem sustentado a inflação é o câmbio, com o dólar em queda, e os preços dos alimentos, que por estarmos em safra também têm sido reduzidos. Então pode ser que o BC decida fazer uma redução singela, de 0,25 ou 0,5 ponto porcentual, como pode ser que baixe de forma mais significativa, o que eu acredito”.
Para o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, embora o primeiro semestre tenha sido positivo do ponto de vista econômico, ou seja, com o PIB tendo avançado 1,9%, ainda que puxado pelo agronegócio, o setor industrial e o de serviços ainda estão bastante parados. Ele crê em recuo de 0,5% na Selic.
“A partir daí teremos reativação do setor de crédito, o que será importante para habitação, eletrodomésticos e automóveis. As montadoras estão esperando muito este cenário para desafogar estoques, que estão muito elevados, para poder reativar turnos de produção, trazer pessoal que está em férias coletivas ou em layoff.”
A sinalização mais importante para esse movimento que se espera, disse Balistiero, foi a aprovação da reforma tributária, ensaiada há mais de vinte anos, o que, acredita, tornará nosso sistema mais racional, fazendo com que o processo todo de transações fique menos custoso no Brasil: “A redução dos juros, junto com a reforma tributária, é a última etapa do processo. Tenho otimismo que, espero, não seja exagerado, de que a indústria começará a ser destravada no segundo semestre. Principalmente a automobilística.”
Mais conservador, o superintendente de pesquisa econômica do Banco Itaú, Fernando Machado, defendeu corte mais “parcimonioso” de 0,25 ponto porcentual na reunião que se encerra quarta-feira, para 13,5% ao ano.
Conforme destacou durante Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2023 o País está com sorte de o cenário global desinflacionar a inflação brasileira, devido à desaceleração da China e do fato de os Estados Unidos elevarem seus juros, o que puxa para baixo os preços das commodities.
A expectativa do economista do Itaú, à ocasião do evento, era a de que o IPCA recuará dos 5,8% de 2022 para 5,1% em 2023, calcada, principalmente, no fato de que a inflação dos bens industriais, que inclui veículos, despencará de 9,5% no ano passado para 2,4% este ano.
Redução da Selic chegará na ponta do crédito?
As reticências postas por Sílvio Paixão, entretanto, estão na dúvida se os bancos acompanharão na mesma toada essa movimentação do BC. Diante do fato de, nos últimos meses, as instituições terem se comportado de maneira defensiva, até pela elevada inadimplência, na casa de 5%, ele tem dúvidas de que sejam agressivos na ponta do crédito.
“Acredito que a redução não se dará na mesma velocidade nem na mesma proporção que a da Selic. Até porque, diante da alta inadimplência, parece que os bancos preferem emprestar menos e manter sua margem.”
Tradicionalmente os movimentos da Selic levam em torno de seis meses para se refletirem no mercado, às vezes até nove meses. Mas, diante da angústia do setor industrial, especialmente o automotivo, frente à expectativa por esse corte, que já dura meses, há a possibilidade de que os bancos reajam – até porque a pressão será grande caso isso não ocorra.
Para algo mudar de fato o professor da Fipecafi e do Pecege justificou que o Brasil precisaria crescer pelo menos 3% ao ano quando as perspectivas giram em torno de 2%. De acordo com o Focus o PIB deverá encerrar 2023 aos 2,24%, um pouco melhor do que a projeção de 2,19% dada um mês atrás.