Aposta é reforçada pelo incremento das aplicações, rede de abastecimento e maior interesse por parte de clientes
São Paulo – Desde que a Scania iniciou a produção e a venda de caminhões a gás no Brasil, em 2019, contabiliza em torno de 1,5 mil unidades comercializadas. Ao ampliar as aplicações destes veículos no ano passado, e diante do aumento de cotações e demonstrações de interesse, a empresa arrisca dizer que deverá vender mais 1,5 mil unidades em 2025, o que levaria a fazer, em um ano, o que desempenhou em seis.
Foi o que estimou o presidente e CEO da Scania na América Latina, Christopher Podgorski, a Agência AutoData: “Com 410 cv nós praticamente estávamos prisioneiros do atendimento das operações industriais, com o sider, por exemplo. Mas com 460 cv podemos estar em aplicações com nove eixos, de 74 toneladas. Abriu um leque enorme para outras utilizações”.
Podgorski contou que um dos maiores pleitos do transportador é por mais potência no gás, o que está sendo desenvolvido. Na realidade já foi aprovado, mas ainda está em testes de bancada e laboratório: “Estamos trabalhando para atender demandas do setor sucroalcooleiro”.
Hoje o carro-chefe de vendas da Scania no diesel é o 6×2, o 460 cv, justamente o que é também oferecido no gás: “Com isto em mente, aliado à expansão da oferta de biometano, com distribuidoras também investindo bastante em infraestrutura para aumentar a capilaridade e chegar nas garagens e nos hubs de transporte, vemos que começamos a ticar todas aquelas caixinhas que eram perguntas sem respostas”.
Somente este ano a montadora tem quinhentas unidades em carteira. Recentemente a Santos Brasil, que opera no terminal de contêineres do Porto de Santos, adquiriu 35 caminhões a gás P 340 por R$ 40 milhões.
Com isto o Tecon Santos tornou-se o primeiro terminal portuário do Brasil a adotar caminhões movidos a gás em suas operações. Trata-se também da primeira vez que a Scania fornece este modelo de veículo para transporte de contêineres dentro de um terminal portuário no mundo.
O executivo ressaltou que as distribuidoras de gás estão muito ativas, e que existem corredores que permitem que toda a produção de etanol e de açúcar chegue das zonas produtoras até o Porto de Santos garantindo em 100% de uso de biometano.
Quanto à efetivação da venda ele reconheceu que ainda é um pouco mais morosa do que a do diesel, uma vez que há muitas perguntas que aqueles que ainda não têm experiência com a forma de propulsão querem sanar, para ter certeza de que não haverá problemas, que se trata de solução que vai ter adesão ao negócio e às rotas, que terá onde abastecer.
Frota de caminhões movidos a GNV, fabricados pela Scania, chega ao Tecon Santos Brasil. Foto: Fernanda Luz/Divulgação Santos Brasil
Podgorski avaliou, no entanto, que o que até então era apenas um conceito vem ganhando forma e ampliando a adesão conforme o número de aplicações aumenta e o custo fica mais próximo dos modelos a diesel:
“O volume de cotações e a demonstração de interesse cresceram bastante. Não é mais coisa de nicho, passa a ser praticamente uma solução de massa. Não em todas as 36 aplicações, por ora. Não terei, a princípio, em mineração nem em florestal, nas quais o diesel continuará por mais um tempo, mas ampliou demais”.
E não só no Brasil. A Scania está de olho no potencial de exportações desses veículos, uma vez que diversos países da África estão migrando para o gás natural: “Não posso anunciar ainda, mas a mesma coisa que está acontecendo com o sistema de transporte de passageiros em São Paulo ocorre em vários países africanos, que começarão com o gás natural. Mas, como eles também têm resíduos orgânicos, podem usar o gás natural como transição para o biometano”.