São Paulo – A tão esperada redução na taxa básica de juros, a Selic, pode vir a partir do mês que vem, na próxima reunião do Copom. O Itaú crê em corte de 0,25 ponto porcentual, de 13,75% para 13,5% ao ano, redução mais tímida do que a aposta do mercado, de recuo de 0,5 ponto porcentual, para 13,25%.
Apesar da expectativa de corte mais “parcimonioso”, como definiu o superintendente de pesquisa econômica do Banco Itaú, Fernando Machado Gonçalves, durante o segundo dia do Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2023, realizado de forma online de 10 a 12 de julho, em linha com o que sinalizou o Copom, o ano deverá encerrar com taxa de 12% ao ano, versus 11,6% do palpite do mercado.
O Itaú, inclusive, revisou sua projeção para a inflação oficial do País, o IPCA, e espera que 2023 termine com indicador aos 5,1%, em processo de baixa dos preços. Segundo Gonçalves esse movimento é impulsionado pela desaceleração do restante do mundo, principalmente da China, além do caminho contrário dos Estados Unidos, de elevar os juros, o que puxa para baixo os preços de commodities como metais, grãos, petróleo e alimentos.
“Estamos com certa sorte de o cenário global desinflacionar a nossa inflação. Um dos principais fatores que deverá reduzir o IPCA dos 5,8% de 2022 para 5,1% este ano é a perspectiva de menor inflação de bens industriais, em que se encontram os veículos, que de 9,5% no ano passado deverá encerrar 2023 em 2,4%.”
E é exatamente isso que abre espaço para o Banco Central falar em corte de juros, apontou o especialista. Outro fator que contribui, prosseguiu, é a confirmação do Conselho Monetário Nacional de que a meta da inflação continuará em 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual.
Os fatos de o PIB ter avançado 1,9% no primeiro trimestre, sendo que o do agronegócio saltou 21,6% estimulado por uma safra de soja forte, também elevaram as expectativas para a geração de riquezas ao fim do ano, para 2,3%. Gonçalves ponderou, entretanto, que este ritmo de crescimento visto de janeiro a março não será mantido ao longo dos próximos trimestres, que deverão avançar apenas 0,2%, 0,1% e 0,1%, respectivamente.
Tudo isso embasado em contexto em que o governo sinaliza aumento da dívida pública, mas, ao mesmo tempo, também indica como pretende obter recursos para custear os gastos extras. Para o especialista o arcabouço fiscal delimitou a piora do endividamento do País e tirou da mesa o risco extremado de não honrar com a dívida. O avanço da discussão em torno da reforma tributária também contribui para a melhora.
Soma-se a este cenário a expectativa de haver aumento do consumo sustentado pela renda, o que é bastante positivo principalmente para o mercado automotivo, destacou:
“Não é que a economia está cantando pneu, mas está se estabilizando e crescendo. Com base em dados de cartões de crédito vemos avanço a partir de junho no que diz respeito a veículos, motos e partes. A redução da taxa de desemprego e o aumento da geração de emprego formal ampliam número de pessoas elegíveis ao financiamento e consumo”.
Embora Gonçalves reconheça que o setor ainda está andando de lado, principalmente após período difícil de falta de peças e de disparada da inflação, e cite que o índice de confiança no segmento ainda está em nível baixo, os números, de acordo com ele, indicam que há expectativa futura de recuperação.