São Paulo — A transição para a eletrificação abre janela de oportunidades, mas também de dúvidas, que devem ser debatidas, esclarecidas e suportadas a fim de que concessionárias e oficinas mecânicas possam se preparar para oferecer serviços para veículos híbridos e elétricos com qualidade e segurança.
O tema, abordado durante o 9º Fórum IQA da Qualidade Automotiva, levantou diversas questões que devem ser esclarecidas antes de os estabelecimentos se prepararem para oferecer serviços de socorro e reparação de modelos movidos a bateria.
“Posso rebocar o veículo? Ele pode ir para o box? Como foi o acidente? Há risco de incêndio da bateria? Quais são as normas reguladoras? O seguro da área da oficina está em dia? São preocupações que ficam para o aftermarket”, apontou Sérgio Ricardo Fabiano, gerente de serviços do IQA, Instituto da Qualidade Automotiva.
O setor precisa se preparar, inclusive, para expandir as certificações ao incluir normas específicas para manutenção das novas matrizes de energia veicular. Os profissionais terão de ser qualificados para novas tecnologias emergentes e também para aspectos relacionados à sustentabilidade de forma mais ampla.
Com o propósito de auxiliar nesse processo a Fenabrave e o IQA estão preparando cartilha com orientações de segurança para atividades com veículos elétricos e híbridos para os concessionários. O objetivo é que o material também traga procedimentos adequados para a área de vendas e pós-vendas.
Marcelo Francilulli, diretor executivo da Fenabrave, contou que o conteúdo não está finalizado ainda, está sendo desenvolvido internamente com base em dados nacionais e internacionais, e que conta com parceria de institutos de outros países em que esse processo está mais avançado. “Estamos fazendo um trabalho profundo.”
Fabiano apontou que, como esse mercado está evoluindo, será preciso, ainda, obter um suporte advindo das próprias montadoras.
Se por um lado realidade do híbrido em sua versão sem tomada não altera o dia a dia da reparação, por outro, híbridos plug-in e 100% elétricos, sim. Vinicius Ramires, sócio diretor da Toyota Ramires Motors, relatou que essa adaptação demanda investimento na concessionária com instalação elétrica redimensionada e obtenção de pelo menos três carregadores, sendo um na frente da loja e outros dois na oficina, que não deve devolver o veículo descarregado ao cliente.
“Como a bateria preenche quase todo o assoalho do veículo, o elevador terá de ser adaptado e será preciso mais espaço para fazer o reparo”, disse ele, ao destacar que haverá diferentes perfis de manutenção, aos quais sua empresa está se preparando.
A desmontagem da bateria, possivelmente, será feita em centros especializados, ou seja, será preciso firmar parcerias. Outro ponto mencionado por Ramires será o reaproveitamento das baterias pelas próprias concessionárias, que poderão utilizar um conjunto delas para gerar energia para o carregador.
Franciulli chamou atenção ao fato de que os guinchos também terão de ser treinados, uma vez que um veículo elétrico sinistrado trará desafios enormes.
João Paulo Merlin, superintendente de Negócios Automóveis da Zurich, contou que a seguradora já oferece apólices para esse tipo de veículo que, se por um lado têm um preço mais elevado por causa do reparo, por outro tanto a presença de carros a bateria nas ruas como de roubos ainda é baixa, e, portanto, os custos se equilibram.
Merlin relatou que nos Estados Unidos, por exemplo, há startup que oferece solução de carregamento portátil, pois o veículo descarregado trava as rodas.
“Acredito que em cinco anos teremos mais soluções de carga rápida, assim como maior volume de eletropostos. Toda essa infraestrutura facilitará a maior adesão por esse tipo de veículos, assim como maior oferta de apólices, a exemplo da cobertura para cabos de carregamento originais.”