Projeto apoiado pela Embrapii busca ampliar a segurança nas estradas e dar mais tranquilidade para transportadores
São Paulo – Na semana passada, em um fim de tarde, um motorista da empresa Eucatur, que opera ônibus rodoviários, foi parado pela PRF, Polícia Rodoviária Federal, no Mato Grosso do Sul. Após realizar o exame do bafômetro, segundo a imprensa local relatou, foi constatado 1,11 mg de álcool por litro em seu sangue, índice que já caracteriza crime de trânsito. Ele confessou ter bebido, na madrugada anterior, 24 latas de cerveja e seis doses de pinga.
Este caso, e muitos outros que geram inclusive acidentes fatais nas rodovias Brasil afora, poderá ser evitado quando uma tecnologia desenvolvida pela startup SIGHIR, do Rio de Janeiro, em parceria com o IFF, Instituto Federal Fluminense, apoiado pela Embrapii, Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, chegar ao mercado. É um etilômetro portátil, do tamanho da palma de uma mão, que é acoplado ao veículo e pode bloquear a ignição do motor caso, ao assoprar, seja constatada a presença de álcool no motorista.
“Além de milhares de acidentes fatais que ocorrem nas estradas existe o prejuízo material”, afirmou Ricardo Tostes, CEO da startup. “Conseguimos fazer seguro de vida, da carreta, do casco de veículo, da carga e para terceiros. Mas um acidente que envolve motorista embriagado pode derrubar a cobertura de todas essas apólices.”
Tostes é também CEO da Expresso Predileto e da Lógika Transportes, em Macaé, RJ. Em uma feira do setor de transportes conheceu Robson Santos, pesquisador e professor do Instituto Federal Fluminense. A ele lançou o desafio: os bafômetros existem nas sedes das transportadoras, em alguns postos de fiscalização e em locais de embarque e desembarque de cargas. Mas seria possível ampliar a segurança, ao desenvolver um produto portátil e interligado ao veículo?
A equipe de Santos passou a pesquisar produtos semelhantes em todo o mundo. Achou soluções semelhantes, mas que não atendiam a todas as necessidades do transportador brasileiro. Então colocou a mão na massa e desenvolveu o bafômetro que é conectado à ignição e pode ser interligado, também, a diversos serviços de telemetria, o que inibe a possibilidade de burlar o teste.
“Fizemos alguns ajustes para evitar fraudes. O bafômetro apita durante o trajeto porque, se o motorista pediu para outra pessoa realizar o teste no ponto de parada, ele será obrigado a refazer durante a viagem. Também fizemos um botão de adiar, para caso haja falta de segurança no local em que foi solicitado o teste.”
Com todos estes ajustes, e mais alguns que podem vir a surgir neste período ainda de testes, o bafômetro foi desenvolvido sob medida para transportadores brasileiros. Seu preço também não será muito elevado, de acordo com Tostes: enquanto o custo de um similar alemão está na casa dos R$ 15 mil o seu será de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil, acredita: “E desenvolvemos um sistema que usa qualquer canudo descartável para assoprar. Este da Alemanha tem um canudo próprio, que só pode ser comprado da empresa desenvolvedora”.
Algumas unidades estão em testes nas transportadoras de Tostes e a ideia é expandir para outras empresas, antes de colocar à prova sua viabilidade comercial: “Não tenho pressa: queremos colocar no mercado um produto pronto. Mas acredito que até abril ele possa ser comercializado”.
O projeto, de investimento de cerca de R$ 1 milhão, foi financiado em parte pela Embrapii, pelo IFF e por Tostes, que contou ainda com ajuda do Sebrae. Por enquanto o bafômetro será produzido nas instalações do IFF, mas outras parcerias não estão descartadas. Tostes disse que a venda será feita primeiramente no mercado de reposição, mas está aberto a parceria com montadoras para que seja item de série. Também há planos de começar a testar em veículos leves, comerciais e automóveis. Outra meta sua é garantir a maior quantidade possível de itens produzidos no Brasil.
A parceria com a Embrapii e o IFF que gerou a SIGHIR seguirá, garante o CEO, que já tem outros projetos em andamento: “Temos que valorizar a indústria e o desenvolvimento nacional”.