AutoData - Nascimento planejado
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29/05/2015

Nascimento planejado

Por Alzira Rodrigues

- 29/05/2015

Erguer uma fábrica de automóveis em meio a um grande canavial, em região sem tradição industrial e, consequentemente, sem nenhuma base fornecedora por perto, certamente não era tarefa fácil. O desafio era imenso: tudo tinha de partir do zero.

Mas com a inauguração do Polo Automotivo Jeep, efetivada na terça-feira, 28, os envolvidos no projeto avaliam que aquilo que a princípio parecia ser uma grande desvantagem acabou tornando-se um fator competitivo. A fábrica de veículos e seu parque de fornecedores foram concebidos juntamente, um diferencial que trouxe importantes ganhos logísticos e operacionais, de acordo com Stefan Ketter, vice-presidente mundial de manufatura da FCA, Fiat Chrysler Automobiles, responsável para construção do complexo industrial pernambucano.

Da padronização do uniforme, que veste sem distinção desde o operário do chão de fábrica aos diretores e a todos os envolvidos no projeto, ao maquinário de última geração com uso intensivo de robôs, o novo polo de Goiana, PE, é realmente inovador.

Seu parque de fornecedores é formado por dezesseis empresas que ocupam doze edifícios em área total construída de 270 mil m², responsáveis por dezessete linhas estratégicas que respondem por 40% da demanda de componentes.

O SUV compacto tem hoje 70% de nacionalização, índice que chegará a 80% dentro dos próximos meses. Os demais componentes vêm principalmente de Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco. Para integrarem-se ao parque os sistemistas tiveram de cumprir uma série de exigências, dentre as quais a compra de maquinário novo.

Ao fim o investimento total foi superior a R$ 2 bilhões, dos quais R$ 1 bilhão da FCA em obras civis e suporte de infraestrutura do parque de fornecedores, e mais de R$ 1,1 bilhão dos sistemistas em equipamentos. As obras começaram em janeiro de 2014 e as empresas fornecedoras iniciaram a pré-produção em Goiana no início do primeiro trimestre deste ano.

Atualmente o parque emprega 2,3 mil trabalhadores, número que até o fim deste ano – quando a produção estiver em ritmo pleno – atingirá 3,2 mil pessoas. A meta é produzir componentes ao ritmo de 30 veículos/hora, com projeção de chegar aos 45/hora ainda neste semestre.

De acordo com o diretor de gestão de projetos estratégicos da FCA, Antônio Damião, a estruturação do parque de fornecedores envolveu processo totalmente inédito:

“Ao contrário de como costuma ocorrer, primeiro foram definidas as linhas estratégicas de produtos e seus respectivos processos. Só depois partimos para a escolha dos fornecedores, elencando dezesseis dentre 29 candidatos, definindo na sequência e, em conjunto com os eleitos, os fluxos logísticos e leiautes para dimensionar seu tamanho”.

Dos cerca de dois mil novos itens que serão demandados pela montadora 450 serão fornecidos a partir do parque de fornecedores, o que representa, segundo Damião, “fluxo anual de mais de 27 milhões de operações logísticas do Supplier Park para a nova planta”.

CONDOMÍNIO – Como forma de garantir a harmonia do polo algumas áreas como relações trabalhistas, alimentação, segurança e assuntos legais são comuns. Um item inovador em todo esse processo foi a de uniformização dos funcionários: todos têm a mesma vestimenta, sendo impossível identificar nas linhas quem é operário ou engenheiro, por exemplo, apenas pela roupa.

Na fábrica do Jeep Renegade todos vestem calça e camisa polo na cor cinza, com um acabamento em branco com destaque para o logotipo Jeep. A proposta estende-se aos funcionários do parque dos fornecedores, que também se vestem de cinza – só que com o complemento de outras cores em substituição ao branco, na parte superior da blusa. No caso da Pirelli, por exemplo, é o vermelho, em outro fornecedor o azul ou verde e assim por diante.

MÃO DE OBRA – Assim como a FCA também os fornecedores têm priorizado a contratação de mão de obra local. Muitos dos contratados fizeram estágios nos países-sede das empresas para compartilhar conhecimento dentro das fábricas. De acordo com Alfredo Fernandes, diretor do parque de fornecedores, 63% da mão de obra local é de pessoas do Nordeste, a maioria de Pernambuco e da Paraíba, neste caso principalmente João Pessoa.

A previsão é a de que até 2016 os sistemistas empregarão perto de 5 mil funcionários.

Na fábrica da Jeep as mulheres respondem por 16% da força de trabalho, índice que chega a 24% nos fornecedores. Dentre as empresas que têm maior participação das mulheres a Lear mostra a forte presença delas na área de costura dos bancos. Além de entregarem peças e conjuntos diretamente para a fábrica do Renegade alguns sistemistas também têm intercâmbio de componentes.

Dentre as doze empresas presentes no parque estão a Adler Pelzer [componentes de acabamento interno e de isolamento acústico], Brose [sistemas das portas], Denso [sistemas térmicos], Lear [bancos], Pirelli [pneus], PMC [conjuntos soldados estruturais de chassis e das estruturas dos bancos], Revestcoat [tintas], Saint-Gobain [vidros] e Tiberina [conjuntos soldados estruturais de chassis].

As demais unidades produtivas, num total de dezesseis, são do Grupo Magnetti Marelli: MMH PCMA [soldagem e montagem de sistemas de produção, tanques plásticos, montagem do conjunto de pedais e sequenciamento do sistema de exaustão], MMH Suspension Assembly, MMH Suspension Welding, MM Stamping [estampagem de componentes estruturais e de suspensão] e MM Welding [soldagem de subchassi], além das joint ventures com a Faurecia [FMM] e com a Sole Prima [SPMM].


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