São Paulo – Desde o anúncio do encerramento das atividades da Toyota em Indaiatuba, SP, programado para julho de 2026, empresa e o Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região têm travado agenda intensa de negociações para alinhavar os benefícios oferecidos tanto aos trabalhadores que optarem por serem transferidos a Sorocaba, SP, como aos que decidirem sair da empresa. A falta de acordo já levou a uma greve de cinco dias na unidade em que é fabricado o Corolla.
Segundo o presidente do sindicato, Jair Santos, a montadora usou um fim de semana para desmobilizar a linha de partes de peças, que estava atravancando a produção do Corolla Cross e do Yaris na unidade de Sorocaba: “Eles contrataram empresa terceirizada que desceu de helicóptero na fábrica e arrancou a linha, em que cerca de cem trabalhadores operavam”.
A Toyota negou o uso de helicóptero, embora admita ter transferido ferramentais de uma unidade para a outra. A empresa justificou que não se tratou de ato para repreender o movimento de paralisação, mas que faz parte do processo de transição e que ela pode entender que determinada atividade faz mais sentido em uma fábrica do que em outra.
Segundo Santos foram transferidas a produção de longarinas para o Corolla Cross e o Corolla, 25 moldes de prensa para fabricar o piso do Corolla e do Yaris e uma peça da injetora que produz a frente do Corolla – esta, levada para a Argentina, em Zárate, onde é feita a picape Hilux.
Após audiência de conciliação no TRT inconclusiva os funcionários decidiram voltar ao trabalho. De 16 a 26 de abril, porém, a empresa concedeu a eles licença remunerada. E aos empregados de Sorocaba determinou, pelo mesmo período, folga com desconto no banco de horas.
Considerando que a produção diária de Indaiatuba é de 245 Corolla, ao longo dos dez dias úteis sem atividades na fábrica deixaram de ser produzidos 2 mil 450 veículos. Desde que foi anunciado o fechamento, por causa de paradas pontuais, esse número chega a 5 mil, estimou o sindicalista: “Ao que tudo indica a Toyota está acelerando processo de transferência. Até então o primeiro prazo era setembro de 2025”.
De fato a companhia afirmou que o início do processo será em abril do ano que vem, mas não antes disso, uma vez que a obra da nova estrutura da fábrica de Sorocaba ainda está na fase de terraplanagem.
Operários transferidos terão estabilidade até 2029
Diante da necessidade de alinhar os acordos para quem irá a Sorocaba e os que sairão da empresa sindicato e montadora têm se encontrado em série de reuniões. A próxima está agendada para 2 de maio. Um dos pontos levantados pelo sindicato é que o teto dos salários do chão de fábrica de Indaiatuba é de R$ 7 mil 470 e o de Sorocaba gira em torno de R$ 4,5 mil, equivalente a média da unidade que fechará as portas:
“Como não é permitida por lei a redução de salários precisamos garantir estabilidade desses profissionais que manterão seus vencimentos até 2030. Por ora a empresa concordou em estender até 2029”.
De qualquer forma, todos os 1 mil 470 trabalhadores dispõem de estabilidade até o encerramento da produção em Indaiatuba, em julho de 2026. A Toyota reforçou que seu plano é manter a mão de obra empregada em Sorocaba: “O principal objetivo da fabricante é levar todos os funcionários de Indaiatuba para esse novo momento de expansão. Para isto reforça que está comprometida com a manutenção de 100% dos empregos, com as condições salariais, com o período de estabilidade e com o auxílio transferência. A empresa reitera sua premissa de ser aberta ao diálogo e espera que ambas as partes cheguem a um acordo justo e realista.”
A empresa ressaltou também que as negociações ainda estão no início e que os acordos estão sendo construídos.
Benefícios discutidos para quem vai e para quem fica
O que está combinado, por ora, é que os profissionais que aceitarem a transferência receberão o equivalente a dois salários mais R$ 10 mil. Os metalúrgicos que se mudarem para Sorocaba terão ajuda extra de 2,4 vencimentos adicionais. E os que optarem por seguir residindo em Indaiatuba terão ônibus fretado para transportá-los. As duas cidades distam em torno de uma hora e meia.
O tópico que tem levado à maior divergência é a indenização dos que não seguirão na empresa. A oferta patronal para o PDV, plano de demissão voluntária, ainda em construção mas que já foi compartilhado pela companhia com seus funcionários, é de 35 adicionais mais um salário por ano trabalhado, o que poderá chegar a vinte, dependendo do tempo de casa.
A proposta é a mesma ofertada para os funcionários da unidade da Toyota em São Bernardo do Campo, SP, que, em novembro do ano passado, encerrou história de 61 anos, com a decisão da empresa de transferir a operação para Sorocaba e Porto Feliz, SP.
O sindicato, por sua vez, pleiteia o pagamento de oitenta vencimentos, além de 2,5 pagamentos por ano trabalhado, cartão cesta de benefícios por cinco anos e convênio médico por três anos extensivo aos familiares.
A companhia afirmou que segue em curso a negociação com a entidade sobre as condições de transferência da operação da planta de Indaiatuba para Sorocaba.