Projeção do MiBI é que até 2030 o País seja o produtor mais competitivo do mundo na modalidade
São Paulo – O potencial da indústria do hidrogênio já está se tornando realidade principalmente na Europa e indica caminho a ser trilhado no Brasil. A partir do ano que vem o plano proposto pelo MiBI H2 GE8, grupo de estudo número oito do Made in Brazil Integrado, é disseminar fábricas piloto de hidrogênio verde, gerado por fontes de energia renovável, como eólica e fotovoltaica, da eletrólise, de biomassa e biocombustíveis.
A ideia é que o Brasil se estabeleça em 2030 como o produtor mais competitivo do mundo na modalidade verde, hoje emergente. E, em 2035, consolide hubs reunindo produtores, consumidores, geradores de energia e logística de distribuição e transporte.
Os usos tradicionais do hidrogênio, hoje, majoritariamente cinza, ou seja, de origem fóssil, começam no refinamento do petróleo e no uso industrial para fertilizantes ou metanol na indústria química. Este consumo de fonte não sustentável é da ordem de 95 mega toneladas por ano, enquanto que o hidrogênio verde ainda está no estágio de crescimento. Dados de 2022 apontam para produção de 1 mega tonelada por ano e outras quase 2 mega toneladas em construção, com expectativa para 2025.
“Todos os contratos já anunciados, porém, indicam algo em torno de 120 mega toneladas disponíveis até 2030″, assinalou André Ferrarese, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Tupy. “Sendo assim há potencial significativo de substituição do hidrogênio cinza e sobra para maior utilização, onde pode entrar o setor automotivo.
Ferrarese fez apresentação durante o webinar Integração da Indústria Brasileira na Nova Economia de Hidrogênio, realizado de forma online pelo Sindipeças na quarta-feira, 17.
Para que se possa colocar no cenário mais agressivo de descarbonização, no entanto, a perspectiva é a de que até 2030 será necessária a produção de 200 mega toneladas de hidrogênio verde: “Aí entra papel importante do Brasil, que pelos diferentes acessos a energia renovável e biomassa tem potencial de 1,8 bilhão de toneladas de hidrogênio por ano. Mas há estudos apontando que de 200 mega a 245 mega toneladas por ano já seriam viáveis economicamente no ambiente internacional”.
De acordo com ele alguns contratos ainda não foram anunciados por causa da insegurança jurídica em torno do tema, mas ele crê em ambiente mais fértil nos próximos anos.
“Precisamos entender como formamos a indústria local para que a produção não seja somente exportação de energia limpa via hidrogênio verde a outros países. O ideal é que em 2030 tenhamos consolidação mais competitiva e de maior intensidade de uso e, em 2035, os custos energéticos do hidrogênio alcancem os níveis de gás natural.”
No setor automotivo, veículos comerciais sairão à frente
Conforme Camilo Adas, diretor de transição energética da Be8 e ex-presidente da SAE Brasil, toda a indústria automotiva já vem trabalhando fortemente e comercializando carros a hidrogênio: “A questão é quando o Brasil entrará neste mercado, seja no carro completo, como parte do sistema de produção de peças para veículos a hidrogênio ou como mercado consumidor”.
No Exterior o uso da tecnologia no setor está sendo motivado pelos caminhões pesados. Europa e Estados Unidos planejam ter 100 mil caminhões rodando com hidrogênio até 2030, e empresas como Daimler Trucks, Hyundai e Nikola têm avançado para colocar em prática estes produtos, o que deverá ser ampliado a partir do ano que vem.
“O mundo inteiro está se organizando para esta tecnologia. França, Austrália, Estados Unidos, Alemanha, Japão e Coreia do Sul. Se não tomarmos cuidado perderemos esta janela de oportunidades, pois, se não fizermos, outros farão, e a tecnologia será importada. A economia do hidrogênio já nasceu e não podemos ficar de fora.”
Custo ainda é ponto a ser superado
Sobre os custos da tecnologia a tendência é que diminuam com a maior oferta e o ganho de escala. De acordo com André Ferrarese cerca de 3 litros de diesel estão para 1 quilo de H2 no consumo de um caminhão. Com isto é preciso multiplicar por três e, no caso da gasolina, por quatro. Na referência europeia de € 2, na média do litro de diesel, é possível comparar a produção de hidrogênio de € 9 a € 11 o quilo do hidrogênio contra € 6 do diesel.
“Há um potencial significativo nos próximos anos e, com ganho de escala da produção de hidrogênio baixo carbono, teremos redução sensível no custo de produção”, afirmou Ferrarese. “Quando compomos os custos do combustível temos duas principais parcelas, uma delas ligada ao custo de produção, que temos potencial grande no Brasil de acessar energia limpa a um custo menor e o uso de biomassa, e outra à distribuição, este mais desafiador porque requer infraestrutura, portanto, trabalho de longo prazo.”
Outro ponto é que todo combustível, inclusive os fósseis, possuem subsídios. Se for feita a transferência, aos poucos, para os renováveis, a viabilidade econômica cresce sem pressão inflacionária significativa. Isso endossa perspectiva futura de redução de custos.