A redução das emissões dos automóveis será efetiva quando o consumidor puder comprá-los, disse o principal executivo da Stellantis
Brasília, DF – O CEO da quarta maior montadora global esteve no Brasil por dois dias e meio. Visitou fábricas, participou de ações com seus funcionários, dirigiu alguns carros que ainda não foram lançados, teve reunião com o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e anunciou o maior investimento de uma empresa deste setor na história da indústria no País.
Para o português de Lisboa Carlos Tavares “estar no Brasil é como estar em casa”. Talvez pela língua em comum, que o deixou à vontade para abordar diversos temas mas, também, porque o País oferece soluções à descarbonização que ele acredita que podem ajudar na missão global de reduzir e eliminar o CO2 da mobilidade.
“O mundo está sofrendo uma fragmentação. E uma tendência de regionalização. Então a mobilidade limpa tem várias visões, o que não necessariamente é uma boa coisa. Somos uma empresa global e temos que oferecer todas as tecnologias para cada uma dessas regiões.”
O discurso veste perfeitamente em um líder global, que precisa atender aos anseios de mercados com variadas exigências. Mas Carlos Tavares elaborou em bom português resposta à reportagem, sobre a possibilidade de o Brasil oferecer tecnologias baseadas em biocombustíveis que contribuirão para a missão em outros lugares:
“Penso que obviamente os países da região poderiam se beneficiar imediatamente dos biocombustíveis utilizados no Brasil, com algum nível de hibridização no powertrain. Temos tudo pronto ou em desenvolvimento avançado por aqui. Mas também acredito que esta possa ser uma solução para o continente africano, desde que não tenha impacto na produção de alimentos. Porque a prioridade é acabar com a fome produzindo alimentos, não combustíveis”.
Tavares estava particularmente falante, segundo pessoas próximas a ele, e demonstrou bastante entusiasmo com as possibilidades de oferecer veículos mais limpos e eficientes a um público bem maior do que os abonados consumidores de carros descarbonizados premium ou de luxo.
“A América Latina é, hoje, uma região estável. Vou repetir: para nós é uma região estável. O Brasil faz muitos esforços para alinhar suas políticas com os desafios globais, a exemplo do Mover. É de nosso interesse e estamos comprometidos em desenvolver nossos negócios na região.”
Só no Brasil serão quarenta novos produtos de 2025 a 2030, a maioria com algum nível de eletrificação. O interesse é oferecer produtos acessíveis para a classe média, como a chamou Tavares, pois só assim haverá redução significativa das emissões.
“O mais importante é o alinhamento do valor com a expectativa de gerar eficiência em nossos produtos. Teremos veículos eficientes do ponto de vista da emissão e do consumo e, também, acessíveis à maioria dos consumidores.”
Dessa forma ele conclui que vender muitos carros mais eficientes será o caminho da Stellantis porque “o único número que interessa é o resultado da empresa, capaz de gerar lucro para continuarmos investindo nesta operação”.
Sobre os elétricos puros Tavares trouxe o comportamento do consumidor em alguns mercados na Europa: “Quando os incentivos para a compra acabaram o cliente disse: elétrico, tudo bem, mas precisa ter o preço de um carro com motor térmico”.
Segundo Tavares por isto as vendas estagnaram na Europa e nos Estados Unidos: o consumidor ainda não está convencido, preferindo pagar o preço do produto tradicional aos elétricos, também mais caros sem programas de incentivos com desconto no preço final.
Ele calcula que a aproximação dos preços dos veículos tradicionais aos dos elétricos puros comece a partir de 2026, 2027. Mesmo assim ainda é uma incógnita porque os insumos necessários, como os metais raros utilizados na bateria, podem limitar a redução dos preços. “Seria importante substituir os materiais raros das baterias porque sua escassez não permitirá que os preços dos veículos caiam.”
Nesta quinta-feira, 7, a agenda atribulada permitiu uma visita, pela manhã, à fábrica de Porto Real, RJ, onde provavelmente esteve ao volante de veículos ainda em gestação. À tarde Tavares encerrou sua terceira passagem pelo Brasil como CEO da Stellantis levando na bagagem planos, tecnologias e a esperança de que possam fazer a diferença — não só por aqui mas em muitos outros lugares.