São Bernardo do Campo, SP – Após um ano bastante difícil em 2023 o presidente da Mercedes-Benz do Brasil, Achim Puchert, espera que 2024 seja bem melhor, tanto para a empresa que dirige como para o mercado nacional de caminhões. O executivo está animado com os sinais de recuperação da economia e com a perspectiva de anotar seu primeiro ano de crescimento desde que chegou ao País, no início de 2022.
Para isto, recentemente, a Mercedes-Benz já retomou o segundo turno de produção em São Bernardo do Campo, SP, e abriu logo neste janeiro a temporada de lançamentos de caminhões em 2024: foi a primeira a apresentar novidades, com novas versões das linhas Actros, Arocs e Atego que já começam este mês a chegar ao mercado. E a promessa é de lançar mais produtos ao longo do ano, em preparação para a Lat.Bus e a Fenatran que serão realizadas no segundo semestre.
Puchert afirmou que a Mercedes-Benz comunga da mesma projeção da Anfavea, a entidade que representa a indústria de veículos, que estima crescimento de 13% para o mercado de caminhões este ano, após o forte tombo de quase 15% com a introdução dos modelos Euro 6 cerca de 20% mais caros. Ele avalia que a empresa deve seguir o mesmo ritmo ou até um pouco melhor: “Estou certo que será um ano melhor, devemos voltar aos níveis de 2021”.
Caso a previsão se confirme significa vender de 120 mil a 130 mil caminhões este ano no Brasil. Em 2021 a Mercedes-Benz tinha 29% de participação nas vendas de caminhões no País, porcentual que desceu para 24% em 2022 e cedeu mais 3 pontos para a concorrência em 2023, para 21%. A empresa foi a que mais perdeu vendas no ano passado, com queda de 25% sobre o ano anterior, mas ainda sustenta a segunda posição no mercado nacional de caminhões.
“Claro que queremos recuperar a liderança, mas nosso objetivo é apresentar as melhores soluções e produtos aos clientes. Assim nossa participação aumentará naturalmente.”
Investimentos? Eletrificação?
Terminado o programa de investimentos da Mercedes-Benz no Brasil, de R$ 2,4 bilhões no período 2018-2022, Puchert confirmou que um novo pacote está em negociação, mas ainda não há prazo para divulgá-lo, pois a empresa ainda estuda o Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, lançado pelo governo no último dia de 2023, e suas diversas regulamentações “para ver como tudo se encaixa em nossos planos até 2030, para saber o que vamos produzir aqui e o que poderemos importar”.
“Nós apoiamos o Mover porque o programa dá um norte às empresas para o desenvolvimento de tecnologias avançadas e sustentáveis no Brasil. Até 2030 veículos zero emissão vão ocupar parte relevante de nosso portfólio e precisamos caminhar nesta direção aqui também.”
O executivo afirmou que os lançamentos deste ano ainda estão sendo financiados pelo que restou do programa de investimento anterior: “Foi preciso atrasar alguns projetos por causa da pandemia e pela baixa do mercado, mas estão sendo lançados agora”.
Puchert não escondeu que a eletrificação faz parte dos planos no possível novo ciclo de investimentos. Este processo já começou no pacote anterior com o lançamento, este ano, do chassi de ônibus 100% elétrico eO500U, que está sendo entregue aos primeiros clientes no País.
Daqui para a frente, especialmente para introduzir caminhões elétricos no mercado nacional, segundo o executivo é preciso estudar com cautela quais produtos cabem na demanda brasileira: “A eletrificação é um de nossos pilares de desenvolvimento até 2030 e claro que o Brasil está incluído no plano. Temos diversas opções mas antes de importar ou de produzir aqui é necessário criar infraestrutura de recarga e assistência, o que não é simples para um país deste tamanho”.
A Daimler Truck já testa no Chile, desde o ano passado, o caminhão elétrico leve eCanter, produzido no Japão por sua subsidiária Fuso. Puchert admitiu que pode ser um bom produto para entregas urbanas no Brasil, mas não deu pista nem de quando o modelo poderia ser introduzido no mercado brasileiro.
O executivo alemão também projetou boas perspectivas para o hidrogênio como fonte de eletricidade em células de combustível para caminhões pesados: “Já temos modelos elétricos a hidrogênio desenvolvidos na Alemanha e eles podem ter boas possibilidades de sucesso no Brasil, porque o País precisa de caminhões com autonomia para percorrer grandes distâncias ao mesmo tempo em que tem grande potencial de produzir hidrogênio verde com fontes de energia limpa e renovável”.
Perspectiva de crescimento
Voltando ao presente imediato deste ano, Puchert enxerga boas perspectivas de crescimento em diversos segmentos, a começar pelo agronegócio e mineração que seguem puxando as vendas de caminhões extrapesados: “A safra de grãos deve ser menor este ano mas ainda é muito grande [mais de 300 milhões de toneladas]. O setor de cana-de-açúcar também está crescendo. Já o segmento de mineração segue aquecido pela demanda da China, que segue alta”.
Os executivos da Mercedes-Benz apostam que este ano vão vender mais modelos Actros para o agronegócio, e que no segmento de mineração os pedidos se concentram na linha Arocs. Por isto ambas as famílias de extrapesados estão ganhando novas versões que já começaram a ser vendidas.
Puchert também espera por expansão das vendas de caminhões pesados e semipesados para o setor de construção civil, reaquecido por programas do governo federal como o Minha Casa Minha Vida e o PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, lastreado em obra de infraestrutura.
O executivo avaliou que a queda do desemprego e dos juros deve reaquecer o varejo e a distribuição de mercadorias, puxando as vendas do segmento de caminhões médios e leves, no qual a Mercedes-Benz participa com as famílias Atego e Accelo.
“O desafio ainda é a velocidade da queda dos juros, que ainda estão altos”, pontuou Puchert. “É preciso cair mais para recuperar o poder de compra da população e das empresas.”
Marco produtivo
Este ano, em data ainda não divulgada, a Mercedes-Benz alcançará o marco de 2,5 milhões de caminhões e ônibus produzidos no Brasil desde 1956, quando inaugurou a fábrica de São Bernardo do Campo, SP. É o maior volume já produzido por um fabricante de veículos comerciais no País para o mercado interno e exportações.
Este ano a empresa também deverá superar a marca de 530 mil veículos exportados do Brasil para mais de cem países. Historicamente a Mercedes-Benz exporta, em média, 20% de sua produção anual no País, mas Puchert espera aumentar este porcentual: “Podemos ser protagonistas em exportações de caminhões e ônibus assim como a China e a Índia”.