Nascimento planejado

Erguer uma fábrica de automóveis em meio a um grande canavial, em região sem tradição industrial e, consequentemente, sem nenhuma base fornecedora por perto, certamente não era tarefa fácil. O desafio era imenso: tudo tinha de partir do zero.

Mas com a inauguração do Polo Automotivo Jeep, efetivada na terça-feira, 28, os envolvidos no projeto avaliam que aquilo que a princípio parecia ser uma grande desvantagem acabou tornando-se um fator competitivo. A fábrica de veículos e seu parque de fornecedores foram concebidos juntamente, um diferencial que trouxe importantes ganhos logísticos e operacionais, de acordo com Stefan Ketter, vice-presidente mundial de manufatura da FCA, Fiat Chrysler Automobiles, responsável para construção do complexo industrial pernambucano.

Da padronização do uniforme, que veste sem distinção desde o operário do chão de fábrica aos diretores e a todos os envolvidos no projeto, ao maquinário de última geração com uso intensivo de robôs, o novo polo de Goiana, PE, é realmente inovador.

Seu parque de fornecedores é formado por dezesseis empresas que ocupam doze edifícios em área total construída de 270 mil m², responsáveis por dezessete linhas estratégicas que respondem por 40% da demanda de componentes.

O SUV compacto tem hoje 70% de nacionalização, índice que chegará a 80% dentro dos próximos meses. Os demais componentes vêm principalmente de Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco. Para integrarem-se ao parque os sistemistas tiveram de cumprir uma série de exigências, dentre as quais a compra de maquinário novo.

Ao fim o investimento total foi superior a R$ 2 bilhões, dos quais R$ 1 bilhão da FCA em obras civis e suporte de infraestrutura do parque de fornecedores, e mais de R$ 1,1 bilhão dos sistemistas em equipamentos. As obras começaram em janeiro de 2014 e as empresas fornecedoras iniciaram a pré-produção em Goiana no início do primeiro trimestre deste ano.

Atualmente o parque emprega 2,3 mil trabalhadores, número que até o fim deste ano – quando a produção estiver em ritmo pleno – atingirá 3,2 mil pessoas. A meta é produzir componentes ao ritmo de 30 veículos/hora, com projeção de chegar aos 45/hora ainda neste semestre.

De acordo com o diretor de gestão de projetos estratégicos da FCA, Antônio Damião, a estruturação do parque de fornecedores envolveu processo totalmente inédito:

“Ao contrário de como costuma ocorrer, primeiro foram definidas as linhas estratégicas de produtos e seus respectivos processos. Só depois partimos para a escolha dos fornecedores, elencando dezesseis dentre 29 candidatos, definindo na sequência e, em conjunto com os eleitos, os fluxos logísticos e leiautes para dimensionar seu tamanho”.

Dos cerca de dois mil novos itens que serão demandados pela montadora 450 serão fornecidos a partir do parque de fornecedores, o que representa, segundo Damião, “fluxo anual de mais de 27 milhões de operações logísticas do Supplier Park para a nova planta”.

CONDOMÍNIO – Como forma de garantir a harmonia do polo algumas áreas como relações trabalhistas, alimentação, segurança e assuntos legais são comuns. Um item inovador em todo esse processo foi a de uniformização dos funcionários: todos têm a mesma vestimenta, sendo impossível identificar nas linhas quem é operário ou engenheiro, por exemplo, apenas pela roupa.

Na fábrica do Jeep Renegade todos vestem calça e camisa polo na cor cinza, com um acabamento em branco com destaque para o logotipo Jeep. A proposta estende-se aos funcionários do parque dos fornecedores, que também se vestem de cinza – só que com o complemento de outras cores em substituição ao branco, na parte superior da blusa. No caso da Pirelli, por exemplo, é o vermelho, em outro fornecedor o azul ou verde e assim por diante.

MÃO DE OBRA – Assim como a FCA também os fornecedores têm priorizado a contratação de mão de obra local. Muitos dos contratados fizeram estágios nos países-sede das empresas para compartilhar conhecimento dentro das fábricas. De acordo com Alfredo Fernandes, diretor do parque de fornecedores, 63% da mão de obra local é de pessoas do Nordeste, a maioria de Pernambuco e da Paraíba, neste caso principalmente João Pessoa.

A previsão é a de que até 2016 os sistemistas empregarão perto de 5 mil funcionários.

Na fábrica da Jeep as mulheres respondem por 16% da força de trabalho, índice que chega a 24% nos fornecedores. Dentre as empresas que têm maior participação das mulheres a Lear mostra a forte presença delas na área de costura dos bancos. Além de entregarem peças e conjuntos diretamente para a fábrica do Renegade alguns sistemistas também têm intercâmbio de componentes.

Dentre as doze empresas presentes no parque estão a Adler Pelzer [componentes de acabamento interno e de isolamento acústico], Brose [sistemas das portas], Denso [sistemas térmicos], Lear [bancos], Pirelli [pneus], PMC [conjuntos soldados estruturais de chassis e das estruturas dos bancos], Revestcoat [tintas], Saint-Gobain [vidros] e Tiberina [conjuntos soldados estruturais de chassis].

As demais unidades produtivas, num total de dezesseis, são do Grupo Magnetti Marelli: MMH PCMA [soldagem e montagem de sistemas de produção, tanques plásticos, montagem do conjunto de pedais e sequenciamento do sistema de exaustão], MMH Suspension Assembly, MMH Suspension Welding, MM Stamping [estampagem de componentes estruturais e de suspensão] e MM Welding [soldagem de subchassi], além das joint ventures com a Faurecia [FMM] e com a Sole Prima [SPMM].

Michelin produzirá marca 25% mais barata no País

A Michelin trará uma nova marca de pneus radiais para ônibus e caminhões ao Brasil e aposta em preços 25% menores para atrair consumidores. A BFGoodrich, braço estadunidense da companhia de origem francesa, chega para tentar ganhar espaço fora do mercado premium, onde a Michelin continuará atuando.

A linha de pneus, que conta com três produtos, será importada da Polônia em um primeiro momento. Mas, de acordo com Feliciano Almeida, diretor de marketing e vendas de pneus de caminhão e ônibus da Michelin para América do Sul, a partir do segundo semestre dois modelos serão produzidos na fábrica de Campo Grande, RJ.

“Nos últimos anos preparamos a unidade da Michelin para fabricar a nova marca. Não precisaremos contratar mais funcionários, pois eles foram chamados gradativamente nos últimos meses para serem treinados. Desta forma ganharemos flexibilidade na unidade, o que é importante em momentos de retração do mercado como o que estamos passando.”

Ao menos no início a produção brasileira servirá para abastecer apenas o mercado local. “As exportações para a América Latina não estão nos planos por enquanto, uma vez que as configurações e tamanhos são diferentes.”

Almeida afirmou que o investimento para nacionalizar a marca BFGoodrich e produzir os pneus em solo nacional está dentro do pacote de € 1 bilhão anunciado pela Michelin para o Brasil no período de 2011 a 2016.

Segundo o executivo o principal chamariz para a nova marca está nos menores preços em relação aos Michelin. “Queremos atrair novos clientes, que podem usar a BFGoodrich como porta de entrada e acabar migrando para a Michelin em um segundo momento.”

Almeida afirmou que a maior parte dos novos clientes devem ser transportadores autônomos e frotistas pequenos e médios, que buscam produto com bom desempenho aliado a um baixo valor inicial. O executivo não revelou a durabilidade dos produtos e disse que a empresa ainda não realizou testes no Brasil.

“A BFGoodrich é conhecida por ser uma marca tradicional em competições. Nosso objetivo é trazer esse boa desempenho para os desafios das estradas brasileiras.”

Marchionne confirma mais dois produtos para Goiana

O CEO da Fiat Chrysler Automobiles, Sergio Marchionne, confirmou durante a cerimônia de inauguração do Polo Automotivo Jeep em Goiana, PE, na terça-feira, 28, que a fábrica receberá dois novos produtos nos próximos dezoito meses: um segundo da marca Jeep, que fará companhia ao Renegade, e um com emblema Fiat.

Ainda que o executivo não tenha oferecido outros pormenores sobre os novos produtos, sabe-se que serão dois utilitários. “Goiana não concorrerá com Betim [fábrica da Fiat em Minas Gerais] em produtos. A unidade de Pernambuco produzirá sempre produtos de segmentos superiores, que não têm sofrido tanto com o recuo do mercado.”

Questionado sobre a forte participação de bancos estatais no financiamento da obra, o executivo não perdeu a chance de rebater qualquer insinuação a benevolências oficiais em excesso: “O dinheiro do financiamento do governo federal tem juros, e estes serão pagos” – de acordo com discurso da presidenta Dilma Rousseff na cerimônia de inauguração da fábrica, foram concedidos créditos de PIS e Cofins até 2020. Segundo Marchionne, a FCA bancou diretamente de 20% a 25% do total investido em Goiana.

O executivo entende, quanto ao atual momento econômico do País, que “o Brasil superou como nenhum outro país a crise mundial de 2008 e 2009. Era momento de ajustes e portanto o mundo saberá aguardar o Brasil agora. Os brasileiros precisam se manter calmos, porque o País tem um grande potencial”.

Cledorvino Belini, presidente da FCA para a América Latina, acrescentou ver alguma possibilidade de recuperação do mercado interno no ultimo trimestre: “Tudo dependerá do aumento do índice de confiança do consumidor”. Caso ocorra, estimou, o índice de queda do ano poderá ser inferior ao estimado hoje – de 13%, no caso da Anfavea.

O CEO global, entretanto, lembrou que “as condições de exportação do Brasil não permitem grandes sonhos”. Para ele, “a competitividade é prejudicada por questões tributárias, como impostos embutidos não recompensáveis no momento dos embarques”.

Durante a inauguração Marchionne comemorou os recentes números da Jeep em termos globais: as vendas cresceram 22% no primeiro trimestre, em boa parte graças aos resultados do Renegade na Europa. O CEO recordou que até o fim do ano mais uma fábrica da marca será inaugurada, desta vez na China, para produção de dois modelos. A capacidade total da unidade brasileira é de 250 mil unidades, mas segundo Stefan Ketter, VP mundial de manufatura da FCA e responsável pela construção de Goiana, há espaço físico suficiente para uma expansão a até 600 mil unidades/ano.

Quanto a possíveis negociações globais da FCA com a PSA Peugeot Citroën, Marchionne disse apenas que estudos são frequentes e que sempre têm como diretriz a rentabilidade. E aproveitou a oportunidade para brincar: “O fato do Carlos Tavares [CEO global da PSA] falar português pode ser uma vantagem”.

Sindipeças participa da Automechanika Johannesburg

Pela primeira vez o Sindipeças participará da Automechanika Johannesburg, mostra de autopeças da principal cidade da África do Sul. Um estande coletivo reunirá 21 empresas brasileiras que buscam oportunidades naquele país – e no continente africano – durante o evento que ocorrerá de 6 a 9 de maio, no Pavilhão 6 do Johannesburg Expo Centre.

Segundo Antônio Carlos Bento, conselheiro do Sindipeças responsável pela área de Feiras e Eventos, a mostra em Jo’burg é uma vitrine para a África do Sul e os demais países da região. Em nota, ele afirma que os expositores poderão encontrar clientes, prospectar novos compradores e observar tendências para o setor.

“Por isso decidimos participar pela primeira vez. O mercado externo é muito importante para o nosso setor e estamos em um momento favorável ao fomento das exportações, em virtude do desaquecimento do consumo doméstico e da desvalorização cambial”.

A última edição, em 2013, recebeu 10,6 mil visitantes durante os quatro dias. Foram 643 expositores de 23 países diferentes.

De acordo com a Naamsa, a associação das montadoras da África do Sul, no primeiro trimestre foram vendidos 113,3 mil veículos no país, queda de 29% com relação a igual período de 2014.

No ano passado os sul-africanos consumiram 644,5 mil unidades, 1% abaixo do volume comercializado em 2013, de acordo com dados da Oica, organização global que representa as associações de montadoras nacionais. A produção cresceu 3,7%, para 566,1 mil veículos.

O mercado é o mais relevante do continente africano, com quase o dobro do volume do segundo – o Egito, que encerrou o ano passado com 350 mil unidades consumidas.

O estande coletivo do Sindipeças na feira será composto pela ABR, Autolinea, Autotravi-Metalmatrix, Chiptronic, Controil, Duroline, Farj, Fras-le, Fremax, Frum, Fundição Batatais, Master Power, Reserplastic, Riosulense, Sampel, Schadek, Suporte Rei, Suspensys, Tecfil, Univel e Urba-Brosol.

A participação brasileira é coordenada pelo programa Brasil Auto Parts, uma parceria do Sindipeças com a Apex-Brasil. Iniciativa semelhante ocorrerá um mês depois, quando autopeças brasileiras participarão de feira na Colômbia.

Inaugurado o Polo Automotivo Jeep de Goiana, Pernambuco

Com a presença da presidenta da República Dilma Rousseff e de vários governadores do Nordeste, além de Sérgio Marchionne, CEO mundial da Fiat Chrysler Automobiles, a FCA, e John Elkann, presidente do conselho do sétimo maior conglomerado automotivo do mundo, foi inaugurada na terça-feira, 28, a unidade fabril de Goiana, Pernambuco. O evento reuniu cerca de dois mil convidados e apenas formalizou o que já aconteceu, de fato, há cerca de dois meses, mais precisamente em 19 de fevereiro: o íniciou de produção do Jeep Renegade, primeiro modelo a sair da linha de montagem.

O complexo, batizado de Polo Automotivo Jeep, ocupa mais de 500 mil metros quadrados de área de construída e, além de fábrica de veículos, abriga dezesseis fornecedores. Tem capacidade produtiva de 250 mil unidades anuais e consumiu  investimentos de R$ 7 bilhões, dos quais R$ 3 bilhões na fábrica Jeep, R$ 2 bilhões no parque de fornecedores e o restante em desenvolvimento de produtos. Contará com cerca de 9 mil funcionários até o fim do ano, 3,3 mil deles na fábrica de veículos e o restante nos fornecedores e serviços comuns.

De mãos dadas a presidenta, juntamente aos executivos e autoridades, acionou simbolicamente as gigantescas prensas, marcando o ato da inauguração. Em seu discurso, enfatizou a importância do complexo industrial para a economia do Estado e da região e o papel do governo federal no financiamento do novo polo – o custo total do projeto, afirmou Dilma, supera os R$ 10 bilhões, incluindo obras de infraestrutura na região, sendo que dois terços deste valor foram financiados pelo BNDES, Banco do Brasil e Banco de Desenvolvimento do Nordeste. 

A presidenta da República aproveitou a solenidade para anunciar que na segunda-feira, 27, foi aprovada a licença prévia ambiental que permitirá ao governo federal, finalmente, abrir licitação para o trecho rodoviário da BR-101 que circundará a região metropolitana de Recife e ligará o Norte do Estado, onde está o polo Jeep, até o porto de Suape, de onde os veículos serão embarcados para mercados internos e exportação.

Até a conclusão da obra, ainda sem data definida, os modelos produzidos pela FCA em Goiana seguirão em cegonheiras por longo trecho urbano, o que dificulda a logística. O transporte das primeiras unidades tem sido feito apenas no período noturno, em função do grande tráfego na região de Olinda, Paulista e Abreu e Lima, municípios da Grande Recife.

A FCA tem mais dois veículos para entrar em produção na nova fábrica até o fim de 2016. Além do SUV compacto, cujas vendas começaram há poucos dias, sairão de Goiana ainda este ano uma inédita picape média Fiat – já vista inclusive rodando nos arredores da fábrica pernambucana durante o evento – e, no ano que vem, outro modelo Jeep. Oficialmente, contudo, a montadora não confirma quais serão os veículos.

“Este foi também o projeto mais complexo já feito na história da companhia, considerando o objetivo de construir não somente uma fábrica de automóveis, mas de incluir em seu perímetro um parque de fornecedores de classe mundial”, afirmou Stefan Ketter, vice-presidente mundial de manufatura da FCA, que coordenou o projeto e a construção do complexo.

O Renegade já sai da linha com índice de nacionalização de mais de 70%. Nos próximos meses, diz a FCA, esse índice de localização deve superar 80%, porcentual que será perseguido também nos demais veículos a serem fabricados em Pernambuco. Apenas os fornecedores internos ao perímetro da fábrica já fornecem cerca de  40% dos conteúdos. Os demais têm origem em São Paulo, Minas Gerais e outros Estados – os investimentos no parque de fornecedores foram compartilhados com a FCA. A empresa investiu R$ 1 bilhão em obras civis e utilidades e os fornecedores mais R$ 1 bilhão em equipamentos.

Quatro modelos brigam pela liderança de vendas em abril

A disputa pela liderança de vendas por modelo em abril no mercado brasileiro está acirradíssima: nada menos do que quatro modelos disputam diretamente a ponta do ranking – e somente cerca de duzentas unidades separam o primeiro do quarto colocado até a segunda-feira, 27, restando três dias úteis até o fechamento definitivo do mês, da terça, 28, à quinta, 30.

O Hyundai HB20 ainda é o ponteiro no período, repetindo o resultado da primeira quinzena. O hatch da montadora de origem sul-coreana registra, até o dia 27, 7,3 mil emplacamentos de acordo com dados preliminares do Renavam obtidos pela Agência AutoData.

Mas o modelo vê rivais diretos muito próximos: os Fiat Palio e Strada somam, no mesmo período, 7,1 mil emplacamentos cada, idêntico resultado do Chevrolet Onix. Assim, qualquer um deles pode encerrar o mês à frente – o que para os modelos da Hyundai e da GM representaria um feito inédito.

Ao término da primeira metade do mês o HB20 acumulava quatrocentas unidades de vantagem para o Onix e quinhentas para o Palio e a Strada.

Bem distante da disputa está o VW Gol, que aos poucos se recupera no ranking dos mais vendidos, em quinto com 6,2 mil. Completam os dez primeiros o Uno, com 6,1 mil, Ka, 5,9 mil, Corolla, 4,8 mil, Prisma, 4,7 mil, e Sandero, também com 4,7 mil.

Mais uma vez destaque para o Honda HR-V, que no primeiro mês cheio de comercialização já soma 4 mil emplacamentos no período, o que lhe confere a 13ª. posição no geral. Além de registrar número bem acima dos concorrentes diretos – ainda que seja muito cedo para análise mais aprofundada de seu desempenho comercial –, seu volume é superior ao de modelos bem mais baratos, como Fiat Siena, 3,9 mil, Hyundai HB20S e VW Voyage, 3,7 mil, e VW Up!, 3,2 mil. O SUV compacto será certamente o Honda mais vendido de abril, pois o Fit, modelo da marca mais próximo na tabela, registra até a última segunda-feira 2,8 mil emplacamentos.

Anfavea cobra maior previsibilidade do governo

A Anfavea acredita que o pior já passou para o segmento de caminhões. Em apresentação no Workshop AutoData Tendências Setoriais – Caminhões, na tarde da segunda-feira, 27, no Milenium Centro de Convenções, em São Paulo, o vice-presidente da associação, Luiz Carlos Moraes, afirmou acreditar em retomada do mercado – entretanto condicionada à aprovação do ajuste fiscal do governo.

“Acreditamos que todas as ações do governo, aliadas à baixa confiança do consumidor e mudanças nos financiamentos, provocaram um adiamento na compra do caminhão. Essa dificuldade permanecerá enquanto o governo não aprovar o ajuste fiscal. Mas, passada esta etapa, a confiança será retomada.”

As projeções divulgadas por Moraes foram as mesmas apresentadas pelo presidente Luiz Moan na última entrevista coletiva à imprensa, no começo do mês: queda de 32% nas vendas de caminhões e ônibus, para 113 mil unidades – o setor de caminhões, isoladamente, responderia por 90 mil unidades em 2015.

Será um ano de patamares baixos. De 2005 ao ano passado a média de licenciamentos do segmento alcançou 113 mil unidades, segundo cálculos da Anfavea. “Estamos em um patamar alto de vendas [na média], porém com volatilidade”.

Moraes cobrou do governo maior previsibilidade, principalmente com relação aos financiamentos. Ele citou como exemplo a situação do Finame PSI nos últimos dois anos, cuja regulamentação saiu apenas ao fim do primeiro bimestre, prejudicando dois meses de vendas.

“Não podemos trabalhar com essa insegurança: as coisas precisam ser mais previsíveis. As indefinições são ruins para os clientes, para os bancos, para a rede de concessionárias, para os implementadores e para a indústria. A previsibilidade é fundamental.”

O vice-presidente da Anfavea abordou também o programa nacional de renovação de frota que, segundo seus cálculos, poderia alavancar a venda de cerca de 30 mil caminhões por ano. Ele evitou, entretanto, afirmar se o programa sai ainda este ano.

Outro ponto lembrado por Moraes foi a agenda positiva que o governo pretende começar a adotar – o dirigente salientou que nas projeções da associação não há nenhuma compra governamental prevista. “Essa agenda positiva pode trazer benefícios para o setor, pois para construir aeroportos, ferrovias etc., caminhões são necessários. A infraestrutura demanda caminhão.”

Fim da greve M-B Moraes é também diretor de comunicação e relações institucionais da Mercedes-Benz e, ao fim de sua apresentação no Workshop AutoData, atendeu à reportagem da Agência AutoData para abordar a greve na unidade do ABCD da montadora, iniciada na quarta-feira, 22.

A paralisação terminou na segunda-feira, 27, após a montadora anunciar novo lay-off para 750 funcionários. Os 500 colaboradores que teriam os contratos de trabalho encerrados a partir de 4 de maio continuarão na empresa pelo menos até 15 de junho, com todos os custos arcados pela companhia, segundo Moraes. A eles se unirá grupo de 250 funcionários, que possuem estabilidade no emprego, que ficarão em lay-off até 30 de setembro.

Além disso, Moraes afirmou que a M-B abriu novo programa de demissão voluntária, PDV, na unidade do ABCD na própria segunda-feira, 27. “Até 15 de maio todos os trabalhadores podem aderir. Quem estiver de lay-off, sem estabilidade, recebe R$ 55 mil adicionais aos direitos trabalhistas. Os funcionários com estabilidade que quiserem aderir terão negociação caso a caso.”

Moraes afirmou que a M-B decidiu rever o fim dos contratos após negociações com o sindicato. “Mantivemos um diálogo constante e estamos em busca de novas alternativas para controlar o excedente na unidade, que é de 1,2 mil pessoas.”

Segundo comunicado do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC já há uma nova negociação marcada para 18 de maio. “Vamos avaliar o PDV. Se o resultado der conta de administrar o excedente, estará resolvido. Se não, haverá nova negociação e a mobilização será retomada com a mesma força”, afirmou em nota o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre.

Média diária de vendas de caminhões verá recuperação a partir de maio

Cerca de sete mil caminhões serão comercializados por mês no País a partir de maio. Esta é a previsão compartilhada por Ricardo Alouche, vice-presidente de Vendas, Marketing e Pós-Vendas da MAN Latin America, e Gilson Mansur, diretor de Vendas de Caminhões da Mercedes-Benz.

Ambos participaram de painel do Workshop AutoData Tendências Setoriais – Caminhões, realizado na segunda-feira, 27, no Milenium Centro de Convenções, em São Paulo, e nele afirmaram crença de melhora no cenário a partir do próximo mês.

“A média de vendas dos primeiros três meses deste ano ficou na faixa de 5,5 mil a seis mil caminhões. Parece pouco subir para sete mil, mas se conseguirmos chegar a este patamar já será um bom avanço”, avaliou Alouche.

A previsão um pouco mais otimista dos executivos está embasada em uma possível retomada no segmento de construção civil e na manutenção das taxas do programa Finame PSI.

“O que faltou até agora foi previsibilidade e esperamos que isso comece a mudar. Depois do episódio da Petrobras as companhias devem começar a tomar novos rumos e voltar a fazer negócios”, disse Mansur.

De acordo com Alouche “já não existe mais a expectativa que a taxa do Finame irá cair. Isso é bom, uma vez que essa possibilidade estava adiando as compras”.

Para o total deste ano os executivos esperam vendas no patamar de 80 mil a 85 mil unidades, abaixo portanto da expectativa da Anfavea, de 90 mil unidades. “Esse volume representa o tamanho do nosso mercado ao menos nos próximos dois anos, quando ainda estaremos passando por ajustes. Esperamos retomar o patamar dos bons tempos a partir de 2018”, avaliou Mansur.

Os executivos das duas montadoras de caminhões também apostam na iniciativa da Anfavea, Fenabrave e Abac, que prevê estimular os consumidores que já tem consórcios contemplados a retirarem o veículo. No caso de caminhões são cerca de 15 mil veículos em potencial, segundo cálculos dos executivos.

Segundo Alouche convencer os consumidores é um trabalho pontual. “Grande parte deles ainda não comprou o caminhão porque está sem serviço ou porque usa a carta como forma de investimento. O trabalho dos nossos vendedores será encontrar as exceções.”

Vendas de implementos pesados devem recuar 33% neste ano

As vendas de implementos pesados devem acompanhar a tendência de queda observada no segmento de caminhões e encerrar o ano em baixa. Segundo o presidente da Anfir, Alcides Braga, devem ser comercializados cerca de 40 mil reboques e semirreboques no País em 2015, ante 60 mil no ano passado – retração de 33%.

Braga revelou a projeção durante o Workshop AutoData Tendências Setoriais – Caminhões, realizado na segunda-feira, 27, no Milenium Centro de Convenções, em São Paulo. De acordo com o executivo mesmo com a baixa esperada o segmento ainda continua com um bom desempenho.

“O Brasil orbita na faixa de 50 mil reboques e semirreboques anuais. Se calcularmos a média de 2011 a 2014 temos 62 mil unidades. Ainda que a projeção de 2015 se concretize teremos uma média de 52 mil unidades nos últimos quatro anos, e isso ainda é bom número.”

O presidente da Anfir ressaltou o esforço da indústria para evitar demissões, em momento que os estoques chegam a cerca de dois meses. “A maioria das empresas está usando a bola de cristal e produzindo as formatações mais comuns na expectativa de que as vendas sejam retomadas. É uma tentativa para reduzir a ociosidade nas fábricas. O segmento, que sempre trabalhou por encomendas, agora se vê obrigado a produzir antes mesmo de vender.”

Pelos cálculos do dirigente a força de trabalho do setor já caiu 20% desde o final de 2014. “Há muitas medidas de flexibilização em andamento, mas as empresas ainda falam em mão de obra excedente.”

Cesar Pissetti, diretor de Marketing e Exportação da Randon, também participou do painel, no qual confirmou que o cenário é de dificuldades: “Estou há 42 anos na Randon. Passei pela concordata em 1982 e fazia muito tempo que não vivíamos um momento tão delicado”.

O diretor completou afirmando que os negócios na Argentina, onde a companhia mantém operação, estão ainda mais complicados. “Quem reclama do Brasil não imagina como é difícil na Argentina.”

Uma das saídas da Randon foi ampliar o foco nas exportações. Segundo o executivo 70% dos implementos exportados no País atualmente são da companhia: “Nós não priorizamos o mercado interno nem quando a situação aqui está favorável. Contamos com o mercado externo em todos os momentos e cultivamos nossos clientes. Em épocas como esta, isso é valioso.”

Apesar do momento complicado os dois executivos preveem o inicio de uma retomada no segundo semestre. Braga afirmou que manteve conversas com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, e disse que ele “afirmou de forma subliminar” que haverá um PAC 3. “Seriam demandados cerca de 2,5 mil caminhões e isso nos ajudaria muito.”

Já Pissetti aposta na realização da Fenatran como uma forma de reanimar a indústria. “É um lugar de rever amigos e de cultivar o otimismo.” Braga garantiu que 40 empresas do segmento já confirmaram presença na feira, que acontece em novembro.