Análise do consultor automotivo Milad Kalume Neto apontou que mesmo com avanço de pontos de recarga públicos oferta segue concentrada
São Paulo – Houve, notavelmente, a ampliação da quantidade de eletropostos ativos no território brasileiro em um intervalo de três anos: em março de 2021 existiam apenas 500 pontos de recarga das baterias e, no terceiro mês de 2024, foram contabilizados 7 mil 758 unidades, ou seja, quinze vezes mais. Como os dados mais recentes disponíveis pela ABVE datam de março, o volume de veículos eletrificados plug-in em circulação utilizado é o do mesmo período, ou seja, 111 mil 397 em vez dos 141 mil 131 até junho. Chega-se, portanto, à média de 14,3 carros por eletroposto.
Apesar do avanço na infraestrutura para a eletromobilidade e do fato de a proporção de veículos por eletroposto estar próxima ao que a União Europeia recomenda, de acordo com a ABVE, uma relação de dez veículos por carregador, análise do consultor automotivo Milad Kalume Neto apresentada durante o Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2024 mostra que o segmento ainda tem bastante a evoluir em comparação ao velho continente.
Kalume Neto trouxe comparativo do número de postos públicos e semipúblicos no Brasil com o do país europeu com o pior resultado, a Letônia, ao dividir a oferta pela extensão territorial. A diferença dos dois, neste caso, é de 14,4 vezes. Se os cálculos forem feitos com relação a um país como a Espanha, por exemplo, a assimetria é ainda maior e chega a 66 vezes.
“A Letônia é pequena mas, proporcionalmente, possui 14,4 vezes mais carregadores do que o Brasil. Ou seja: para alcançarmos o pior país europeu precisamos ter 14,4 vezes mais eletropostos do que temos hoje.”
Kalume Neto apontou que ainda que fossem excluídas as regiões da Amazônia e do Pantanal, a fim de reduzir a área considerada, uma vez que o Brasil possui dimensões continentais, a diferença cairia para 5,7 vezes, no caso do primeiro comparativo, e para 26 vezes no segundo. Ou seja: ainda estaria bem atrás destes países quanto à estrutura de recarga sem custo.
“É possível analisar estes dados com o copo cheio ou com o copo vazio. Se eu for pessimista entenderei que faltam carregadores. Se eu for otimista vou analisar a situação como grande oportunidade de investimento no País, tanto para capitalização como para quantidade. É o meio para levar a infraestrutura para todos os lugares.”
Para especialista são necessárias ações conjuntas entre governo e investidores
Especialista em eletromobilidade Paulo Raia, ex-diretor executivo da Zletric, avaliou que este processo faz parte da mudança de mentalidade da população, da mesma forma que três décadas atrás era preciso esperar para acessar a internet, algo que hoje é instantâneo.
“Enxergo cenário promissor para a jornada do usuário brasileiro, que enquanto entende como isto funciona vê empresas e condomínios investindo para expandir a oferta de recarga privada”, afirmou Raia “Isto não diminui a necessidade de ações conjuntas da sociedade civil com governos e investidores, assim como da redução da burocracia, mas temos visto um desenvolvimento tecnológico progressivo.”
Ele lembrou que, cinco anos atrás, a preocupação era a de formar mão de obra para aprender a lidar com a manutenção do carro elétrico. E, hoje, é a de disseminar a cultura do uso. Sobre o fato de haver maior concentração da oferta no Sul e Sudeste Raia vê como algo natural pois estas regiões possuem maior concentração demográfica, maior poder de compra e, claro, maior demanda pelo serviço.
“Vivemos 110 anos acostumados com o veículo a combustão e com o proprietário abastecendo no posto, uma vez por semana. Mas, conforme ele percebe o benefício não só ao meio ambiente como em termos de tecnologia, pois o carro elétrico é mais inteligente, e também por ser silencioso e ter mais torque, e se acostuma com isso, tem-se caminho sem volta. A pergunta, então, não é mais se, mas quando e como.”