Operação no Brasil, que em 2024 completa 70 anos, representou 80% das vendas na região
Campinas, SP – A Bosch colheu, em 2023, faturamento de R$ 9,8 bilhões nos dez países da América Latina onde está presente, sendo R$ 7,9 bilhões no Brasil, ou 80% do total, segundo divulgou a empresa na quarta-feira, 22. As exportações das fábricas brasileiras do grupo para mercados latino-americanos, da América do Norte e da Europa representaram 23% das vendas.
O faturamento de 2023 é 4,8% inferior aos R$ 10,3 bilhões apurados em 2022 devido à retração dos principais mercados na região e à estagnação da produção de veículos no Brasil no ano passado, maiores clientes da maior fornecedora de sistemas automotivos do País e do mundo.
O resultado era esperado e não chegou a decepcionar Gastón Diaz Perez, presidente da Robert Bosch América Latina, que preferiu destacar a direção positiva que o negócio vem assumindo na região: “Nos últimos três anos alcançamos um forte desempenho de vendas com atividades extremamente bem-sucedidas em todos os setores, inclusive superando nossas expectativas, especificamente em soluções para mobilidade, ferramentas elétricas, tecnologia industrial e serviços”.
Operação competitiva
Segundo disse Perez a AutoData, após colecionar resultados deficitários por muitas décadas na região, desde 2015 o balanço virou para o lado positivo: “Somos hoje a terceira operação mais competitiva da Bosch no mundo, especialmente para itens de média e baixa escala, que são grandes volumes para os padrões latino-americanos. Isto aconteceu graças a ganhos internos de produtividade, cortes de custos e também pela melhoria das condições econômicas do País, com câmbio estável e inflação controlada e em queda: Europa e Estados Unidos tiveram inflação maior do que a nossa, nunca se imaginaria isso há alguns anos”.
Para 2024, ano em que a Bosch completa cem anos na América Latina – o primeiro escritório comercial foi aberto em Buenos Aires, Argentina, em 1924 – e setenta anos de operação no Brasil a empresa segue com perspectivas positivas, conforme Perez: “Estamos bem posicionados para enfrentar os próximos objetivos e a América Latina continua sendo uma região de muito potencial”.
Contudo o executivo afirma que o cenário exige alguma cautela, pois já prevê alguns ventos contrários e os mais recentes sopram desde o Rio Grande do Sul: as enchentes não afetaram o fornecimento de insumos para a produção da Bosch mas certamente deverão reduzir as vendas dos clientes. A preocupação é que se as fábricas de veículos param por falta de peças do Sul todos os fornecedores param juntos e haverá perdas de vendas de veículos, o que reduz a produção e o fornecimento de componentes e sistemas.
Investimentos em novos projetos no País
Após investir quase R$ 1 bilhão nas operações brasileiras no ano passado a Bosch reservou mais R$ 1 bilhão para 2024, que segundo a empresa serão aplicados em modernização das linhas de produção, digitalização, pesquisa e desenvolvimento para manter a competitividade de suas operações na região da América Latina.
O valor inclui novas linhas de produtos, revitalização das existentes e novas soluções tecnológicas para as áreas de mobilidade, agronegócio, mineração, indústria e tecnologia da informação. Mais de 530 pessoas trabalham, hoje, em pesquisa e desenvolvimento na Bosch Brasil e quase 1 mil colaboradores trabalham diretamente com produtos e serviços de digitalização.
Perez confirmou a AutoData alguns dos novos projetos. Segundo ele a empresa já habilitou projetos para receber incentivos do Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, e está envolvida no desenvolvimento de sistemas de propulsão híbridos flex para os maiores fabricantes de veículos instalados no Brasil: “Este, sem dúvida, é um dos grandes focos de nossa equipe de engenharia do País nos próximos anos”.
Mas há outros projetos, que Perez exemplifica: “Estamos nacionalizando o sistema eletrônico do nosso ESP [sistema eletrônico de estabilidade], começaremos a montar as placas aqui. Também estamos desenvolvendo uma câmara para acionar a frenagem automática de emergência sem necessidade de uso combinado com radar, o que reduzirá o custo do sistema”.
Soluções para o mundo
A Bosch também segue aumentando o fornecimento de soluções para aproveitar o bom momento do agronegócio brasileiro, com diversas tecnologias desenvolvidas no País, como sistemas automáticos de plantio e de pulverização inteligente – este equipamento, por meio de câmaras, identifica o local exato onde pulverizar defensivos, somente borrifados em cima de ervas daninhas no meio de plantações de milho ou soja, por exemplo, o que reduz em 80% o uso de agrotóxicos.
“Apresentamos a tecnologia na última Agrishow. É a primeira vez que uma tecnologia disruptiva como esta foi desenvolvida primeiro no Brasil para o resto do mundo.”
A Bosch sedia no Brasil seu centro de referência global para o desenvolvimento de sistemas de propulsão com biocombustíveis e começa a aproveitar o crescimento do interesse de outros países, ainda que tímido, por suas tecnologias desenvolvidas para uso de etanol.
Está em andamento um projeto para exportar para a Índia a tecnologia flex fuel, inovação desenvolvida pela Bosch no Brasil há mais de vinte anos, bem como o seu FlexStart, que elimina a necessidade do uso do reservatório de gasolina para alimentar o motor na partida a frio com etanol. Além de cooperação técnica e de serviços de engenharia para o uso do biocombustível no mercado indiano o negócio também pode favorecer a exportação de componentes como bombas de combustível e unidades de controle.
O volume estimado, inicialmente, é para atender de 50 mil a 70 mil veículos por ano, com perspectivas de aumento de acordo com a evolução das políticas do governo indiano. Além da Índia Suécia e Tailândia são outro países que já possuem projetos relacionados ao sistema flex a partir de tecnologia desenvolvida pela Bosch no Brasil. O potencial está crescendo: a empresa aponta que atualmente trinta países já utilizam o etanol misturado a gasolina em diferentes proporções.
“É preciso vencer algumas barreiras políticas e ideológicas para aumentar o uso de biocombustíveis no mundo”, constatou Perez. “É preciso dizer que a Bosch não vive só de vender o sistema flex fuel para etanol pois também desenvolvemos no mundo uma série de sistemas para veículos elétricos e híbridos. Defendemos o uso do etanol no Brasil porque é algo que faz mais sentido aqui e em algumas outras regiões do mundo.”