Produção de veículos cresce 17,1% em janeiro

A indústria automotiva começa o ano com um alento. Apesar de as vendas de janeiro terem sido as piores para o mês desde 2006, com 147,6 mil unidades, queda de 5,2% no comparativo com o mesmo período de 2016, a produção das fabricantes instaladas aqui cresceu 17,1% com relação a janeiro do ano passado. Foram fabricados 174,1 mil veículos ante 148,7 mil.

A explicação, segundo Antônio Megale, presidente da Anfavea, associação que congrega as fabricantes, é que as empresas apostam na recuperação do mercado já no primeiro trimestre e aceleraram a cadência de produção para abastecer as concessionárias:

“O ritmo de queda nas vendas vem diminuindo mês a mês. Mas ainda não se estabilizou. Acreditamos que isso ocorra até março”.

Em janeiro os estoques fecharam com 186,4 mil unidades, o que equivale a 38 dias de vendas. Desse volume 51,4 mil estão nos pátios das montadoras, aumento de 17,8% comparado com dezembro, quando o giro era de 42,2 mil unidades na indústria. Na rede há 135 mil veículos em estoque. No fim do ano passado esse volume era de 134 mil unidades.

“Estamos prontos para dar largada assim que o mercado crescer.”

Para o ano a expectativa da Anfavea é de crescimento de 11,9% na produção, chegando a 2 milhões 410 mil veículos. Já os licenciamentos devem atingir 2 milhões 130 mil, aumento de 4%.

“Há indicadores econômicos que sustentam essa estimativa”, disse o presidente Megale. “A inflação e a taxa de juros em queda estimulam o mercado. Os bancos estão mais propensos a liberar o crédito e isso impacta diretamente no negócio.”

Para economistas consultados pelo Banco Central a expectativa para a inflação este ano se aproximou ainda mais do centro da meta. A projeção para a alta do IPCA, este ano, de acordo com o Boletim Focus, divulgado na segunda-feira, 6, caiu 0,06 ponto porcentual e deve chegar a 4,64%. Já com relação à Selic os economistas acreditam que a taxa básica de juros encerre 2017 a 9,50% e 2018 a 9,00%. Atualmente a Selic está em 13% ao ano.

Esse cenário mais positivo estimulou a concessão de crédito, segundo a Anfavea. Em janeiro 54,5% das vendas foram financiadas. Em novembro do ano passado esse índice foi 50,3%, o pior para a indústria. Historicamente, os financiamentos ficam de 60% a 65% das vendas de veículos novos no País.

“A inadimplência caindo faz com que os bancos liberem mais o crédito, apesar de ainda haver um rigor maior na hora da transação financeira. Mas já vemos a recuperação da confiança.”

Emprego – As fabricantes terminaram janeiro com 121,1 mil postos de trabalho, volume equivalente a dezembro do ano passado. Segundo Megale 10 mil 351 pessoas estão em programas de flexibilização de produção – 1 mil 672 empregados em layoff e 8 mil 679 trabalhadores no PPE, Programa de Proteção ao Emprego: “No nosso setor ocorreu uma certa estabilidade no emprego, também um sinal positivo que mostra a recuperação do mercado”.

Vendas de veículos pesados seguem em baixa e produção de caminhões cresce

As vendas de caminhões no mercado interno iniciaram janeiro com resultado dramático: apenas 2 mil 947 unidades licenciadas, de acordo com números da Anfavea, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. De acordo com Marco Saltini, um dos vice-presidentes da entidade e diretor da MAN Latin America, “este foi o pior resultado de vendas desde 1997, quando foram licenciados 2, 8 mil caminhões”.

Na comparação com o primeiro mês de 2016 houve redução de 33,3% no volume de 4 mil 416 unidades comercializadas no período.

Para Saltini “o desempenho reflete a situação ainda difícil do ano passado, porém a expectativa é a de que este ano haja um cenário mais estável que mostrará sinais de recuperação e, a partir do último trimestre, poderá registrar crescimento”.

Antônio Megale, presidente da Anfavea, endossa o coro: “Os indicadores econômicos mostram que há pontos importantes para a retomada do mercado, como a diminuição das taxas de juros, a queda da inadimplência e uma postura mais flexível dos bancos para a concessão de créditos”.

Apesar deste baixo desempenho o volume de produção segue em crescimento. Foram 4 mil 482 unidades fabricadas em janeiro deste ano contra 4 mil 158 registradas no mesmo mês de 2016, mostrando aumento de 7,8%.

A alta está relacionada ao desempenho das exportações. Em janeiro as subsidiárias brasileiras das fabricantes de caminhões mandaram para fora do País 1 mil 65 unidades, apontando aumento de 26,5% com relação às 842 unidades exportadas no mesmo mês de 2016.

O segmento de caminhões pesados foi o que mais avançou nesta comparação, com crescimento de 53,2%. Foram 452 em janeiro deste ano e 295 no primeiro mês de 2016. Em semipesados a alta foi de 22,7%, em médios de 44,2% e em leves de 1,4%. Apenas os caminhões semileves, que estão na faixa de 3,5 t a 6 t de peso bruto total, fecharam janeiro em queda de 48,5% no desempenho de exportações.

Ônibus – O segmento de ônibus também amargou queda no volume de licenciamentos de chassis em janeiro. Números da Anfavea mostram redução de 51,2% na comparação com janeiro de 2016, quando foram vendidas 1 mil 33 unidades. Para este segmento o desempenho de exportações não foi suficiente para evitar a queda no volume de produção. No primeiro mês de 2017 foram exportados 388 chassis contra 322 em igual período do ano passado, com crescimento de 20,5%, porém a produção caiu 9,1%: 1 mil 69 unidades em janeiro de 2017 contra 1 mil 176 em janeiro de 2016.

De acordo com Marco Saltini “a indústria de ônibus continuará em situação difícil em 2017, mas não pior do que a do ano passado, cujo desempenho também foi agravado, sobretudo, no segmento de urbanos, por causa das eleições municipais”.

Outro fator que poderá impactar e gerar algum movimento positivo para as vendas internas de chassis é o Refrota 2017, programa de renovação de frota do transporte público coletivo. A previsão é que incentive empresários a adquirirem novos ônibus. Serão R$ 3 bilhões disponíveis para esta finalidade: “A expectativa é que isto faça surtir algum efeito na retomada do mercado”.

Agronegócio segue impulsionando setor de máquinas e implementos

O motor do Brasil em 2017 é o agronegócio. Não à toa Antônio Megale, presidente da Anfavea, citou diversas vezes os resultados de safra recorde esperados para este ano como o fator que impulsionará vários segmentos da indústria. O de máquinas agrícolas e rodoviárias é o que mais tem se beneficiado do bom momento na agricultura, com crescimento dos negócios em 74,9% em janeiro com relação a igual período de 2016.

Foram 2,8 mil implementos negociados, um grande avanço sobre janeiro do ano passado, igualmente um período em que a expectativa com a safra era positiva, porém as vendas de tratores, colheitadeiras e cultivadores motorizados não chegaram a 1,6 mil unidades.

No entanto, quando se compara o resultado d janeiro com o de dezembro, há uma retração de 33,6% dos negócios. No último mês do ano passado houve uma corrida dos empresários para atualizar seus equipamentos, com 4,2 mil máquinas negociadas. Esse ritmo é menor em janeiro, porém igualmente positivo.

“A confiança do consumidor, que esperamos para o mercado como um todo, já se reflete em áreas como a de máquinas agrícolas”, disse Megale. “O governo estuda liberar um valor adicional de até R$ 1,5 bilhão do Plano Safra 2017 para o financiamento de equipamentos via Moderfrota.”

Para os próximos meses a confiança da Anfavea no crescimento dos negócios no setor de máquinas agrícolas e rodoviárias vem da agenda de obras do governo: “O calendário de concessões de obras de infraestrutura por parte do governo está em dia. Então podemos ver que há sinais de crescimento no nosso setor nos próximos meses por causa desses investimentos”.

Ainda é cedo para projetar volume de negócios adicional na aquisição de tratores, retroescavadeiras e tratores de esteiras – além de caminhões, muito utilizados em obras de infraestrutura. A Anfavea, por enquanto, mantém a perspectiva de negociar 49,5 mil unidades este ano, aumento de 13% com relação a 2016.

Montadoras exportam mais em janeiro

As exportações de veículos continuaram com bom desempenho em janeiro, demonstrando sinais de que haverá superação do volume de 520 mil unidades embarcadas em 2016. Dados da Anfavea, a associação das empresas fabricantes de veículos, mostram que, no primeiro mês deste ano, foram exportadas 37 mil 189 unidades, o que representa alta de 56% com relação aos 23 mil 834 veículos exportados no mesmo período de 2016. Em valores as vendas externas geraram US$ 810 milhões em faturamento, elevação de 47,9% no comparativo com janeiro de 2016.

Automóveis e comerciais leves apresentaram alta de 57,6% nas exportações no mês passado, o que puxou o bom desempenho do setor. Em janeiro de 2016 foram enviados para fora 22 mil 670 carros e picapes e no primeiro mês deste ano o volume foi de 35 mil 736 unidades. O segundo melhor desempenho foi o de caminhões, com alta de 26,5% no período – 842 exportados em janeiro de 2016 e 1 mil 65 unidades em janeiro deste ano. O setor de ônibus exportou 388 chassis e obteve alta de 20,5% com relação ao volume de 322 chassis do mesmo período do ano anterior.

Argentina e México continuam sendo os principais parceiros do Brasil, com participação de 50% e 15% respectivamente.

O presidente Antônio Megale ressaltou, ainda, que para Colômbia e Chile as montadoras exportaram volumes significativos em janeiro: “O acordo de livre comércio com a Colômbia, que está recebendo ajustes finais, está favorecendo as vendas para aquele país”.

A Anfavea projeta que, assim como ocorreu em 2016, este ano também haverá crescimento de exportações e este desempenho continuará a ser importante para contrabalancear o baixo desempenho de vendas do mercado interno. As contas dizem que haverá alta de 7% nas exportações, e que este ano o volume deverá ser de 580 mil unidades.

De acordo com Megale o segmento de veículos pesados deverá puxar o desempenho, com alta de 10%, seguido de automóveis e comerciais leves, que poderá crescer 7,2%. As exportações de máquinas agrícolas terá desempenho 6% superior ao ano passado.

“Os principais mercados para máquinas agrícolas são Estados Unidos e África, e estamos prospectando mais países dentro do continente africano.”

Mais competividade – As oportunidades de aumentar os volumes de exportação e compensar a queda no consumo no mercado interno também representam o desafio de resolver o conhecido calcanhar de Aquiles da indústria automobilística brasileira: a competitividade. Para Megale o mercado em recessão e a necessidade de exportar proporcionaram lições importantes neste sentido.

“As montadoras estão fazendo esforços para esta melhoria e o Inovar-Auto é um bom exemplo disso. Com esse programa houve aprimoramento em questões de evolução tecnológica.”

Segundo Megale as companhias estão buscando maneiras de se tornarem mais produtivas e, também, buscam caminhos para a digitalização de processos.

GM estende layoff em SC do S e abre PDV, diz sindicato

A General Motors estendeu por mais setenta dias o layoff na fábrica de São Caetano do Sul. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos da cidade são, ao todo, 754 funcionários que se encontram com o contrato de trabalho suspenso, alguns desde novembro de 2014. Pelo acordo anterior o retorno ao trabalho deveria ocorrer na quinta-feira, 9. Agora, os funcionários voltam só em abril.

Em São Caetano a GM emprega cerca de 9 mil pessoas. Aparecido Inácio da Silva, presidente do sindicato, disse que a empresa também vai abrir, hoje, um PDV, programa de demissão voluntária, na unidade para funcionários horistas. A adesão ao PDV se estenderá até a terça-feira, 13.

De acordo com ele “a expectativa é a de uma adesão de em torno de 750 pessoas, que é o que a empresa considera como excedente. Os benefícios podem chegar a até cinco salários, dependendo do tempo de casa do funcionário”.

Na fábrica de São Caetano do Sul a GM monta o sedã Cobalt, a picape Montana e a minivan Spin. Silva disse que, por hora, são produzidos 46 carros, em dois turnos de trabalho.

“O que a empresa alega é que o mercado está em queda e não há produção que sustente esse número de empregados. Foram quatro reuniões com a diretoria para preservarmos postos de trabalho na unidade. A intenção inicial era a demissão do excedente.”

De acordo com dados da Anfavea, entidade que reúne as fabricantes de veículos, no mês passado a GM vendeu 24 mil 329 automóveis e 3 mil 316 comerciais leves e se manteve na liderança de mercado. Em 2016 os licenciamentos de veículos da empresa somaram 345 mil 886 unidades. Já a produção chegou a 334 mil 447. No ano anterior a empresa montara 361 mil 779 veículos.

O presidente do sindicato disse, ainda, que a empresa concederá férias coletivas para os funcionários da produção de 7 a 26 de março. Procurada, a GM não quis comentar o assunto.

Marcas importadas têm queda de quase 50% nas vendas

Mesmo o início do ano sendo um período tradicionalmente fraco para vendas o desempenho das marcas importadas foi ainda preocupante. As dezoito marcas afiliadas à Abeifa, Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores, comercializaram 1 mil 945 unidades em janeiro, queda de exatos 47% com relação a igual período de 2016.

Na comparação com dezembro o total de carros importados no primeiro mês de 2017 representou retração de 41,7%, segundo a entidade. Considerando o volume total de veículos emplacados no Brasil em janeiro, 143 mil 582 unidades, os importados tiveram participação de apenas 1,35%.

Como disse José Luiz Gandini, presidente da Abeifa, “os primeiros meses do ano são, historicamente, muito fracos, mas no caso dos veículos importados os baixos volumes de comercialização são preocupantes, sobretudo porque estamos contingenciados por sistema de cotas, até o limite de quatrocentas unidades por mês, ou 4,8 mil unidades anuais, sem os 30 pontos porcentuais”.

Há ainda o desempenho de marcas afiliadas à entidade que têm produção local. BMW, Chery, Land Rover, Mini e Suzuki venderam 973 unidades em janeiro, volume que representou queda de 33,9% com relação ao mês anterior. Comparado a janeiro de 2016 houve aumento de 53,5%, quando foram emplacadas 634 unidades nacionais.

Argentina incentiva autopeças. Mas isto pode não ser bom para o Mercosul.

A nova legislação para estimular a indústria de autopeças na Argentina tem tirado o sono de executivos do setor automotivo aqui no Brasil. Isso porque, pela nova regra, o governo daquele país dará benefícios fiscais para compras de produtos produzidos localmente. Esse desconto pode chegar a 15%, caso o conteúdo local dos carros fabricados na Argentina chegue a 50%. Hoje, o porcentual é de 35% a 40% para as picapes e em automóveis essa relação alcança 35%.

Gonzalo Dalmasso, especialista no setor automotivo da Argentina, contou que a intenção do presidente daquele país é reduzir os custos de produção quando comparados aos do Brasil. Segundo ele uma peça fabricada em unidades argentinas é 35% mais cara do que a mesma produzida aqui: “A medida compensará essa assimetria, e isto pode vir a estimular a indústria de autopeças da Argentina”.

Antônio Megale, presidente da Anfavea, defende simetria de posturas:

“Entendo a legitimidade de qualquer medida para incentivar a indústria de autopeças argentina, que foi sucateada nos últimos anos. Mas, acredito que, para o bem do acordo automotivo, os componentes fabricados no Brasil devem ter o mesmo tratamento tributário”.

A Argentina é atualmente o maior parceiro comercial das autopeças brasileiras, responsável por 28% das vendas externas. No ano passado foram exportados US$ 1 bilhão 84 milhões para as fabricantes e para as sistemistas instaladas naquele país, segundo dados do Sindipeças. Esse volume foi 25% menor no comparativo com 2015, em razão da queda de vendas de veículos dos mercados brasileiro e argentino.

Marcos Zavanella, presidente da Schaefller para a América do Sul, disse que somente as vendas de veículos no mercado argentino não suportariam investimento mais robusto em unidade produtiva. Segundo ele, no primeiro momento, a empresa está aplicando recursos para aumento da capacidade de estoque de peças no escritório local e em logística:

“Se o setor for fortalecido com essas medidas e pudermos ter uma sinalização clara da política do governo, podemos pensar em investimentos, mas ainda é muito precoce. Na verdade, as empresas não devem transferir para lá toda a linha de produtos, pois o volume é baixo”.

A empresa tem na Argentina o seu segundo maior mercado em reposição de peças na América do Sul. Toda a operação da companhia naquele país se concentra no aftermarketing, observou o gerente geral da empresa na Argentina, Carlos Gyorgy, que não revelou o volume exportado pela fábrica brasileira, para lá:

“Desde 2014 somos isentos do imposto de importação, por causa do acordo automotivo”.
Para Letícia Costa, sócia da Prada Assessoria, a nova legislação, de forma geral, é prejudicial para a indústria automotiva no Mercosul, pois não incentivará a melhora da competitividade da região:

“Qualquer medida que priorize um lado somente pode ser cobrada lá na frente pelo outro lado. O Brasil fez isso com o Inovar-Auto e não vimos melhora da competitividade brasileira nos últimos anos. Os investimentos no parque de autopeças na Argentina dependerão da estratégia de cada empresa, mas não há escala. O segmento nunca será forte na Argentina”.

Agência AutoData chega ao boletim número 4 mil

Hoje é dia especial para a AutoData Editora: chegamos ao boletim de notícias número 4 mil.

É um número relevante para o setor, pois há dezessete anos, de forma ininterrupta, entregamos diariamente um apanhado das informações do mundo automotivo para público cativo de milhares de pessoas.

Acreditamos no valor do conteúdo gerado nesses 3 mil 999 boletins como ferramenta importante para o acompanhamento da evolução dos negócios e de todos os acontecimentos relevantes da indústria automotiva brasileira.

Você, nosso leitor assíduo, certamente nota que, ao longo desses dezessete anos, muita coisa mudou. Mostramos as mudanças na economia que direcionaram os negócios no setor automotivo, a própria evolução da indústria, da engenharia nacional, do marketing, os investimentos em fábricas e produtos e a necessidade do consumidor, que mudou ao longo dessas quase duas décadas.

Neste exato momento o próprio Boletim AutoData de notícias está evoluindo. O primeiro passo foi dado na montagem de uma nova equipe. Profissionais com habilidades e conhecimentos distintos para oferecer um conteúdo ainda mais relevante para nossos leitores. Confira o perfil desses novos profissionais que a partir de agora passam a interagir com vocês por meio das reportagens diárias deste boletim:

Ana Paula Machado, editora executiva (amachado@autodata.com.br – com mais de dez anos de experiência no setor automobilístico, teve passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Brasil Econômico, O Globo e Folha de S. Paulo. Ana Paula também trabalhou nas revistas IstoÉ Dinheiro e Transpodata;

Aline Feltrin, repórter (alinefeltrin@autodata.com.br) – tem doze anos de carreira, em jornalismo e em relações públicas. Como repórter trabalhou nas revistas Transporte Moderno, Transporte Mundial, Automotive News e Quatro Rodas Frota, na revista Gestão & Negócios e na revista Pais & Filhos. Também foi repórter de veículos no Caderno de Caminhões do jornal Diário de S. Paulo. Em relações públicas trabalhou em coordenação e gerenciamento de equipes, e sua última experiência foi na Printer Press, na função de coordenadora de contas, sendo a maioria do setor automotivo; e

Bruno de Oliveira, repórter (bruno@autodata.com.br) – como repórter passou pelas redações do jornais DCI, América Economia e O Estado de S. Paulo, cobrindo diversos setores, como tecnologia da informação, telecomunicações, empreendedorismo. Em comunicação corporativa atendeu a clientes ligados à indústria, principalmente automotiva.

Ford supera metas de eficiência do Inovar-Auto

A Ford é a única montadora de grande volume que superou as metas de eficiência energética estipuladas pelo programa Inovar -Auto no período de 2012 a 2017. A afirmação é de Rogelio Golfarb, vice-presidente de Assuntos Corporativos da Ford América do Sul: “Para nós isso é um Oscar. Investimos pesado na questão da redução de emissões e melhoria energética nos últimos anos”.

Além da Ford apenas Nissan e Audi cumpriram as medidas estipuladas pelo Inovar-Auto.

Golfarb não revela pormenores sobre os índices, mas afirma que dentre as melhorias realizadas pela empresa nos últimos anos estão o motor de três de cilindros, usado no Ka, e a tecnologia Ecoboost, que engloba uma série de soluções como sistema de injeção direta de combustível e permite economia de até 20%.

“Temos uma engenharia nacional de ponta e nosso campo de provas em Tatuí também contribuiu para que alcançássemos esse importante resultado.”

Ele acredita que o apelo sustentável será um grande aliado na conquista de novos clientes, especialmente os mais jovens: “Cada vez mais o consumidor se preocupa e escolhe marcas que sejam responsáveis com a questão da sustentabilidade e, claro, com menores custos para o seu bolso. Nosso esforço se traduz em menor gasto de combustível e melhor qualidade do ar. Achamos que isso vai nos diferenciar daqui para frente”.

A aposta da Ford em sustentabilidade ganha contornos ainda mais importantes depois que a companhia perdeu a quarta posição no ranking de vendas nacionais em 2016. Essa foi a primeira vez em quarenta anos que a Ford não figurou como uma das quatro maiores. No ano passado, a Ford comercializou 180 mil 225 carros, 73 mil 389 a menos do que em 2015. A queda chegou a 29%, bem acima do mercado. Sua participação de mercado caiu de 10,2% para 9% e foi ultrapassada por Hyundai e Toyota.

Golfarb diz que com menos pessoas comprando carros as vendas diretas aumentaram de forma expressiva no ano passado. Para se ter uma ideia o índice encerrou 2016 em 33,6%, o mais alto já verificado no mercado. No ano anterior o volume fora 28,4%: “Tomamos a decisão deliberada de não participar da escalada das vendas diretas com o objetivo de proteger a rentabilidade do negócio”.

Apesar das vendas menores o executivo é otimista com relação à estratégia da empresa. Em pesquisas recentes realizadas com consumidores a Ford afirma que há melhorias relevantes na percepção dos consumidores com relação a marca:

“Às vezes a mudança de posição no ranking não conta tanto. Há algumas coisas que valem mais do que isso na cabeça do consumidor, principalmente dos mais jovens, que buscam mais conectividade e mudança de valores”.

Este ano a Ford aposta em lançamentos, sem revelar os segmentos escolhidos, e acompanha as projeções da Anfavea, associação que representa as montadoras, que espera um crescimento modesto do mercado.

“Esperamos por uma recuperação ligeira, que deve se concentrar no segundo semestre e resultar em um crescimento de cerca de 4% a 5% no ano. Ainda não vimos um ponto de inflexão da crise. Isso depende também da velocidade de transmissão da redução da Selic para o crédito na ponta.”

De volta ao passado. Enfim.

Empresários e executivos de alto coturno vem afirmando cada vez com mais frequência que abrem mão de qualquer subsídio em benefício de uma política econômica e industrial com regras fixas e vigência de longo prazo.

No setor automotivo, em particular, é um movimento que se iniciou há cerca de dois anos com Phillipp Schiemer, presidente da Mercedes Benz do Brasil, ganhou corpo no ano passado pela voz dos CEOs de várias montadoras de automóveis e, agora, neste início de 2017, começa a dar importante e decisivo passo além.

Na longa entrevista que concedeu para a edição de fevereiro da revista AutoData — que é especial, tem como tema “O Futuro da Industria Automobilística no Brasil”, dá inicio a comemoração dos 25 anos da editora AutoData e estará disponível para seus leitores em poucos dias – Antônio Megale, presidente da Anfavea, foi direto ao ponto.

Constatou que até como decorrência dos investimentos feitos em função do Inovar-Auto, as fábricas das montadoras instaladas no Brasil já estão, hoje, da porta para dentro, entre as mais eficientes do mundo. Todavia, quando expostos as deficiências estruturais do País, os produtos gerados a partir delas continuam perdendo quase que completamente seu poder de competição global.

Ou seja: as vésperas de se começar a definir o que virá depois do Inovar-Auto, que se encerra neste ano, o setor automotivo constata que sem que o País como um todo resolva seus problemas estruturais e, assim, também se torne mais eficiente, as montadoras permanecerão sem condições de enfrentar a competição externa. Seja para exportar ou, mais importante, para se defender das importações.

Megale não tem dúvidas de que em poucos anos o Brasil voltará a ser um dos maiores mercados de veículos do mundo, posição que havia alcançado em 2012 e que perdeu com a recessão dos dois últimos anos. “Precisamos, agora, criar as condições para conseguir nos colocar, também, entre os maiores produtores”, diz ele.

De fato, para o Brasil, de nada adianta ser um grande mercado caso ele tenha de ser abastecido predominantemente por veículos ou componentes importados de países mais eficientes – que é o que hoje provavelmente aconteceria caso fossem retiradas as barreiras tarifárias que agora protegem a indústria automobilística instalada no País.

Vale lembrar que o Inovar-Auto foi criado, há cerca de cinco anos, exatamente para interromper um galopante aumento da participação no mercado de veículos e de componentes importados – boa parte deles pelas próprias montadoras ou sistemistas.

Em parte, o programa funcionou. Atraiu várias novas montadoras e sistemistas, o que obrigou as empresas que aqui já estavam a investir pesado na modernização de suas próprias unidades industriais. Ou até a construir fábricas absolutamente novas, como foi o caso da Fiat, em Pernambuco.

Foi assim que chegamos a situação atual: do lado de dentro, nada a dever às fábricas instaladas na Europa, América do Norte ou Ásia. Todavia, toda esta modernidade e eficiência interna se esfacela quando se passa da porta para fora e se esbarra no Brasil real. No Brasil corroído por arcaicas legislações tributárias e trabalhistas, por desastrosa infraestrutura rodoviária, ferroviária e portuária, além de por doloridas entranhas nas quais a corrupção ainda se encarrega de abocanhar os melhores e maiores recursos que, de outra forma, iriam para a saúde, segurança e, mais que tudo, educação.

Foi tudo isto o que acabou provocando a atual mudança de tom das principais lideranças do setor automotivo. Está cada vez mais claro para todos que as reduções temporárias de impostos, juros artificialmente abaixo da inflação ou grandes compras do Estado só geram antecipações de compra. E, convenhamos, nada compromete mais o futuro de qualquer setor do que uma boa e aparentemente alegre antecipação de compra.

Pois bem: agora que qualquer carpete da Anfavea, do Sindipeças ou da Fenabrave já sabe que, com a estreita vigilância da OMC, a proteção alfandegária está com os dias contados, não há outra alternativa. Não adianta mais pensar exclusivamente na empresa. Não adianta mais pensar no setor em particular. É preciso, é fundamental, pensar no País como um todo.

Pode até parecer novidade, mas, na verdade, não é. Trata-se, na prática, de uma volta ao passado.

Quando a indústria automobilística começou no Brasil, em meados do século passado, os executivos das montadoras que aceitavam vir para ao Brasil sabiam que um de seus maiores desafios seria ajudar a transformar um país agrícola em industrial, sem o que não haveria como viabilizar a efetiva produção local de veículos.

Mais do que meros executivos, eram verdadeiros empreendedores que vinham para permanecer longo tempo, em muitos casos para o resto da vida, como foi o caso, entre tantos outros, de Wolfgang Sauer, que presidiu a Volkswagen, e Harold Uller Gessner, que comandou a Karmann Ghia. Eram assim, por definição, pessoas para as quais o longo prazo tinha no mínimo tanta importância quanto os resultados de curto prazo.

Com o tempo, o setor automotivo cresceu no Brasil, ganhou relevância internacional e, com isso, as subsidiárias brasileiras passaram a fazer parte da rota de subida de qualquer executivo interessado em ocupar, na matriz, postos no topo da cadeia hierárquica. O foco, então, passou a ser o resultado da empresa nos próximos três anos, o tempo médio de permanência no País antes da próxima promoção.

Finalmente, nos anos que se seguiram a crise financeira global de 2008, o que passou a contar, no Brasil e, a rigor, em todo o mundo, foi o resultado do final do trimestre, o momento de prestar constas aos acionistas. E com a permanência dos executivos no posto ou no próprio emprego sempre em risco, cada vez mais na dependência de números favoráveis.

Quando a estratégia está focada no curto prazo, qualquer medida que venha a ajudar a aumentar as vendas de cada dia é bem-vinda. Por mais que ela represente apenas mera antecipação de compra. Por mais que ela comprometa o futuro de médio ou de longo prazo.

No entanto, neste momento em que, sob a vigilância da OMC, o programa que deverá substituir o Inovar-Auto tem de ser construído com doses muito menores de proteção alfandegária, o foco necessariamente tem de mudar.

Volta-se, assim, enfim, aos velhos tempos. Volta-se a época que o governo nada fazia que pudesse prejudicar a indústria automobilística porque qualquer coisa que prejudicasse o setor prejudicaria também o País. E, de seu lado, a indústria automobilística nada fazia que pudesse comprometer o desenvolvimento futuro do País porque qualquer coisa que o prejudicasse afetaria, também, o futuro das montadoras.

Volta-se, em síntese, aos tempos em que todos têm de passar a pensar e se portar como estadistas. Todos têm de se preocupar com o País. Nem que seja por mera esperteza.