É inegável que o atual ambiente recessivo enfrentado pelo País traz diversos problemas para a indústria nacional. Um dos mais preocupantes é a capacidade de investimento prejudicada em novos produtos, tecnologias ou processos. É imprescindível, no entanto, e apesar de todas as dificuldades que precisam ser enfrentadas num período delicado como este, que as fábricas aqui instaladas continuem modernizando seus processos produtivos a fim de alcançar, em futuro breve, um grau de competitividade que, no mínimo, seja compatível com os demais países do mundo.
Este foi um dos temas centrais que nortearam os debates do Seminário de Manufatura Automotiva organizado na quinta-feira, 18, em São Paulo, pela AEA, Associação Brasileira de Engenharia Automotiva. “Hoje estamos dentro daquilo que pode se chamar de quarta revolução industrial”, avaliou Antonio Megale, presidente da Anfavea, durante sua apresentação no encontro. “Se no Brasil não avançarmos na direção da indústria 4.0, teremos de enfrentar grandes dificuldades de competitividade no futuro.”
Segundo Megale, as montadoras instaladas no Brasil ainda trabalham com a expectativa de que o mercado brasileiro tem potencial para voltar a ser um dos cinco maiores mercados do mundo. “Mas temos de trabalhar muito para que possamos usufruir disto, atuando como um grande polo industrial de veículos. Só conseguiremos isto se formos mais competitivos no futuro.”
“Já é muito claro para todos que se não trabalharmos com uma estrutura forte e competente, poderemos comprometer o futuro da produção no País”, afirmou Megale, alertando para o fato de que um dos principais gargalos do momento encontra-se na parte de baixo da cadeia produtiva, no chamado Tier 2.
“Nosso principal desafio hoje é encontrar os caminhos que possibilitem reestruturar o setor automotivo como um todo. Na questão dos fornecedores, por exemplo, precisamos pensar em como obter recursos de financiamento que possam ser contratados com juros acessíveis e, assim, possibilitar a inserção de toda a cadeia produtiva em um processo de modernização”, observou o presidente da Anfavea. “Estamos atentos a isto e conversando o tempo todo, tanto com o Sindipeças quanto com o governo para encontrarmos uma solução.”
O buraco, porém, pode ser mais profundo. Luiz Carlos Di Serio, professor da Fundação Getúlio Vargas, onde atua também como coordenador do Fórum de Inovação, mostrou que o Brasil, em apenas uma ano, perdeu dezoito posições no índice global de competitividade aferido pelo Word Economic Forum.
“Uma queda deste tamanho em um só ano é um caso único no mundo. E voltar a crescer pode ser complicado”, disse. Segundo Di Serio, muitos obstáculos precisam ser urgentemente resolvidos para possibilitar o retorno do investimento ao País. “Existem vários fatores, como a falta de credibilidade no governo, corrupção e falta de confiança no ambiente econômico que são analisados o tempo todo pelos investidores.”
O Brasil ocupa hoje a 75ª posição neste índice de competitividade global, com uma nota de 4,08. Em 2014, o País estava no 54º posto. Os cinco atuais primeiros colocados do ranking são, pela ordem, Suíça, Singapura, Estados Unidos, Alemanha e Holanda.